sexta-feira, agosto 29, 2014

Perfídia

Sábado 30 16 h na Praia da Aguda Dunas Bar
Poesia 
(essa que já vou perdendo o engenho)
Magia
(que a vida me ensinou a não confiar)
Música
(que muitas mulheres já me deram até que fiquei surdo)


NÃO FOI POR VONTADE DE DEUS

Sorrisos fingidos não m’alimentam
nem amizade aquece nha cama,
havendo outras que não me tentam
com enganos ou pérfida trama
antes batem asas arejando ’amores
…mudas brisas alívio pr’as dores

Qual musa dos selfies c’ ingenuidade
slogans batidos c’ outros já gastos,
montaste uma teia a linhas de falsidade
avivando, para me aprisionar, rastos,
rindo-te em recolhimento da carência
que perto esteve levar-me à demência

Que vida tua sem mim afastado de ti?
- Caminharás sozinha, braço dado,
ou que lar ‘escolhido pra teu consolo?

Por inabordável, não viste o que sofri,
e já esquecido, atrás muros relegado
faço-me à noite sem te provocar dolo

Cito Loio

quinta-feira, agosto 28, 2014

Quem diria !






terça-feira, agosto 26, 2014

Estranho refém


DE DÉCADA EM DÉCADA FEITO GATO


Em 1974 vestia luto ao envergar a farda do exército português
Chegado 1984 via-me pela vez de luto ao ver-me separado fisicamente do primeiro filho
Em 1994 separavam-me do segundo, enterrava meu pai, era 3º e 4º fatos de negro pano.
2004 e pela vez vi-me de preto em Agosto ao ganhar um processo disciplinar.
Corria também Agosto/2014 e colocava o  fato preto por morte da Ilusão.
Será que em 2024 me vestirão um fato completo de cor preta! terão mesmo os gatos apenas 7 vidas?


ESTRANHO E REFÉM.


Ó gentes deste vosso meu singular país
q’ me roubaste ‘ilusão em nha terra,
saibam desta vossa não ganhei raiz,
e tão pouco vos declarei a guerra.

A causa vossa carpiu-me vadia ‘alma
dormida sob fotos de defunta mãe,
e corridas lágrimas, por segura a calma
unívoco sentir-me estranho, refém.

Repudiando cobranças anos a fio
dei o q’ de melhor sobrado conservei;
_ suprema vontade que vos confio
num carácter q’igual jamais encontrei

Porém vós, quais meretrizes da decência
visaste nesta afável e cruel solidão
um novo Mártir acirrado pela carência
sem física cruz, mas d’igual paixão.

E tal Pilatos, viradas as costas à verdade
assistiram, silente queda ferido ‘puma,
‘meus passos pela sacra via da saudade
mágoas cruéis entre aplausos de tribuna


Cito Loio
(Terminado a 20/8/2014)


terça-feira, agosto 19, 2014

NUSKA, Ontem


UMA LADY CHAMADA NUSKA

 

Amanhecera cedo, o dia de verão anunciava-se quente já àquela hora da manhã. Sobre as 8:10 com o jardim municipal da freguesia de Massamá, Sintra, ainda vazio, Lady Nuska bamboleava-se em direcção ao relvado bem conservado para a época tendo em conta tratar-se dum espaço municipal em tempos de crise. Circundava o local muitos prédios com aspecto agradável, bastantes vivendas pelas cercanias, não desprezando as construções sociais que também elas emprestando ao cenário aceitável, apreciação sobre o ponto da visualização dos edifícios em termos estéticos.

Alguns bancos colocados debaixo do arvoredo que invadi o jardim (titular-se-ia um quase private garden) convidavam preguiçosamente ao cigarro viciante se bem que Lady Nuska não fumava; aliás, de igual modo não bebia álcool, refrigerantes ou coisas similares contentando-se com água pura fresca e corrente se possível de qualidade, aceitava que fosse engarrafada nos dias de maior calor não dizia não. Após breves instantes de indecisão entre a madeira dos bancos e o macio da relva optou por passear nesta, percorrendo o terreno na extensão da sua ária que tão bem conhecia e dominava.

Nas ruas de acesso ao Largo do Chafariz o tráfego fazia-se sentir engrossando as filas com carros de várias marcas modelos e ano de fabrico, percebendo-se serem dum parque automóvel antiquado, não obstante na zona morar o primeiro-ministro, que ultimamente andava desaparecido de cena, não passeando os cachorros, algo que dava um enorme prazer a Nuska quando via o rapazola fazer de ama-seca dos caninos, mas que o facto dele não aparecer era coisa de somenos importância para ela, desde que alguém fizesse o que teria de ser feito, dado que simpatizando com os bichos não morria de amores pelo bicho maior.

