quinta-feira, agosto 25, 2011

Através dos Pirinéus...!




FUNERAL DUM CAMIONISTA

Contou numa pasta magro espólio
Títulos do tesouro migalhas sem natal
Viu papéis d’inspecção; pneus óleo
Tudo em ordem! _ Até o veio principal

Última viagem para aquele patrão
Que os anos já pesavam em demasia;
Não casara, evitando a solidão
Q’ daria’ uma mulher por companhia

Traçou a rota, através dos Pirinéus
Carga assente, nós, toda bem cintada
Irun, paragem certa antes de Bordéus
Muita milha o esperava d’estrada

Dentro da sua cabine era imbatível
Recordando’ filme ‘comboio dos duros’
Sem ida’ao céu, questão de combustível
pois jamais se metera em apuros

Tocou uma sonora ‘barulhenta buzina
Dois controlos da “gê ene e erre”
Sem multa que a selva também ensina
Em matilha, não há coyote q’ não ferre

Balançando, pendurado no retrovisor
Cruz sem Cristo q’o Senhor’enjoava;
No porta-luvas, foto de Jaquina Leonor
Sua mãe; há anos q’ o não esperava

Caída’a noite, retornavam os pecados
Dispondo de vinte e quatro horas
Que Deus fizera dias apertados
E escasso o tempo para as demoras

Uma bomba, o motel, outra portagem
Não parara que estava à pinha
O seu negócio era seguir viagem
Para descarregar os sacos da farinha

Noventa, marca o limite da lei, e rodava;
Sem travões perdia-se João Aparício
Caixa de velocidades – nada funcionava!
Trinta toneladas, e um precipício…

Forjaram provas, acusação d’alcoolismo
Condenando o falecido em tribunal!
Vencera uma vez mais o cinismo
Em defesa duma seguradora nacional

Cito Loio

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