segunda-feira, agosto 31, 2015

Viajar no tempo...



MAR DE PALHA

Viajei num navio carregado de letras;
_ palavras misturadas a granel
permitem com estranhas frases
fazer centos de poemas…sem versos
- Nova literatura das teclas pretas!
CD’s Rom Pixes “Intel”!
- Estou na facebook às 6, não te atrases…
tenho novidades dos teus processos.
- É a poesia em poético delírio
das linhas que terminam com “utopia”
aragem que acaricia rijos seios,
e dos cabelos esvoaçados ao vento!

_ Vem o sóbrio e diz, a guerra é um martírio
outro contrapõe, o carnaval é prá folia
a mais jovem, queixas de falta de meios
a velhota c’ netos, escasseia-me o tempo.
- E o poeta demanda aos céus em escritura
alívio, pois é tanta a amargura
saber de pensamentos com erros de ortografia!
‑ e sem que se aperceba do final da poesia
“filosofo” chora a dor que o talha
extraindo balas deitado num mar de palha


Cito Loio 
6 e 7 de Setembro 2012

domingo, agosto 30, 2015

ENGANAR A MORTE



Há 42 anos, antes de ter optado por envergar a farda do exército português em detrimento da deserção, tinha a convicção que nunca chagaria ao século 21.
Às portas dos 62 anos (aos políticos em particular e ao povo português em geral) peço desculpa por ter vivido tanto tempo


DESCULPEM TER ENGANADO A MORTE

 Repudiando no pretérito actos de leviandade,
limei ásperas arestas, poli a personalidade
reformulado carácter, e descuidado quem elegia
desemboquei em caminhos que desconhecia;
_ Sofrendo rasteiras nos derradeiros campeonatos
joguei-ma incontornáveis reptos sem ultimatos.

A cada folha fui escrevendo inverosímil história,
atraiçoando, imperdoável, a própria memória
pintando páginas de sangue a ferro e fogo.
- Repelindo encardida roupagem de bobo
embranqueci o vestuário com sabão clarim
e em continência à bandeira feri-me no fim.

Irónico, agradeço os tributos e condecorações,
reconhecimento pátrio de por entre explosões
(ainda em jovem) ter-me exposto à sorte,
pedindo ao povo desculpas por ludibriar a morte.
- Um dia, sabe-se lá, o estado pague o enterro
ou aponte-me inevitável o caminho do desterro.


Cito Loio
…de Agosto de 1975 a Agosto de 2015

sexta-feira, agosto 28, 2015

Heróis há muitos...









HERÓI QUEM




Herói é ter à cabeça uma G3 apontada
dizer «dispara que não te trema o dedo»,
sorrir ante uma travessa de fome
calando angústias de menino faminto,
embarcar ao colo (a troco de nada)
animais, colocando em risco o emprego,
gritar «por aqui que o chão me tome
qual vento frio se já nada sinto!»
- É mergulhar num poço nojento
arrancar sanguessugas ferida a pele
calado para evitar ser metralhado
por um bando de elogiados assassinos,
definhar aos poucos calando ‘sofrimento
sem ter quem por ele um dia reze;
_ é encomendar o caixão e pago
deixar proibido que lhe toquem sinos.

Herói é arriscar a própria vida pelo cão
procurá-lo, já sem pulgas, por vielas
sob uma chuva de tiros no Catambor,
apagar charros e nas noites de verão
subir às guaritas sem sentinelas
dando o peito às balas por amor (!)
-É salvar uma vida estendendo a mão
sem poses de artista de telenovela
imagens de vídeo amador de ocasião;
- é conviver com a miséria num 4º andar
medir o pulo debruçado à janela
optar viver por ti quando fácil era saltar!


Cito Loio
De Agosto de 1975 a Agosto de 2015
23-24/7/2015

Partiria contigo...


