segunda-feira, junho 07, 2010

Um olhar embaciado


Para lá do olhar embaciado

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Li distraidamente o “comunicado do governo de Angola” sobre a morte de Rosa Coutinho e decidi rabiscar na sebenta algumas linhas que depois de computorizadas passo partilhar.

Gostaria de começar por dizer ao senhor Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, que sou um dos privilegiados que têm o nome gravado nas páginas históricas do livro , editado em 2009, Liceu também conhecido pela Grande Casa Amarela, onde V Ex.ª estudou, e que, particularmente endossou os parabéns pela iniciativa

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Muito obrigado.

Mas olho para as suas fotos, antigas e recentes, e percebo que a sua dor é a minha dor, a sua angústia anda de braço dado com a minha tristeza, as suas noites serão tão enevoadas como as minhas insónias.

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Tal como V Exª deve recordar com um olhar “candengue” as violadas com os seus amigos (jovens sãos e idealistas) junto à casa Laika, também ouço perdido na memória os acordes da viola do Hipólito de Andrade acompanhado pelo Maló, soando no Largo General Carmona que desconheço qual o “renome”, sentados nos bancos do jardim, olhando o balançar de ombros do Batalha e do Nelo e de tantos outros amigos – e é nesses momentos que julgo que “o presidente” deve sentir a solidão de não poder abraçar os seus coleguinhas de escola, ou os seus companheiros de liceu, dar uma cotovelada ao parceiro de carteira, olhar matreiro as pernas das meninas que se passeavam pelos claustros do Liceu Nacional Salvador Correia, renomeado Mutu Ya Kevela.

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Suspeito que ambos somos prisioneiros dos nossos mais íntimos fracassos. Eu por não ter podido “ajudar” na árdua tarefa de fazer de Angola uma terra de liberdade, no conceito mas humano que o termo encerra, você pela “Impotência” do desgoverno – a minha prisão, não tem grades, a sua tem o dedo acusatório da humanidade, mas ao contrário de muita gente, retribuo os parabéns anteriormente referidos, e desejo-lhe os maiores sucessos na continuidade do cargo que desempenha.

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Mas voltei a olhar para a sua foto, e vi, para lá desse olhar embaciado, sinais de um sofrimento advindo do desgosto que o deve acompanhar por saber que não foi capaz de evitar que o seu e nosso País, Angola, perdesse duas das mais “brilhantes gerações”, na sua longa história.

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Senhor presidente: Para si partilharei o próximo artigo, “Uma mente Brilhante”.

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Subscrevo-me com o respeito que todos os Chefes de Estado Eleitos merecem...

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Cordialmente.

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Assinado

Cito

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