quarta-feira, setembro 26, 2012

E agora...!

De que me valeu ser filho de uma santa...melhor seria ser filho da puta...



TURBINAS DE DOR

Turbinas dos aviões, já ligadas,
do aeroporto de Luanda, maculado 
deixaram subentender marcadas
rotas dum regresso indesejado,
e as oportunidades desperdiçadas
pelo sentimento jamais renegado
d’ amor à pátria a todo o momento,
entre urina lágrimas padecimento

Do monta-cargas, já esquecido
Cito deixava q se visse sangrento,
explodir no peito resto de um grito
que não se faria crescer a fermento
como eco da impotência. Perdido,
enclausurada raiva sem unguento
revoluteava acidulado placa fora,
sabido q’ a morte não tinha hora

Segundos separavam-no da viagem
que outros, entre eles amigos,
malas às costas aspecto selvagem
perdida as forças sem velas cedidos,
iam-se sem caravelas, sem coragem,
pelos céus onde outrora perdidos
bravos lusos, rezavam ao Senhor
de cruz de Cristo ao peito, c’ fervor

Da mágoa remediado sem remédio
“menino homem” sem capa ou batina
bracejava impoluto contra’ tédio
visionando uma nova ave de rapina
que silenciosa, sem aviso prévio
traía ingénuo povo da pátria –menina.
- Sem a cruz dos antigos cruzados
brigava aos céus d’ olhos cerrados.

‘Deslutado’, recolhia a casa, em suor
vítima de num gigantesco infantário
ver-se injustiçado pela dor maior
de registar enternecido, num diário
o que da história contaria de pior
por não caber sano no imaginário
de quem lutara contra uma opressão
esquecendo cor credo ou condição!

Ó insensatez, vede ora como prelúdio
que dos tempos da descolonização
se repetem traições a este povo lúcido
desapossado pelo troar do canhão.
- Mostrava-se outrora, por repúdio,
envergado fardamento do respeito,
fluxo baptizado de Rio da Revolta
que afastava vivo, a dor à sua volta.

Que terras que gentes a que santos
legaram c’ presença testemunhal,
d’ ancestrais cemitérios c’ prantos,
o próprio solo, numa farsa sem igual
deixou Cito espalhado pelos cantos
a alma. Longe já da terra natal
vendo-se de novo ante nova traição
c’ fim à vista dizer, Basta, mais Não!

Cito Loio
19/9/2012

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