V. Sabrinas...
VELHAS SABRINAS
Calçou as rotas e desbotadas Sabrinas
Alongou-se num suave “espreguiçando”
Carregou solene, recuperado gramofone
Girou um disco, dos primórdios do vinil
Um Jeté sustentado em pernas tremidas
Antes dum Assemblé frágil, e sonhando
Largou no sofá o seu barato headphone
E esqueceu-se de vez que já estava senil
Fraquejou num súbito reumático caniço
Já adoentada por tantas danças na vida
Estatelou-se, como uma morsa no chão
Largando longo grito que queria abafado
Não deitou culpas ao soalho, ao enguiço
Nem à falta declarada da força já perdida
Muito menos ao recente e encerado chão
Que sabia estar o Pás de Deux acabado.
Arrastou-se sofrida até ao triste cadeirão
Nas mãos segura o novo telefone sem fios
Disca todos os números que sabia de cor
Pensando que ligava para o cento e doze
Sentiu falhar o pacemaker e o seu coração
Misturando alucinações a estranhos risos
Ao escutar de lá a voz de um antigo amor
Que lhe diz olá minha querida doce Rose
Entre a singular Fonteyne e Maurice Brejat
Evoluíram desde Sol sustenido ao Mi Bemol
Et de la pirouette au tempe un deux et trois
E dum mon amour ao já clássico je t´’aime
E quando desligaram, já bastante “trop tard»
Parecendo a lua segredar ao escaldante sol
Ele contestou com oui mon’ amour je croix
Sem escutar, c’est ça il est’encore, le même
Cito
26 de Agosto 2010
(Havemos de lá ir)
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