terça-feira, setembro 21, 2010

CASA de ANGOLA

PALÁCIO DA BOLSA PORTO

Inauguração da Casa de Angola

AGOSTO de 2010

Quando Cito Loio teve a última rebita em Luanda já as noites eras pautadas pelo recolher obrigatório. Vivia-se os derradeiros dias da ponte aérea, a vida esvaía-se na tristeza da cidade, nas ruas desertas, nos livres sem trânsito.

Passados 35 anos, jogar com palavras catalogadas, remexer os fantasmas dos meses dolorosos, poderá ser para alguns catarse, mas para outros, “a burn” no purgatório.

Hoje, quando as notícias daquela parte do planeta dão a conhecer situações que gostaria que não existissem, questiono-me se voltaria a correr pelas mesmas avenidas, subtrair à vida as dezenas de horas de repouso, ou se de facto as lágrimas que verti correram para o rio Bengo, para a lagoa Panguila, ou se alguma vez o meu rio de penas desaguou na margem norte do meu Kuanza.

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Parte I

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Ela sentiu-lhe o pau debaixo de tensão

A empurrar sua protectora cuequinha,

Resmungou um “tira isso daí coração

Deixa descansar a minha franguinha”

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Ele trincou-lhe então o lóbulo, mordaz

Meteu-lhe a língua dentro do seu ouvido

Mas levou uma boa sapatada por detrás

E um chega para lá o chouriço ó marido

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Vê c’o menino não dorme está acordado

E para que não te armes ao pingarelho

Se queres merengue, tacão e sapateado

Passas tu a ferro, a roupinha do fedelho

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Ele insistiu malandreco com ar sacana

Ouvindo nem penses que me vais ao pito

Se te armas, pensa bem, meu mangana

Amanhã só comes galinha...com penas

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Mas ressalvo, uma galinha e tais penas

Qu’estas não fazem rima com ir ao pito

E escrevo...que seja para rimar apenas

“Amanhã escusas de me pedir um bico”

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Parte II

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Saíram em bailado de mulata encharcada

Massambaram a santa noite, de coladera

Virando mataco bonho, ele não teve nada

E menos gindungo e cadingolo da tia Vera

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E deixando o candengue com a prima Lice

Soltaram catinga da marginal até ao farol

Roçando o peito, esfregaram a malandrice

E nunca se picarem no afiado e teso anzol

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Do Cacuaco ao inferno daquela Mutamba

Imaginaram as missangas em enxurrada

Rebolaram nas águas de uma baía Santa

Travando a vontade de dar uma berlaitada

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E a noite luzia queimadas, vistas de cima

Que ardiam dentro do peito sem labareda

Esquecendo a Nossa Senhora da Muxima

Pararam na Praia do Bispo, numa vereda

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Depois escaldado os corpos subida a febre

Passaram a Restinga pararam na Floresta

Esqueceram Cazenga, maboque, uma sebe

Voltaram a unir uma África com o Far West

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Já raiava madrugada num carnaval gentio

Os sons sirénicos dum recolher obrigatório

Quando esgotaram gingares o apetecido cio

Na última Rebita, sem “sinatura e rilatório”

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Cito,
Últimos dias em Luanda

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