sexta-feira, abril 29, 2011

Talvez marchem...!

NOVOS EMIGRANTES




Véu e amante

Suave foi o canto escutado
Que ecoou pela aldeia d’Aissintes
Badalos de campanário usado
Igreja do tempo dos pedintes
Onde muitos tinham partido afinal
Para as cidades, para a capital

Branca formosa e radiante
A noiva vestida de seda virgem
Trazendo véu e amante
Que tinha a mesma origem,
Ambos filhos de um solo arável
E qualquer deles saudável

Até o pároco safado
Se besuntou de reles perfume
Tinha dez mil reis cobrado
Numa confissão sem ciúme
C’a rapariga era prendada
Descendente de gente abastada

Cantaram meninos da sacristia
Beatas encontrando o refrão
Esquecendo toda a agonia
Que ensombra o coração
Querendo-se que o matrimónio
Excomungasse o demónio

Depois do sim talvez um dia não
Lá voou o arroz benzido
Lançado com a intenção
Que à noiva fosse concedido
A bênção da fertilidade
Depois de perder a virgindade

Já do porco não s’ouvia a chiadeira
C’a matança acontecera cedo
Vira o pipo sai bebedeira
Não há fartura que meta medo
Dança que não anim’o baile
Nem velhas que ná tenham xaile

E os noivos, que a vontade aperta
Numa escapulida à ansiedade
Que tudo tem hora certa
Até para certa promiscuidade
Decidiram que era tempo de deita
E largar tamanha seita

Findava o esperado casamento
Dois a marcharem pró estrangeiro
Que a tristeza não dá alento
O noivo não nascera caseiro
E o contracto era na Alemanha
C’o bom é lá que se ganha

Dívida atroz

Como o Zé e a sua Felismina
Milhares fariam mais tarde manguito
Rumando à Argentina
Que ficar, ficariam fritos
Num país sem pesca, agricultura
A sustentar muita cavalgadura

No frenesi da emigração
Deixaram o interior do país vazio
Campos pousio, perfeita degradação
Expostos ao calor ao vento frio
À rapina de qualquer empresário
Antes armad’em proletário

Nas Villages costumeiros manjares
Viagens paradisíacas, quais reis!
Lagosta nos jantares
Piscinas, diamantíferos anéis
Paredes-meias, a miséria humana
Fruto duma voragem insana

E a cada dia o país mais se afunda
Sob o peso duma dívida atroz
Discutida na barafunda
Atirando a culpa já para nós
Povo gastador, Vilão!
Culpado de culpas sem remissão

Ah! Memória padece amnésica
Das receitas d’emigrantes
Virada ao mercado da América
Petróleo – ai os diamantes
Sustento de um povo enlouquecido
O mando de qualquer bandido

Mas a pátria jamais será derrotada
A mudança fará história
Servida da consciência recuperada
Fará soar trombetas da vitória
Derrotando exércitos de corrupção
Reestruturando a Nação

Registo sem erros

Tão bom, que bom é poder sonhar
Com uma ‘nova’ realidade
A dum povo que se fizera ao mar
Hoje c’o a mesma necessidade
De lutar conta um novo Adamastor
Disfarçado de cobrador

Registo sem erros este presente
O PC a fazer correcções
Não crendo o futuro diferente
Do que s’escuta nos pregões
Anunciando que o enterro de Portugal
Trará lágrimas com muito sal

Mas renascerá dum epiléptico clarão
Novo arauto das descobertas,
Que fará esquecer El Rei D Sabastião
E os Sócrates das horas incertas
Políticos dálma vendida,
Restituindo a dignidade perdida

Remato…

Da minha mãe, a terra chorei
Ao cantar a pátria de minhá avó
Aqui dividido vagueei
No meio das multidões, tão só
Tendo as saudades por companhia
E efémeros momentos d’alegria

Cito Loio
(há qualquer coisa em mim)

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