domingo, julho 17, 2011

Passos...



Poucas foram as vezes em que houve a oportunidade de escutar três monstros da canção universal num mesmo concerto unidos numa única música.

Hoje quando o meu coração caminha para más alla, junto-me a eles oferecendo-lhes algo tirado das entranhas da dor e da vontade em perpetuar a arte o engenho de escrever os gritos da alma em forma de Poema

Durante anos verti para o papel milhares de palavras, sendo um Romance em prosa poética a obra que me lançou como escritor, nomeado de Adolfo Castelbranco Oliveira, quando na verdade sempre fui Inácio (Cito Loio) o poeta, aquele que persegue Camões como referência, sem fronteiras, sem limites, apenas querendo ser o segundo porque o primeiro tem lugar “lá no assento etéreo”

Escrever, gritando com as palavras no momento em que agrido o papel e a cada verso com que rasgo o ventre das estrofes, representa morrer em mais uma sílaba, mais um ditongo, num participo passado ou gerúndio – onde a caneta toma o papel de um bisturi, qual instrumento que extrai o kondyloma da poesia, gerando o poema com que me perco nos passos em direcção “à cova escura”.


JÁ NÃO VOAM PÁSSAROS

Já não vejo pássaros voando no céu
Nem correrem rios pelos vales
Um grunhido apenas, certo chilrear
Bateres de asas das gaivotas;
A escuta dum simplório escarcéu
Dos namorados, seus males
Nem o amor rondando a acicatar
Junto ao roncar vindo das casotas

Não há pingos de chuva para beber
Q’os homens mataram os rios
Secaram bem no alto as nuvens
Após taparem a terra com alcatrão
Nada mais restando para perder
Sentir no próximo Inverno arrepios
Num corpo q’afinal tinha penugens
Como as crias esperando o verão

Longe, mais longe que a lonjura
Plana a visão de um amor perdido
Transformando’s rios em loucura

Crucifiquei-me, novo Cristo erguido
Ao deslembrar toda’uma postura
Para não ofuscar ‘orgulho adquirido

Cito Loio

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