sexta-feira, junho 30, 2017

Talvez um dia se estenda ao país inteiro...


Acabou a primeira fase com o fim do ano lectivo, e mesmo sabendo que aderiram poucas famílias foi importante fazê-lo.

Verifiquei nos três meses de duração do projecto o quanto importante é as famílias unirem-se em volta dum projecto que não é oficial imposto curricular, antes partilhar com os jovens aceitando os os seus devaneios, e com a experiência adquirida com os erros ajudá-los na construção do futuro porque...este é como uma viatura sem marcha atrás.

Para o ano lectivo 2017/18 espero que outras escolas com outros técnicos desenvolvam este projecto. Simples: pais avós filhos e netos em aulas conjuntas.


Aos participantes, à Associação de Pais e ao Corpo Directivo da Escola Clara de Resende,  obrigado pela confiança e apoio na efectivação do projecto.


Boas Férias 


Adolfo Castelbranco d'Oliveira
30 Junho 2017

quarta-feira, junho 28, 2017

Aniversários...


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Não são 10 ou 20 anos, antes 4 décadas de solidão quando ante cobardes fardados de guerrilheiros soltámos do peito enfurecidos gritos desconhecendo que escondidos no capim nos esperavam com tiros certeiros, e hoje, ao entrar no Inverno da minha existência não tenho termómetro que marquem os graus frios destes derradeiros Verões.

Tarda mas o reencontro será de vez, e até lá, vou colocando no papel as palavras que te diria. 

Amo-te, 

segunda-feira, junho 26, 2017

Nada de exageros

Por vezes a vida obriga a esforços que estão muito para além das nossas capacidades genéticas razão pela qual, quando se sentir fraquejar ao levantar o corpo ou o copo, pegue nos halteres e faça alguns exercícios...

...mas cuidado com os exageros.

sábado, junho 24, 2017

Obrigado pelo que fizeram...

Provável a última vez que me refiro à tragédia ocorrida desde o passado dia 17, fazendo uma pequena reflexão.
Podemos escrever o que quisermos sobre os fatídicos, acusar quem quisermos, pedir a demissão deste ou daquela personalidade, culpar culpados ou inocentes chorar baba e ranho, carpir mágoas, verter lágrimas, colocar em causa as autoridades e o governo, enfim, podemos vir até para a Face à procura de tempo de antena com base em certezas ou incógnitas.
Podemos tudo o que um estado democrático permite que se faça ou diga...mas não podemos ressuscitar os mortos, razão pela qual nada mais direi sobre este assunto porque já respeitei por "eles" o minuto de silêncio que entendi estar-me obrigado.
Aos que pereceram obrigado pelo que fizeram pela terra pelo pátria, e por esta "raça" onde me incluo.

