domingo, agosto 30, 2015

ENGANAR A MORTE



Há 42 anos, antes de ter optado por envergar a farda do exército português em detrimento da deserção, tinha a convicção que nunca chagaria ao século 21.
Às portas dos 62 anos (aos políticos em particular e ao povo português em geral) peço desculpa por ter vivido tanto tempo


DESCULPEM TER ENGANADO A MORTE

 Repudiando no pretérito actos de leviandade,
limei ásperas arestas, poli a personalidade
reformulado carácter, e descuidado quem elegia
desemboquei em caminhos que desconhecia;
_ Sofrendo rasteiras nos derradeiros campeonatos
joguei-ma incontornáveis reptos sem ultimatos.

A cada folha fui escrevendo inverosímil história,
atraiçoando, imperdoável, a própria memória
pintando páginas de sangue a ferro e fogo.
- Repelindo encardida roupagem de bobo
embranqueci o vestuário com sabão clarim
e em continência à bandeira feri-me no fim.

Irónico, agradeço os tributos e condecorações,
reconhecimento pátrio de por entre explosões
(ainda em jovem) ter-me exposto à sorte,
pedindo ao povo desculpas por ludibriar a morte.
- Um dia, sabe-se lá, o estado pague o enterro
ou aponte-me inevitável o caminho do desterro.


Cito Loio
…de Agosto de 1975 a Agosto de 2015

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