Avé, Avé


Dura Memória

DURA MEMÓRIA


Se alguma vez vier a ser Proveniência,
uno o pólo Sul ao pólo Norte, e ajoelhado,
perante a campa rasa de minha mãe
redesenho o Universo traçando barreiras
entre a verdade e a mentira vendida;
_ pego depois, do Poeta sem engenho ou arte
a pena, por preso a um outro amor ardente
que nos meus olhos ninguém o pode ver
e a dura memória o vai extremando na alma.

Bastar-me-á dela a excelsa paciência,
por saber-me libertino e de olhar cegado
ir por outras existências, neutralizar também
os anos, acabados amores em bebedeiras,
misturando a saudade à crença perdida
agarrado a corpos por uma qualquer parte,
e tropeçado em sorrisos ver-me ‘incontente’
findar pelo o novo sonho que voltei a ter
cuidando que me daria na morte a calma.

Pretendido, dei-me sem grilhetas peito aberto
e concluí, crendo ver-me amado pelo que sou,
a honra do comprometimento não bastou.

Basta por ora o silêncio e as noites desperto
para mudar o amanhã que está por vir,
e com infalibilidade, desejado, voltar a servir


Cito Loio
Sem data



quarta-feira, agosto 26, 2015

Chinco...oubiste!




O que vos apresento destina-se a todos os políticos que militam nos partidos políticos, da extrema-esquerda à direita radical para que possam na medida da inteligência colectivo/partidária assacar o que no fundo está no conto que sustenta UMA DAS MAIORES CRITICAS que até à presente data dirigi à política, pretendendo também ser homenagem a todas e todos que de alguma forma dedicaram a sua vida às crianças.



JÁ CHINCO 

***

Assobiava e cantarolava ao mesmo tempo um êxito do passado; a música que vencera o festival do concurso de canções portuguesas para a Eurovisão, interpretada por Eduardo Nascimento “O vento mudou” – Ela quis viver e o mundo correu-a…prometeu voltar se o vento mudar – a verdade é que não voltara, mas Joaquim Simulação apresentava-se contentíssimo naquela segunda feira que obstante nada ter de santa seria um dos primeiros 5 dias da semana que viveria com a graça do Senhor e as diabruras da neta.

Viúvo da sua amadíssima Berenda Merecida do Céu, ia para 11 anos, reformado da empresa DAE-Ldª (Depuração de Águas e Esgotos) e, como costumava brincar, de almas, usufruindo uma reforma acumulada ao logo de décadas de servidão bem superior ao que a maioria dos activos auferia, dando para apoiar a sua única filha, casada com um contador de contadores de água, numa recente empresa criada para o efeito, ela trabalhadora num escritório de angariação de profissionais no desemprego inscritos na SS e que não se importassem de se esquecerem passar recibos da cor da esperança, até por ser contraditório a cor ao que esperava quem se visse nestas andanças de ‘por conta de outrem que por sua vez fugiam aos impostos como o diabo foge da cruz, se bem que a de Cristo era muito mais pesada, e que no fundo recebiam abaixo do salário mínimo, também ela no mesmo regime, ou seja abaixo do limiar do acordado perlo governo, servindo a reforma também e entre diversos passatempos poupar ao casal um bom dinheiro para infantários apesar que no ano seguinte a menina entrava no ensino a valer para aprender o que era ministrado nas escolas públicas já que o dinheiro não dava para folias no privado, o que certamente no futuro custaria uma nota final de curso mais baixa que os demais alunos de excelência saídos do privado. Porém isso seria um caso a ver-se lá mais para a frente, já que pelos tempos mais próximos ele, Joaquim, continuava a levar a neta à escola, salvo nos fins-de-semana já que não ia em futebois e colocara à filha e genro serem os sábados e os domingos para descanso e recuperação das capacidades físicas e mentais do cargo de Avôsitter

Ainda muito jovem trabalhara na agricultura, antes mesmo de ter idade de laborar, mas os pais eram caseiros e teve de fazer das tripas coração abdicar da sorna na taberna de Patrício Sacatudo, e fazer-se à vida contribuindo para as despesas do lar. Sabia o que custara a vida mudando várias vezes de entidade patronal, só nunca ter tido oportunidade de trabalhar para o Estado, mas de tal nunca o ouviram queixar-se nem deixara marcas. Surpreendente fora até bafejado pela sorte; casara com uma mulher fantástica e que herdara uma casa com dignidade e a saúde fora-lhe sempre fiel, agora às portas dos 66 anos.