Inácio

quinta-feira, junho 22, 2017

NA GARE DA ESTAÇÃO

NA GARE DA ESTAÇÃO 


Esperava o comboio pacientemente; na cabeça um chapéu com uma fita azul, calças esfarrapadas nos joelhos, blusa de marca adquirida no chinês e sapatilhas com o símbolo da Nike. Mais à frente, muito bem-posto, um tipo vestido à anos cinquenta aprecia um gajo com ar de charlatão desapercebido do andar provocante duma mulher de cabelo ondulado mala preta, sandália castanha nos olhos um quase brilho mas baço sorriso forçado, é visível tristeza, e do lado oposto um esguio rapazote abana a mona ao ritmo kizomba parecendo surfar uma onda. No chão abandonado um pacote, algo dentro sem que alguém tenha a certeza ser lixo, mas provocando tal cagaço que nenhum dos presentes o apanha. Não havia greve mas vem atrasado, um homem verifica se traz o passe, uma velha de bengala leva um safanão mas opta por calar-se e lá se aguenta pois mais vale engolir a ter um desgosto enquanto de costas o neto faz um like no telemóvel, ostentando ar burguês igual a tantos outros fedelhos que andam na vadiagem nas praias do sul vezes sem conta com a família ausente.
Sem chamar à atenção, sorrateiro, um tipo de capuz com a cabeça coberta abandona o local. Ninguém impede e apenas um agente da bófia à civil franze a testa, dir-se-ia que estranha por estranho parecer o comportamento “Entrar na estação ficar junto à linha sair sem esperar pelo transporte que raio perpetrou o encapuçado”, e pela cabeça imagens dum bombista levantaram dúvidas ao policial decidindo partir em sua peugada como tratar-se dum confesso malfeitor disfarçado de punk múltiplas tatuagens piercings brincos e várias pulseiras. Porém a jovenzita de jeans sem peneiras desata a correr nas tintas pró pudor gritando como noive abandonada ao pé do altar já de vestido nupcial. - Só um ancião desfolhava uma revista, e já perito sabia-se velho para ser caçado, mas sem estar às portas da morte, nas tintas para a velha e sua ladainha. Súbito ouve-se um rebentamento e uma nuvem, coloração acastanhada, envolve a gare – parecia estar-se num covil sentindo-se um cheiro agoirento fede apelando sensivelmente à morte certa só faltando, fosse cortejo fúnebre, o coveiro.
Tranquilo, Josué Curtido Pinto Avestruz que assistia a toda aquela movimentação abana a cabeça em sinal de condena como se para ele episódios de terrorismo fossem seu sustento em cada dia,

- «Que raio deu nesta triste gentalha para entrar repentinamente em alvoroço» e sem demonstrar qualquer incómodo dirigir-se ao trem que finalmente chegava e amarrotando o maço de cigarros vazio e exclama com convicção, “nunca mais fumo”. 
Baixada a noite saboreando um sumo sentado numa esplanada à beira-rio Zeferino Amadeus Lapelas divagava.

- Sabes amigo Curtido de qualquer modo amanhã contamos contigo ao almoço a Lévia faz bacalhau com batata palha mas se preferes, vamos no ensopado de enguia deixa-te de tanto e grátis pessimismo pois há muito que já cumprimos a nossa pena.

Cobria a TV incêndio de brutal dimensão e não fora na gare da estação de Queluz.


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Cito Loio
16/Junho 2017

segunda-feira, junho 19, 2017

Como um soldado, como um louco,



COMO UM SOLDADO LOUCO


Como um soldado, como um louco
apago as chamas do meu inferno
jogando-lhes jacto de lágrimas
sem que me afogue na virtual felicidade
que por momento sustem o meu padecer.

E como um soldado, pouco a pouco,
permito que num momento terno
a alegria se apodere destas páginas
e retornado à bravura da tenra idade
tento destruir o que não pudemos vencer.

Ameia-a como nunca voltarei a amar
e da terra escavada à forma de braços
guardei de marcas o odor e os seus traços,

Ora, perdido já entre o céu e o mar
largo pedaços de terra que sustive
por desnecessário recordar que a tive.


Cito Loio

sábado, junho 17, 2017

Apátridamente



Será que o eurodeputado
 Manuel dos Santos
 tem algo contra mim!

Depois de cumprir serviço militar pelo Exército, chegado a Portugal, 1976  tive de optar por ser português
 "apátridamente" hablando, también era Gitano

quinta-feira, junho 15, 2017

Há contos e contos

Feriado, às vezes gosto outras não e há as vezes que nem é peixe nem carne. Mas estes dias oferecem-me a possibilidade de inventar histórias em forma de prosa poética tudo à causa duma certa relutância em fazer um poema, quase sempre passado à frente porque muito gente entende que os poetas são patetas. Provavelmente não leram Finis Patriae (1891) escrito por um gajo que ninguém fala e que escreveu <É negra a terra, é negra a noite, é negro o luar. Na escuridão, ouvi! há sombras a falar: > e que abusivamente atrevi-me a colocar os versos em prosa abordando a última estrofe de... 


Falam Choupanas de Camponeses:

Morreu a vinha, não dá uvas... É morto o velho camponês... Pedras levadas pelas chuvas... Tecto a cair... Órfãs e viúvas, Luto e nudez!

