Não prestam...
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Fizeram a festa
E não me convidaram
Houve vinho, fruta e especiarias
Roubos mortes e porcaria.
_ Cantaram-se hinos da liberdade
Canções, fados
Batuques viras e sapateado
Colheram-se cravos que murcharam
Lírios rosas e malmequeres
Capitães “soldados” e alferes
Todos tocaram, todos farraram
No enterro dum rei nego
_ Houve esperantos e jasmim
Canhões morteiros e alecrim
E nenhuma flor para mim
Nem uma pétala da flor de trevo
Era sol e era primavera
Mansa brava fera
Comia deleitada, fausto manjar
Da pontinha de cima
À pontinha de baixo
Do lado de cá
Ao estremo de lá
Tudo era terra, minha gente
E tudo era urgente
Finalmente livres
_“Livres” do dinheiro
Livres de falar, cantar...descansar
Dos caducos pinheiros
Do trabalho da ordem das leis
_ Dormir, dormir até rebentar
E mais! que se afirme
Livres de sermos livres
Mas livrem-me a mim
De ser escravo!
De escolher breve o caminho
Ter cravos sem espingardas
Onde há rosas sem espinhos
Canhões sem maldade
Mais generais “capitães” soldados
_ Livrem-ma a mim de ser criado!
Servo “à la glèbe”
Que conserve em mim minha pele
Tirem-me da frente papões
Bonecos feitos de papelões
Onde um dia “cravaram”
As mortes que me brindaram
Em caixões de rubro verde pinho
Envoltos em lençóis de linho.
Cito,
A todos os que tombaram na ilusão de África
1976
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