Chegara todavia a hora de atravessar a rua, pegar na neta e, como decidira, fazerem uma visita ao zoo, constituindo sempre uma festa para Alzinha deliciada com os chimpanzés e os outros animais que brincavam junto às gaiolas dos outros que a natureza fizera livre e os humanos os livraram de levarem um tiro dos caçadores furtivos e ilegais de espécies em vias de extinção que as cavalgaduras depois compravam para exporem como os troféus de uma raça que se julgava superior; mas este tipo de argumentação dificilmente o avô conseguiria explicitar à neta, daí que 7 minutos depois já preparava a carteira para a 1ª despesa da tarde com a sua menina, seguramente comprar um ‘corneto de morango’.

A tarde corria veloz, solarenga, sem amuos e gritos dos diabretes que por ali cirandavam e que deixavam o velho com os cabelos em pé, mas a danadinha da neta era esperta o suficiente para perceber, querendo gelados ou gomas, devia ser prendada; após duas horas de vadiagem Zoológica deu conta que o avô aparentava um ar cansado e nada melhor que o desafiar para parar e tomar um café, e aproveitando a debilidade dele pediu para pararem.

- Tou canshada quero shentar…
- Está bem paramos na esplanada aproveito e tomo um café
- Eu não quero nada ‘vuvu’!
- Nem um Sumol…
-Hummm pode sher!

Enquanto se deliciava com a xícara de café pensou que a neta talvez gostasse de escutar uma história do seu tempo de menino e moço em que trabalhava na agricultura e sem delongas puxa da memória e despeja um daqueles contos que não lembraria nem ao diabo; por certo não encontrara em nenhuma livraria um Guia para Avós daí as histórias da carochinha estarem no seu entender na moda e com o ar mais seráfico do mundo deu início à narrativa, dissertando sobre a história de um menino de 16 anos que se levantava às 4 da manhã para amanhar a terra e regar os campos de plantações de tomate antes que o sol nascesse, assim evitando que água evaporasse não chegando a embeber a terra incumprindo a sua missão, que no fundo correspondia à sua própria história de vida, há 50 anos ganhando uns cobres extra ao atravessar a fronteira a salto para trabalhar nas herdades da Estremadura espanhola.

À medida que desenrolara a história não dera conta do sobrolho franzido da neta que entre golos de refrigerante e figas por debaixo da mesa, na expectativa que a droga do conto terminasse antes que o rapazito se afogasse num dos veios de água que alagava o tomatal; estava a achar aquela droga uma história muito infantil, em que não havia TV onde o regador pudesse ver os concursos de passagem de modelos das meninas de 4 e 5 anos perante um Júri que falava uma língua que não entendia mas pouco interessava dado extasiar-se perante as pinturas e os vestidos que usavam nos desfiles, aplaudidas pelas mães e algumas também pelos pais e perante a cara de desilusão e arrelia dos pais das outras concorrentes. Possivelmente o conto ainda ia a meio; Joaquim, visivelmente encantado com a narrativa interpela a neta para constatar se estava a gostar – …blá blá e depois Faustino regressava a casa para mudar de roupa e ir para o liceu blá blá…

- Estás a gostar Alzinha!
- Tou mas que país foi isso?
- Portugal onde é que achavas que era!

Esbugalhando os olhos Alzinha coçou a cabeça com ar de quem não fora na conversa e respondeu.

- Avô! eu já tenho chinco anos ouviste 5…


Inácio
20-21/8/2015

 
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