quarta-feira, agosto 26, 2015

Chinco...oubiste!




O que vos apresento destina-se a todos os políticos que militam nos partidos políticos, da extrema-esquerda à direita radical para que possam na medida da inteligência colectivo/partidária assacar o que no fundo está no conto que sustenta UMA DAS MAIORES CRITICAS que até à presente data dirigi à política, pretendendo também ser homenagem a todas e todos que de alguma forma dedicaram a sua vida às crianças.



JÁ CHINCO 

***

Assobiava e cantarolava ao mesmo tempo um êxito do passado; a música que vencera o festival do concurso de canções portuguesas para a Eurovisão, interpretada por Eduardo Nascimento “O vento mudou” – Ela quis viver e o mundo correu-a…prometeu voltar se o vento mudar – a verdade é que não voltara, mas Joaquim Simulação apresentava-se contentíssimo naquela segunda feira que obstante nada ter de santa seria um dos primeiros 5 dias da semana que viveria com a graça do Senhor e as diabruras da neta.

Viúvo da sua amadíssima Berenda Merecida do Céu, ia para 11 anos, reformado da empresa DAE-Ldª (Depuração de Águas e Esgotos) e, como costumava brincar, de almas, usufruindo uma reforma acumulada ao logo de décadas de servidão bem superior ao que a maioria dos activos auferia, dando para apoiar a sua única filha, casada com um contador de contadores de água, numa recente empresa criada para o efeito, ela trabalhadora num escritório de angariação de profissionais no desemprego inscritos na SS e que não se importassem de se esquecerem passar recibos da cor da esperança, até por ser contraditório a cor ao que esperava quem se visse nestas andanças de ‘por conta de outrem que por sua vez fugiam aos impostos como o diabo foge da cruz, se bem que a de Cristo era muito mais pesada, e que no fundo recebiam abaixo do salário mínimo, também ela no mesmo regime, ou seja abaixo do limiar do acordado perlo governo, servindo a reforma também e entre diversos passatempos poupar ao casal um bom dinheiro para infantários apesar que no ano seguinte a menina entrava no ensino a valer para aprender o que era ministrado nas escolas públicas já que o dinheiro não dava para folias no privado, o que certamente no futuro custaria uma nota final de curso mais baixa que os demais alunos de excelência saídos do privado. Porém isso seria um caso a ver-se lá mais para a frente, já que pelos tempos mais próximos ele, Joaquim, continuava a levar a neta à escola, salvo nos fins-de-semana já que não ia em futebois e colocara à filha e genro serem os sábados e os domingos para descanso e recuperação das capacidades físicas e mentais do cargo de Avôsitter

Ainda muito jovem trabalhara na agricultura, antes mesmo de ter idade de laborar, mas os pais eram caseiros e teve de fazer das tripas coração abdicar da sorna na taberna de Patrício Sacatudo, e fazer-se à vida contribuindo para as despesas do lar. Sabia o que custara a vida mudando várias vezes de entidade patronal, só nunca ter tido oportunidade de trabalhar para o Estado, mas de tal nunca o ouviram queixar-se nem deixara marcas. Surpreendente fora até bafejado pela sorte; casara com uma mulher fantástica e que herdara uma casa com dignidade e a saúde fora-lhe sempre fiel, agora às portas dos 66 anos.

Chegara todavia a hora de atravessar a rua, pegar na neta e, como decidira, fazerem uma visita ao zoo, constituindo sempre uma festa para Alzinha deliciada com os chimpanzés e os outros animais que brincavam junto às gaiolas dos outros que a natureza fizera livre e os humanos os livraram de levarem um tiro dos caçadores furtivos e ilegais de espécies em vias de extinção que as cavalgaduras depois compravam para exporem como os troféus de uma raça que se julgava superior; mas este tipo de argumentação dificilmente o avô conseguiria explicitar à neta, daí que 7 minutos depois já preparava a carteira para a 1ª despesa da tarde com a sua menina, seguramente comprar um ‘corneto de morango’.

A tarde corria veloz, solarenga, sem amuos e gritos dos diabretes que por ali cirandavam e que deixavam o velho com os cabelos em pé, mas a danadinha da neta era esperta o suficiente para perceber, querendo gelados ou gomas, devia ser prendada; após duas horas de vadiagem Zoológica deu conta que o avô aparentava um ar cansado e nada melhor que o desafiar para parar e tomar um café, e aproveitando a debilidade dele pediu para pararem.

- Tou canshada quero shentar…
- Está bem paramos na esplanada aproveito e tomo um café
- Eu não quero nada ‘vuvu’!
- Nem um Sumol…
-Hummm pode sher!

Enquanto se deliciava com a xícara de café pensou que a neta talvez gostasse de escutar uma história do seu tempo de menino e moço em que trabalhava na agricultura e sem delongas puxa da memória e despeja um daqueles contos que não lembraria nem ao diabo; por certo não encontrara em nenhuma livraria um Guia para Avós daí as histórias da carochinha estarem no seu entender na moda e com o ar mais seráfico do mundo deu início à narrativa, dissertando sobre a história de um menino de 16 anos que se levantava às 4 da manhã para amanhar a terra e regar os campos de plantações de tomate antes que o sol nascesse, assim evitando que água evaporasse não chegando a embeber a terra incumprindo a sua missão, que no fundo correspondia à sua própria história de vida, há 50 anos ganhando uns cobres extra ao atravessar a fronteira a salto para trabalhar nas herdades da Estremadura espanhola.

À medida que desenrolara a história não dera conta do sobrolho franzido da neta que entre golos de refrigerante e figas por debaixo da mesa, na expectativa que a droga do conto terminasse antes que o rapazito se afogasse num dos veios de água que alagava o tomatal; estava a achar aquela droga uma história muito infantil, em que não havia TV onde o regador pudesse ver os concursos de passagem de modelos das meninas de 4 e 5 anos perante um Júri que falava uma língua que não entendia mas pouco interessava dado extasiar-se perante as pinturas e os vestidos que usavam nos desfiles, aplaudidas pelas mães e algumas também pelos pais e perante a cara de desilusão e arrelia dos pais das outras concorrentes. Possivelmente o conto ainda ia a meio; Joaquim, visivelmente encantado com a narrativa interpela a neta para constatar se estava a gostar – …blá blá e depois Faustino regressava a casa para mudar de roupa e ir para o liceu blá blá…

- Estás a gostar Alzinha!
- Tou mas que país foi isso?
- Portugal onde é que achavas que era!

Esbugalhando os olhos Alzinha coçou a cabeça com ar de quem não fora na conversa e respondeu.

- Avô! eu já tenho chinco anos ouviste 5…


Inácio
20-21/8/2015

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