quarta-feira, junho 09, 2010

Uma Mente Brilhante



Reflectindo sobre as conversas do tempo estudantil antes de 74, sobre pensamentos de pessoas idóneas, reanalisando mentalmente o passado com maturidade idoneamente e sem paixão, percepcionando os factos passados e presentes, atrevi-me a partilhar o resultado da visão clara que tenho sobre o que estava por detrás das intenções de Marcelo Caetano, considerando ainda o facto de, tendo sido opositor a Salazar, e mesmo assim este o considerar o mais proeminente intelectual e a mente mais brilhante do Império, aquele manteve a guerra em África.

Sabia o então Presidente do Concelho de Ministros, como hoje é fácil perceber, que a estratégia a seguir para o Império passava por focar particularmente a atenção do estado português no território de Angola.

Assim, a partir de 1970 começou a sentir-se um abrandamento da guerrilha e um esgotar de forças por parte dos movimentos que operavam em território angolano, que, não obstante suportados por potências estrangeiras estas jamais deram um passo para o confronto directo com o exército português e com Portugal, enviando tropas e armamento pesado, porque isso seria a declaração de guerra a um país soberano.

A URSS apoiante do MPLA teria de imediato os USA como aliado de Portugal, e a América à data, mantinha o apoio aos outros movimentos opositores, servindo este apoio para travar a hegemonia do movimento “emeplista”, que para além de conotações à esquerda e ao bloco de leste, poderia integrar os quadros intelectuais mais evoluídos e multirraciais e que levariam a uma independência precipitada e a entrada dos “sovietes”

Neste equilíbrio, Marcelo garantia a não existência de adversários fortes no seio dos movimentos de libertação, o que permitia levara cabo a sua estratégia, que passou a partir de 1972 por criar condições para a auto-determinação de Angola, o território vértice do Império – carecia, mas seria o passo seguinte, que os lideres dos movimentos se disponibilizassem para integrar o Governo Regional, o que seria bem aceite, acaso sentissem que, ou apoiavam a miscigenação no território, ou ficavam definitivamente exilados.

Se a sua estratégia falhasse os territórios mergulhariam numa guerra fratricida sem tréguas pela conquista do poder e pela instauração de governos de índole neo-colonialista de ditaduras unipessoais em que se retornaria aos séculos dos reis e reinos, provocado pelo desaparecimento do factor aglutinador, e que daria lugar a um ódio inter-rácico

Era convicção sua que o fim da guerra em Angola se daria até finais de 1975, e Portugal anunciaria de seguida a auto-determinação, começando a partir de 1974 a transladação do exército Português para Moçambique, com o intuito de estabilizar mais rapidamente a zona, porque com o anúncio que seria feito para Angola, os movimentos que operavam naquele território, perceberiam que a auto-determinação de Moçambique viria a seguir, e que era um disparate em vidas humanas continuar a guerra, tendo como fronteira uma África do Sul hostil.

Mas, a necessidade de apressar o processo em Angola, tinha também, entre outras razão de maior preocupação, a Guiné.

Marcelo sabia ser impossível abandonar o território sem o fazer em relação aos outros. Por isso, a estratégia passava pelo anúncio e a declaração de auto-determinação de Angola, e em simultâneo a da Guiné, anunciando a data de Moçambique para um período posterior, argumentando que seria a terceira a obter a chancela de liberdade por motivos de segurança interna, por este território fazer fronteira com a África do Sul onde imperava um sistema de apartheid. As restantes possessões não lhe davam, por princípio e no imediato, dores de cabeça

Esta ousada estratégia permitia retirar o Exército e os poucos portugueses, de uma Guiné que não oferecia, até pela sua localização fronteira e a enormidade de povos, a mesma acalmia pós libertação – tão pouco havia interesse económico e financeiro. A manutenção desta possessão não era uma teimosia mas a salvaguarda da unidade e soberania do espaço nacional, ao contrário do que algumas pessoas próximas pensavam.

Até ao fim da década de 70, entre 78/80 queria construir uma nova visão para o Mundo, em que suas “ex colónias” tão massacradas pela imprensa estrangeira e pelos países que queriam a todo o custo implantar regimes que não se adequavam aos povos africanos e português, estavam a caminho da independência exemplar, criando um zona única multidimensional, contando com a entrada posterior do Brasil.

