sexta-feira, abril 28, 2017

PELAS BRASAS ATÉ AO DIA MUNDIAL DO TRABALHADOR

PELAS BRASAS



Resolvi escrever este conto, um que nunca mortal algum imaginou que pudesse e tivesse capacidade para realizar tal tarefa, mas não que fosse com do Harry Potter, um do tipo Regresso ao Futuro ou dos tais que falam dos extraterrestres, seres que sabemos só existirem no imaginário dos escritores para filmes de sucesso, ainda de miúdos que falam com múmias paralíticas incluindo as guerras entre bites e bytes; nada disso. Apenas um conto com pessoas reais de carne e osso que se confrontam com cenários estranhos, têm enxaquecas doenças tumorais e males classificados de demência de ordem vária mesmo que no final todos digam – mas que grande porcaria!
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Mas chegado a esta ponto já o leitor leu pelo menos a introdução o que não é nada mau para um iniciando na arte de driblar a curiosidade reconhecendo-me a vontade de escrever o que nunca foi escrito nem que tenha de começar com Era Uma Vez, um Gato Maltêz primo da Gata Borralheira concunhado da Cinderela compadre da Branca de Neve que se esqueceu dos 7 anões à entrada do bosque e acabou por ser comida pelo Lobo Mau que afinal não passa dum rico latifundiário servil amigo do 1º ministro eleito com votos dos simpatizantes do partido da oposição que afinal ganhara as eleições com menos votos que necessitou o Papa para ocupar o cargo de Sumo Pontífice, mas que num acto de grande dignidade pediu a demissão dando a oportunidade ao Partido dos Répteis para acabar com a maioria dos fala-barato com assento na Assembleia da República das Bananas, um país detentor da maior produção mundial de Chupa-chupas para adoçar a boca a criancinhas com mais de 18 anos de idade, com ou sem escolaridade obrigatória cumprida.

Embrenhado nestes pensamentos e olhando as paredes nuas da casa não dava conta do roncar das motas e carros que passavam irresponsavelmente em alta velocidade por sobre a rua estreita e com o asfalto molhado pela chuva outonal, nem as conversas de dos transeuntes de ocasião tecendo comentários impróprios para serem pronunciados na via pública agravado o facto de os fazerem em frente à janela da sala incomodando até os meus fantasmas que depois duma noite de tertúlia necessitavam descansar de manhã, somado ao chinfrim do puto que pontapeava a bola contra a janela do meu quarto armado em ponta de lança, e que traziam ao consciente imagens do tempo em que jovem, tanto quanto este, jogava umas futeboladas no largo à luz dos candeeiros públicos sem os danificar, se bem que muitas vezes apetecesse fundir uns quantos lampiões que prejudicavam o pessoal quando surgia a oportunidade de dar às meninas uns chochos molhados sob os raios complacentes das estrelas que compunham e compõem o Cruzeiro do Sul, uma constelação que mercado algum ou ditadura casuística se lembrou de colocar na bolsa de valores ou vender nos mercados.

A rádio passava um velho êxito do não menos idoso Charles Aznavour e fechando os olhos deixei-me embalar por Que c’est triste Venise ao mesmo tempo que permitia ao pensamento voar por Roma e Pavia, ambas que não se fizeram num dia, e outras igualmente belas cidades da história universal, tão belas quanto a bela Adormecida personagem que já não serve para os pais adormecerem os filhos pequeninos que ora preferem oferecer uns aparelhos esquisitos para as crianças se entreterem e acabarem por adormecer de cansaço enquanto eles fornicam à vontade no quarto ao lado, afim de terem mais filhos contribuindo para evitar o crescimento negativo da natalidade, e no futuro ministro algum precisar de mais 900 mil emigrantes para o país crescer e ele manter os seus privilégios no caminho da obtenção duma reforma descomunal paga com as notas que são fabricadas numa gráfica qualquer controlada pelo Banco Central da Europiada.