Focalizando as árvores não via nem ouvia pássaros, outro tipo de animais que não lhe causavam encanto sobretudo os passarões sem penas, as pombas cagadeiras, tal como certas donas que sujavam o recinto ao deixarem os cachorros cagar e não apanhavam as fezes. Como era possível tal. «Será que lá em casa também defecam na sala e deixam a merda secar na alcatifa ou varrem para debaixo do tapete?» e deixou fruir mais um pensamento conclusivo. «Há gente que também devia usar trela»

Tinha tempo, todo o tempo do mundo, e verificando um pequeno tufo de relva bem tratada verdejante e limpa resolveu dar uma estirada abanando o corpinho na frescura, enquanto longe, a sua maior amiga, Milúcha, olhava para ela mas não se decidiria, tinha a certeza, de mergulhar na liberdade, talvez porque o reumático dos seus 58 anos a impedissem ou o tipo de roupa não se adequasse ao capim. Lady Nuska bafejou de incompreensão; “aquela gaja não se deita neste paraíso mania que assalta algumas ladies chiquíssimas…que se dane eu gosto e ponto final” e suspirou fundamente. Refastelada deixou vaguear a lembrança por momentos de solidão em que, no recato do lar, deitada na cama aquecia a alma da sua amiga, friorenta e achacada a maleitas.

Anos antes dera conta e avisara, desconfiada de algo grave que Milucha poderia sofrer não sabendo no entanto que “raio de coisa era aquela”; sem credo seu certo. Caída no hospital foi detectado um tumor na tiróide, felizmente operada com êxito e atempadamente; momentos difíceis, angustiantes só de pensar no fim que podia estar reservado para a sua amiga. Não que importasse o seu destino, mesmo que fosse um canil. Importante era a saúde dela, a relação íntima entre ambas, o conforto nas noites de Inverno e a auto-protecção declarada e tacitamente aceite.

«Como a vida é cruel, porque teriam de sofrer os seres vivos, animais e humanos, porque não eram como as pedras rochas a água do rio que corre e falecendo vai a enterrar no imenso mar, porque não ser como o vento que corre livre envolve montanhas, acaricia pêlo e cabelo, seca a roupa no estendal, afasta as poeiras incómodas e os mosquitos parasitas, traz a chuva e leva os vírus, e conforme nasce no mesmo silencio fenece! »Ó Milúcha olha que vida de cão não é assim tão ruim» Fechou os olhos por momentos rainha do seu mundo. Biscoito antes e depois da refeição, um espreitar de quem passa na rua, um olhar atento ao “gato preto” que circulava nos jardins e um assinalar de, ‘aqui há vida’

Tempo de retomar o passeio matinal coisa que não dispensava chovesse pedras ou caíssem raios e coriscos. Que se danasse a procissão, os putos a chafurdar na relva quase enlameada, as poias dos cães, e os dejectos de outros cães. Para ela importava manter a actividade, um pouco de ginástica ao acordar consistindo apenas num breve espreguiçar, e que bem sabia. Estava-se nas tintas para que fosse incorrecto; havia outras coisas piores que eram permitidas e não só, até oferecidas na TV, tais como touradas, políticos a desdizer o que antes prometeram, mas também não estava para aí virada dado que pouco percebia ou mesmo nada de governação.

Lady Nuska era uma verdadeira ‘dama’ naturalista desde nascença. Não conhecera pai nem mãe, fora recolhida por Milúcha e humanizara-se; a sua relação com as pessoas era digna de constar num almanaque de fraternidade, ou nas licenciaturas em Sociologia.

O caminho percorrido até então estava fora do conceito instintivo parte da sua essência. Na verdade não conhecia outros a não ser uma espécie de barrocas nas imediações, montes desérticos confinando com ruas praças prédios e vivendas lá do sítio. Asfalto, alcatrão, empedrado, bocas-de-incêndio, escadas de pedra, água aprisionada nos canos, bocas em forma de torneiras e torneiras com orelhas, pessoas nos carros, luz que não vinha das estrelas nem do sol, enfim, modernices próprias de quem é naturalmente frágil. Até usavam casacos e abafos no tempo frio. A natureza dotara o homem de inteligência mas privara-o da incomensurável felicidade de ser genuinamente feliz, mas ela era feliz, não dispensando volta e meia de um cu tremido de carro; ‘pelava-se’ por ir de passeio ao jardim maior, lá para as bandas de Queluz, ou apreciar a beleza arquitectónica das serranias de Sintra. Milucha chamava!; faltava completar o giro, comprar quatro pães e a tradicional nata não sem antes esta emborcar um café sem açúcar.

