quarta-feira, outubro 19, 2011

Dois homens sós...


Há Poemas que não necessitam de interpretação, definem o ser ou não ser, fomos ou não, que mochila carregamos no rincon del alma.
Poemas, destruindo-nos eleva-nos ao mesmo tempo ao templo dum Olimpo que queremos atingir. Dizem, e disse Pessoa, que o Poeta é um fingidor!
Nada mais imbecil esta afirmação quando se reporta ao que a alma leva e não consegue esconder. Fingimento é um defeito, uma atitude pré-estudada, um processo desvirtuado do crescimento enquanto seres humanos verticais - podemos fingir sim, escrever o que não sentimos, vender 2 quadras e 2 tercetos, receber por eles 10 ducados e 3 vinténs, mas jamais receberemos a paga pelas lágrimas que vertemos à beira rio, à beira mar...os peixes não pagam para ler!

 
QUE DE MIM NUNCA TENHAS DÓ

Virei a vida lançando petardos coloquei-a do avesso
Fui entre cabarés gastando o tempo, travesso
Numa adolescência sem contabilizar as carícias
Sempre presente, q’ viriam da humanidade sevícias

Corridos quarenta anos, ribombou por fim a explosão
Falou meu pai, soltou granadas do fundo do coração
Dela, sem dizer nome, disse pela primeira vez
_ És como tua mãe, Deus ma tirou mas igual vos fez!

Rebentaram todos os diques duma emoção contida
Cativei o riso sarcástico, respondi d’alma perdida;
_ Tenho dela a cor e um temível brilho no olhar
esta força q’ te ampara e nunca conseguiste domar!

Dez segundos, na sala estalou um silêncio absoluto
Murmúrio das primeiras notas duma sinfonia de luto;
Longe, olhando o mar para lá do Farol de Leça
Vi dois golfinhos bailando – actores da mesma peça

_ Sim, talvez tivesse sido esse tal Deus que ma levou!
a ti viúvo te fez mas apenas a mim órfão deixou!
igual a ela, a mesma carne mesmo sentir mesmo jeito
as mesmas virtudes, seguramente o mesmo defeito

...este nobre estorvo, o de morrer pelo amor do amor
mirar meninos pobres e sentir por eles tanta dor!
oferecer lágrimas para regar hortas da adversidade;
mataram cedo, permitindo tu, a minha mocidade

...destruíram quadros pintados no meu pensamento
e nunca desta boca escutaste algum lamento!
fiz-me homem no deserto, e morrerei como tu – só!
de igual modo exijo q’ de mim nunca tenhas dó...




Cito Loio

(Poema para dois homens sós)


Sim, foi num rincon da alma, que Lei guardou esta canção, e no meu guardei as asas para um dia voar até ela,,,

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