Mas algo não estava nos conformes e abri ligeiramente o olho direito que ao esquerdo dera a preguiça e eis que na parede em frente ao velho sofá, uma pequena e simpática centopeia da família dos miriápodes observava-me com curiosidade abanando incrédula as 4 patas dianteiras e quase lhe reconhecendo um franzir de testa. Evidente que (na linguagem dos mais novos substituo o évidement… por ‘claro’ e já agora não estou para ir ao dicionário ver como se escreve a palavra em francês) tratava-se de uma visão mirabolante porque toda a gente sabe que estes rastejantes não têm testa, já que quanto ao resto provavelmente são mais inteligentes que muitos dos humanos que desfilam pelos tapetes do poder e com os quais temos de gramar até que o Lacrau Gigante lhes acabe de vez com a raça, pretensão minha e disso não passa porque o bicharoco embarcou numa das naves interplanetárias que faz a ligação do Cais-do-Sodré ao planeta Restaterra onde foi recebido em apoteose e considerado o deus dos seres espezinhados pelos sapatos dos predadores humanóides numa demonstração inequívoca de falta de respeito pela mãe natureza.

- Pssst estás doente ó moço…

Era demais. Não queria nem podia acreditar no que se estava a passar. Como era possível um bicharoco daqueles a falar e ainda por cima a minha língua, e acto imediato arranhei-me para poder constatar ao vivo e com dores estar no meu perfeito juízo e verifiquei que de facto nada havia de mal na minha saúde física nem mental que as unhas provocaram um arrepio. Intentei levantar-me mas ele fez sinal com a pata para que ficasse no mesmo sítio e abanando a cauda, mantendo-se todavia à mesma distância não fosse o diabo tecê-las volta a falar.

… não vale a pena tentares matar-me com o chinelo porque não sou real mas sim espírito dum insecto que tem atravessado as décadas na tentativa de encontrar o meu antigo corpo que vocês humanos mataram sem que para tal lhe tivessem dado oportunidade de se defender em julgamento foi uma execução sumária aliás como tantas outras milhões de vezes ao longo da história do planeta aconteceu…

Sem contar puxa duma espécie de cigarro para bichos e afins e saca três fumaças atirando o fumo em círculos que subiram até ao tecto e se diluíram no ar que circulava pela sala numa espécie de corrente de ar que entrava por uma diminuta frincha. Depois deus uma volta sobre si mesmo e voltou a falar.

…e não vale a pena também utilizares essa porcaria do sheltox pois comigo não dá resultado e aproveito para te falar um tempo que se faz história pelo tempo que já se passou e que respeita à tua geração de meninos bardinas que corriam pelas matas ruas de terra quintais e esplanadas à beira praia e se escondiam estupidamente no fumo que os carros do tifo que pulverizavam as cidades para exterminar bactéria insectos e também rastejantes mas que afinal não resultou pois continuamos a proliferar o globo terrestre…

Uma pausa para apagar o cigarro e curiosamente não percebi para onde mandara a beata e lá continuou a consumir a paciência.

…e acredita se quiseres nós até fomos criando antídotos naturais contra essa carnificina multiplicamo-nos e conseguimos através de mutações criar novas espécies da mesma família porém deixa que te diga que o homem nem as pensa pois bem sequer deram conta que se estavam a prejudicar iriam aparecer mais tumores de pele doenças incuráveis cancros pulmonares enfim um total disparate que nós continuamos aqui claro que depois aqueles carros desapareceram para dar lugar à indústria de sprays em latas com umas tampinhas engraçadas com uma válvula por onde saída o produto mas no fundo o interesses não era defender a saúde colectiva mas apenas ensacarem milhões se bem que neste 2016 a coisa não anda lá muito famosa por cause da crise energética da bancária entre outras

Estava siderado perante a demonstração de conhecimento ao ponto de ter a boca seca e necessitar de beber um copo de água ou dar um gole pela garrafa acabando por me levantar do sofá. Acto contínuo a centopeia desaparece e vejo-me metaforicamente só. Que se passa que alucinação esta que terei bebido para que tal esteja a acontecer. Podia estar mais um bom par de horas a desenvolver teorias que a nada e a lado algum conduziriam razão que me fez repousar a cabeça numa almofada ocasional e tentar esquecer o sucedido. Passado pouco mais de 3 minutos um violento estrondo desperta-me. Olho de imediato para o telemóvel, vejo as hora, e o mostrador indicava 9:47 levando-me a exclamar

- Bolas adormeci e já devia ter saído há pelos menos 30 minutos vou chegar atrasado mas quem me mandou passar pelas brasas



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Inácio
20/21 de Novembro 2016-11-21 
Conto estranho

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