Óbvio o seu dia-a-dia ser rotineiro monótono até, mas o seu bem-estar contemplava precisamente esse modus vivendi desde que intercalado com uma ou outra novidade, algo de surpresa, novas vistas novos cheiros, o mesmo planeta. «Como seria a praia! Nunca tinha ido, nunca usaria fato de banho, mas havia coisas que eram intrínsecas até nos animais. Nuska sabia nadar sem que alguma tivesse necessidade de vir a ter aulas de natação, dado possuir esse instinto de sobrevivência, ou não fosse ela um produto quase perfeito da natureza. “Mantenha a zona limpa, coloque aqui os dejectos do seu cão; mas que raio de coisa era aquele caixote exíguo com um montão de saquinhos cheios de cocó de cão?” Porque razão era só de cão! E de cadela! Questões de ordem filosófica, semântica, masculinidade, ou talvez que certos conceitos tivessem sido colocados a público no tempo anterior à verdadeira emancipação do sexo feminino!

Cont……..


Este romance fora iniciado há cerca de dois anos, desde quase em simultâneo ao momento em que ficara impedido de ver Lady Nuska por razões que ainda hoje não consigo digerir nem entender, mas por falta de contacto com a personagem não segui com o entento. Talvez um dia adquira coragem para dar conclusão ao enredo.

Dizia, numa chamada telefónica na noite de 31de Julho deste ano, 2014, certamente não voltar a ver a protagonista principal. Premonição, chamem o que quiserem, mas algo dentro, um sentimento quase a raiar o absurdo dizia algo estar para acontecer e que seria ruim. Já meses antes Nuska sujeitara-se a uma segunda operação delicada para extracção dum tumor na cabeça, e Milúcha estava em dúvida permitir a operação ou não, e a dúvida residia no facto que na primeira intervenção cirúrgica fora problemático acordá-la depois de sair da banca de operações; verificara-se que afinal era potencialmente cardíaca. Ao telefone alertei-a ser preferível a intervenção e ficar-se sem sofrer nem dar conta sob o efeito da anestesia geral, do que andar a desfazer-se aos poucos garantido um desgosto permanente e dor a quem com ela partilhava casa e tempo e magoar quem à distância tanto gostava dela. A minha posição acabou por chamá-la à razão optando-se pela operação, com sucesso, e Nuska ‘acordou pós intervenção’ dando mais momentos de felicidade e companheirismo à amiga.

Desinteressa para a história se a minha postura é relevante, mas já é importante o que se passou depois do telefonema de fim de Julho. A 12 de Agosto, uma dúzia de dias depois quando o dr. Luís Cardoso Rocha, advogado e grande amigo me comunica telefonicamente que Nuska falecera.

Quem diria, 10 dias depois de ter dito que se calhar nunca mais a veria. Luís referiA-me dois dias depois o facto de Milucha ter dito que eu ainda havia de passear muito com Nuska; evidente que sim, quando nos encontrássemos no etéreo, se me reconhecesse ou eu tivesse direito a um lugar no céu.

Morreu Nuska, uma Pastora Belga, uma cadela de verdade, das que têm 4 patas e esta tinha-as de facto. Mas mais do que o desaparecimento dum animal, sentido como sentira a doutros que tivera, Bala, Dog, Pitadas; morrera ‘nha Nuska’, a ponte para épocas duma juventude que teima em avivar-se a cada letra, palavra, partícula, frase, parágrafo, verso, romance, conto ou poema. Vai-se a memória agigantando e com ela renascem fantasmas, dores de parto, gritos de morte, as cores da mata, o negro (cor do seu pêlo) do asfalto das pistas da minha revolta.

Para ela escrevi versos em formato de poema. Hoje fraquejo, esvai-se a o engenho e arte percebendo em definitivo que ao romance «Uma Lady chamada Nuska» jamais colocarei a palavra FIM, mas presto-lhe a última homenagem em nome da nossa cumplicidade, das corridas à vinda do pão, do 1º banho de mar que tomou, das recusas face aos doces que não queria, e sobretudo pelo olhar do seu último adeus à janela do 1º andar duma casa situada algures em Massamá.

Se voltarei a ver Milucha, se alguma vez mais entrarei na sua casa são interrogações que me assaltam, mas de todas as dúvidas que possa contabilizar uma certeza coloco no final.

Nunca mais verei Nuska…

 

TUDO DE MIM SE ARRANCA

(Soneto a Nuska)

 
Quero declamar um poema de verdade
sem palavras ferindo folhas duma sebenta,
rasuras com choros tamanhos de saudade,
q’esta nova juventa não deseja ou aguenta

Testemunho, projecção sem gabo de poesia
seja sustentáculo de lanças c’ pontas de fogo.
- Cravado rasgue a carne, leve a agonia,
Dispensando ofertas de lágrimas sem rogo

Seja poema projecto duma dança com a cadela
sob vénias, consentimento da dona dela,
editado muito para além de soprada a vela

Trajado luto por decisão, uso de veste branca,
recrio o sonho indo além da zona franca
num poema maior que tudo de mim arranca.

 

Cito Loio  (Inácio. Finalizado a 14 de Agosto de 2014)

 

 

terça-feira, agosto 05, 2014

Ai mãe


 
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