O QUE VOS LEGAREI
O QUE VOS LEGAREI
Sei q'um dia escreverei invioláveis versos
alargado poema, desconhecido princípio e fim
q'emocionará quem nunca ouviu falar de mim
achando-m'em cada frase homem controverso
para inabalável e na mais profunda dignidade
legar ao mundo toda 'indestrutível verdade.
Cantarei neles dores duma nação ultrajada
assaltado 'povo por quem perdido o respeito,
condecorou com medalhas o próprio peito
desprezando os bravos sem direito a nada
jogando-lhes insultos na forma de chacota
rindo dos que defenderam a própria Europa.
E permitirei que se louve por este punho
e se verta nas folhas duma velha sebenta
os que nascidos nos anos cinquenta
em actos tomados de forma mui louvável
defenderam terra q'era sua por Nascimento,
e outros que o fizeram por Juramento.
Deslizada a pena vereis no que me tornei
e ante memórias que jamais se apagarão
traço ora com letras que se agigantarão
nome do qual por sangue nunca m'esquecerei
que dum Adolfo herdei a vontade férrea,
de Homem, peito aberto à feroz miséria.
Constituídos estes verso num raro poema
saberá a humanidade extinguid'as guerras
só 'valorosos atingem o cume das serras
vendo d'alto quem deles nunca mostrou pena.
- Tardando o dia que este navio atraque
celebre-se a vida sem os sinos a rebate.
Contudo, anunciada a hora do meu final
e por terminar estej'esta nha última epopeia,
que dela apanhe novo trovador boleia
e glorifique identificado nome de Portugal
por perdida na distância todo 'encantamento
da terra que me viu crescer em sofrimento .
E de tal padecimento não chegaram avisos
ou sinais de bondade, causando dolo
antes vozes crispadas elevadas em coro
exigiram pena capital em gestos precisos
mui antes de desembarque a porto seguro,
intuito d'evitar saber-s'a verdade no futuro.
Hoje às vezes cansado trémulo o corpo
sustento ainda inusitada vontade de vencer
mantida mesma forma d'estar e de ser,
derrotados 'fantasmas num hercúleo esforço
pois só 'tempo ao engenho dá descanso
se terminada for esta obra num só canto.
Finita a angústia por engalanada praça
do génio o seu espírito imolar-se-á
entre aplausos novo brado emocionar-se-á
ao cantar a força desta antiga raça,
e num olhar de pureza com voz serena
dirá - enfim pôde dar paz à sua pena...
"Pousada a caneta q'um outro se levantou
já em tempo de desterro aceite 'castigo
seguirei destinação do q'antes fora escrito
continuando-se a obra que me valorou
constituindo est'última construção poética
farol que iluminará minh'alma até ora céptica"
Cito Loio
(Adeus mãe, adeus Maria,
talvez não tarde o dia)
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