CASA de ANGOLA
Inauguração da Casa de Angola
AGOSTO de 2010
Quando Cito Loio teve a última rebita em Luanda já as noites eras pautadas pelo recolher obrigatório. Vivia-se os derradeiros dias da ponte aérea, a vida esvaía-se na tristeza da cidade, nas ruas desertas, nos livres sem trânsito.
Passados 35 anos, jogar com palavras catalogadas, remexer os fantasmas dos meses dolorosos, poderá ser para alguns catarse, mas para outros, “a burn” no purgatório.
Hoje, quando as notícias daquela parte do planeta dão a conhecer situações que gostaria que não existissem, questiono-me se voltaria a correr pelas mesmas avenidas, subtrair à vida as dezenas de horas de repouso, ou se de facto as lágrimas que verti correram para o rio Bengo, para a lagoa Panguila, ou se alguma vez o meu rio de penas desaguou na margem norte do meu Kuanza.
Parte I
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Ela sentiu-lhe o pau debaixo de tensão
A empurrar sua protectora cuequinha,
Resmungou um “tira isso daí coração
Deixa descansar a minha franguinha”
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Ele trincou-lhe então o lóbulo, mordaz
Meteu-lhe a língua dentro do seu ouvido
Mas levou uma boa sapatada por detrás
E um chega para lá o chouriço ó marido
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Vê c’o menino não dorme está acordado
E para que não te armes ao pingarelho
Se queres merengue, tacão e sapateado
Passas tu a ferro, a roupinha do fedelho
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Ele insistiu malandreco com ar sacana
Ouvindo nem penses que me vais ao pito
Se te armas, pensa bem, meu mangana
Amanhã só comes galinha...com penas
.
Mas ressalvo, uma galinha e tais penas
Qu’estas não fazem rima com ir ao pito
E escrevo...que seja para rimar apenas
“Amanhã escusas de me pedir um bico”
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Parte II
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Saíram em bailado de mulata encharcada
Massambaram a santa noite, de coladera
Virando mataco bonho, ele não teve nada
E menos gindungo e cadingolo da tia Vera
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E deixando o candengue com a prima Lice
Soltaram catinga da marginal até ao farol
Roçando o peito, esfregaram a malandrice
E nunca se picarem no afiado e teso anzol
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Do Cacuaco ao inferno daquela Mutamba
Imaginaram as missangas em enxurrada
Rebolaram nas águas de uma baía Santa
Travando a vontade de dar uma berlaitada
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E a noite luzia queimadas, vistas de cima
Que ardiam dentro do peito sem labareda
Esquecendo a Nossa Senhora da Muxima
Pararam na Praia do Bispo, numa vereda
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Depois escaldado os corpos subida a febre
Passaram a Restinga pararam na Floresta
Esqueceram Cazenga, maboque, uma sebe
Voltaram a unir uma África com o Far West
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Já raiava madrugada num carnaval gentio
Os sons sirénicos dum recolher obrigatório
Quando esgotaram gingares o apetecido cio
Na última Rebita, sem “sinatura e rilatório”
.Cito,
Últimos dias em Luanda
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