quinta-feira, agosto 20, 2015

DOLOROSO PENAR









DE MEU DOLOROSO PENAR




(Há 40 anos começava a loucura)


Escuto em memoração solos de flamengo
misturado com o bater de castanholas,
sussurros duma saia que não me engana,
sapateando compassos, equilibrados rodopios;
_ risos por quem de quem ainda me prendo
que ‘amor verídico não se faz de esmolas,
o tempo, a dor e a tristeza não sana
e provoca à lembrança amargos arrepios.
- Corro lesto espreitando à diminuta janela
vendo a rua deserta; é a ilusão que deserta…
- Recolho-me, preparo um jantar de rico
salmão cozido, ó esqueço as escamas,
atesto ‘taça, pingola engarrafada em Palmela
feita de uvas pisadas – quiçá pela certa
num êmbolo mecânico – e por aqui me fico.

[Deslumbrado desenrola ‘esteira dura cama
e estremece; já próximo sons de metralha,
rodados de jipes, gritos ensurdecedores,
granada explodindo, vozes de um comando,
tombares de mil corpos na terra batida.
- Chega a quietação que a lucidez já lhe falha
gasta em cenas de inimputáveis horrores,
filmes com homens que se vão arrastando
em retirada de uma guerra há muito perdida.
- Circunda fraldas mijadas, mães em pranto,
o jovem antes adormecido sobre caixotes
que crispando rosto sustém a revolta
e observa inenarrável, sonhos já desfeitos.
- Rola pela pista, brinca com o espanto
à luz de focos, por vezes à de archotes
tomando do chão o que não tinha volta
destratado – palavras são meros conceitos (!)
- Em bicha de desespero estala a confusão;
_ bagagens a monte – Embarque-me o gato.
- Se esse vai levo o cão deitado no colo…
- Mais um passeio por avenidas vazias
alcatroadas por gente carregada de ilusão,
agora fugida, deixado para trás o mato
diversificado por suor em produtivo solo
já sem protecção escolhidas outras vias]

Esbate-se o pesadelo, retorno ao presente
Nino Bravo”te quiero con ternura”, um fadista,
bandurrias soltas, uma nova versão pimba.
_ “Ligue o 666666 – ganha logo no momento
e muda a imutável desdita à sua frente”
- Recostado no sofá brilho em pose de artista,
cofio o bigode comos galãs dos anos trinta
e repouso entre a lembrança e o esquecimento.


Cito Loio

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