sexta-feira, maio 12, 2017

Sem a bênção do Estado Novo...

E vão 41 anos, mais anos que a maior parte dos nossos deputados e políticos têm de idade, e em que servindo no exército português tive de optar por esta nacionalidade. Se pensarmos que devia ser contado a dobrar imaginem o quanto já penei
Consola-me finalmente ter percebido o que Camões escreveu, e já que a alma gentil tão cedo se apagou dos meus olhos nem calculam a dor que foi viver sem o pretendido. Por incrédulo nunca ousei pedir a Deus que me levasse desta vida terrena, pois a outra já a provara na maternidade.
E dos erros do meu passado não tive fortuna, antes lágrimas derramadas pelos sonhos em que, lutando, jamais consegui atingir o fim do sofrimento, levando-me as magoadas iras a tingir o rosto de descontentamento, por jamais ter acontecido uma aparição de Maria do Carmo
Ora quando se aproxima o dia da minha partida digo, que o discurso colocado em verso nada mais foram que o reconhecimento das sevícias que o desengano aplicou, pois desta Pátria sobrou-me a tristeza sem a colher gestos da revolução .Tal como Jesus, talvez seja um Cristo sem a bênção do Estado Novo, nem desta nova dissimulada e servil democracia.





PELA TERCEIRA VEZ


Fiz-me nascido cavalheiro a meu jeito;
_ porém, desembestado, evitei querelas
e ao rebolar seguro por corpos sedutores
escutei vãs palavras ditas sem sentido
rangendo os dentes com poucas cautelas.
- Mas um dia, vinda a noite traiçoeira
vestiu-me o luto pela segunda vez,
e banido o desespero afagada a revolta
coloquei em lápide o sobrado da fé
que o silêncio aludiu a um novo destino
pois o original para mim já se findara
numa terra sem ‘nome posto em tabuleta.

Tarde, sentado no banco da velha praceta
confessei a um cão que por ali passara
de futuro aprender a cantar outro hino,
e que voltaria a caminhar pelo próprio pé
instruído do fenecimento não haver volta;
_ por identificação afinal era português!
- Nas costas alguém disse, não foi ‘primeira,
a mãe de Jesus tomando o lugar delas,
que me levou a vestir roupas sem sentido
recebendo ordenações de impostores
que se serviam de homens sem mazelas,
sem nunca ousarem às balas dar o peito.


E fui tentando perceber diferentes ganidos;
_ mas também dei fé sumiço do dicionário
que na minha língua falava-se com rigor,
pois a mentira já fora banida pelo desprezo.
- Vinda certa madrugada paguei alto preço.
- Por avenidas não só sofria com o calor
mesmo acelerando o motor no “eixo-viário”
e revoltado ao ver ‘meus, por outros banidos,
concluí ser ‘Hino um fado metropolitano
os outros "dois efes" perigo pr'a liberdade,
novos barões usarem longas cabeleiras.
- Culpando-me na ponta da ilha d' asneiras,
sustento da minha ingénua lealdade,
duvidei se me deixariam u' dia ser angolano.


Quis a desventura, no ano de setenta e seis,
poder assinar, por opção, ser português!
- Longe “enterravam-me” mais uma vez
num luto que não era só meu, não duvideis...


Cito Loio
28-29/4/2017


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