A partir de finais de 1972, era notório que as forças comunistas já há muito infiltradas no exército mas sem expressão nem objectivo concreto, começaram a sentir que a independência das “colónias” dar-se-ia sem benefícios para a URSS e Satélites, que comunismo não vingaria em toda a extensão de Portugal Continental Ilhas e Ultramar, conforme não tinha conseguido no Brasil independente

A solução seria o derrube do Governo através de um golpe armado, sem garantia que o Povo apoiava, e que só uma manipulação das consciências populares levaria a que estas se juntassem às “forças reaccionárias” que iriam derrubar o governo legítimo – também que pela via eleitoral e em próximas eleições livres, Marcelo sairia vencedor, o povo aclamá-lo-ia e o alastramento do comunismo e do socialismo claudicava.

Esta acção colocaria fim ao último degrau da estratégia do pensamento de Marcelo que referenciava a preocupação do que à boca cheia se dizia já nos finais da década de 60, sobre o acordar de um colosso chamado China.

O abalar do mundo pela explosão desse país não era previsível nos 20 anos que se seguiriam à década de 70, e o receio do governante não se balizava em factores de confronto, mas sim porque nesse país se processava um crescimento demográfico sem controlo, e teriam, caso não eclodisse uma devastadora guerra civil interna, teriam de exportar o único produto que o ocidente consumiria – a mão de obra a preços de escravatura, que ele não aceitava que se continuasse a praticar.

Era por isso fundamental a constituição de um xadrez de desenvolvimento a ocidente criado pelos territórios portugueses que se tornariam independentes, e ao mesmo tempo, e dando como exemplo o êxito da sua governação, esperar que Espanha se juntasse a Portugal e motivasse os países da América Latina, onde tinha o Brasil como aliado.

O reaparecimento deste enorme império de solidariedade permitia a auto-suficiência dos diversos países nele integrado, e travaria a expansão chinesa no futuro, remetendo-a para uma vivência dentro de fronteiras e, a tomada de consciência dos seus governantes que teriam de estabelecer um programa de controlo de natalidade sério.

Este projecto mental fora brutalmente interrompido por pessoas sem competências nem capacidade de elaborar concretos e inteligentes juízos analíticos sobre os factos passados, os sinais presentes, e a extrapolação para o futuro do que poderia ser a razoabilidade de uma política de desenvolvimento ocidental.

Fiz uma pausa, repassei todas as palavras anteriores, as frases, o que estava subentendido nos raciocínios, e exclamei

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- Que mente brilhante, como o invejo!

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Depois fui refrescar a cara. Deixei por momentos a água a correr e percebi que, tal como aquele líquido, também a minha vida correra. Trinta e seis anos depois senti um orgulho enorme em ter nascido em Angola, ter tido como governante um homem de corpo inteiro, uma inteligência superior – e recuei no passado, e revivi na memória a imagem de Marcelo, o benjamim, o homem que merecera de Salazar o elogio de “UMA MENTE BRILHANTE”

Senti um ardor no peito, um latejar nos olhos; senti-me traído e deixei fruir o seguinte pensamento

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[“O 25 de Abril foi um logro um crime e uma traição a Portugal” para além de ter de se considerar uma subversão inadmissível por parte de militares que tinham Jurado Bandeira e respeitar o Estado e a Nação, ao som do Hino Nacional.

Esses militares traíram o seu próprio JURAMENTO, razão pela qual não se poder considerar homens de carácter e de honra.

Aceitar-se-ia contudo, que tivessem saído das Forças Armadas e, a partir de uma situação civil encetassem a luta contra o regime, culminando com a vitória revolucionária e com o reconhecimento popular. Assim não aconteceu, e esses militares, sem excepção, são indignos de constar na lista de heróis da pátria portuguesa, por ser uma ofensa a todos os que anonimamente deram a vida por ela]

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Um dia a história o referirá que a “estratégia de Marcelo” continua a ser um exercício praticado por uma mente brilhante, um patriota, um homem que amava Portugal – mas ficará também para a história deste povo, e que vem já desde o tempo da Fundação de Portugal, em que mais uma vez os traidores impediram que o País voltasse a ser uma referência para o Universo, e um baluarte da defesa do mundo ocidental perante a ameaça de uma invasão de “escravos do expresso do oriente”


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