Para os meus amigos e para ti Guerra Junqueiro

Calou-se o Camponês


15 de Junho, por um minuto de silêncio absoluto suspendem-se presidenciais afectos, interrompem-se todas as manifestações e até os aviões abortam a descolagem. No terreno contíguo vestido de luto arrastava-se vagaroso um camponês por entre fetos recordando velhas canções - Uma vaca mugindo olhava a paisagem.
Comemorava-se mais um dia de feriado religioso com direito a banhos de praia, e na aldeia as viúvas vestiam as mais caras saias, mas na quinta do senhor Valério Raposo morrera de madrugada o boi que cobria a bovina de estimação de Zé Maria. 
Desabara o mundo, já nada restava, e sem herdeiros a vida perdera qualquer sentido, ao ponto que dois meses depois um negociante de ocasião, arrematava a vaca leiteira pelo valor dum penico.
Meava já naquele ano o mês de Agosto e enterrava-se um camponês vítima de desgosto.


Cito Loio
Inácio


quarta-feira, junho 14, 2017

Se fossem destas!!!

O mês de Julho é marcante para muitos e a memória nem sempre se apaga. 
Escaldava o tempo no jardim à beira mar plantado, e por terras do negro o cacimbo mostrava as garras, ao mesmo tempo que muitos catingas mostravam muito mais que isso nas barbas do exército português.
Bom Verão,  







BOTIJAS DE GÁS


Surgido o novo dia, e já desperto enfrentou o astro-rei em desafio mergulhando na praia da Restinga - Secado o corpo no morno areal aguardava-o mais um novo combate encavalitado num monta-cargas rodando pelo escaldante alcatrão.

- Chega essa palete mais perto
- Olha director telefone do seu tio
- Deita fora droga dessa seringa
- Xé aqui cheira mesmo bué mal!
- Como no correu ontem ‘engate
foi a morena ou a jeitosa das sardas
- Eh mano foi mesmo noite de cão…

Um ronco, mais uma descolagem, gente abalando para não voltar e outros que não chegariam a partir - Em terra ensurdecedoras buzinas, tiroteio sem nexo, puro terrorismo, compondo "slogans" de liberdade com falso sabor a fado tropical; _alguns até levavam na bagagem o que nunca se atreveriam a recordar.

- Pessoal está na hora de ir dormir
amanhã pulamos ao som de turbinas
- Chefe este aqui leva um autoclismo!
- É para quando lh’atacar a saudade
- Não tem disto em Portugal?

Cruzando o céu pássaros de ferro; _ no mar, alheio ao fratricídio, imergiam solitários os gaviões enquanto no chão, pintado a cores o Inferno, havia um díspar vaticínio sobre o destino de certos aviões enquanto na Base Aérea 9 reinava a paz, no Prenda rebentavam botijas de gás.


Inácio

Cito Loio 9/6/2017
Bairro Prenda:- perto do aeroporto Craveiro Lopes
Luanda Angola

domingo, junho 11, 2017

NO ÚLTIMO CONCERTO


Entrados no mês de concertos, verão, férias aprazíveis, corridas loucas sem para choques, decidi oferecer um conto a todos os pais e avós, e aos que um dia pensam vir a ser, mas especialmente aos jovens sonhadores que julgam só aos outros acontecerem as desgraças.





NO ÚLTIMO CONCERTO


Disparou "dois rufos" na pele dum tambor, aumentou o volume do simulador e após riscar caracteres sobre a pauta assoprou com determinação numa flauta. Quatro ou cinco notas eram para si bastante; depois já frente a uma avolumada estante pegou num livro de caricaturas de animais selvagens e fixado nalgumas das suas passagens cantarolou algo imperceptível dizendo, isto tem muito nível música da mais incomensurável qualidade boa demais para certo tipo de sociedade por isso o melhor é ir arrasar para o festival curtir alto som ver se me sai na rifa um bombom. 

E conseguiu, madrugava, e curtiu. Abanou o capacete como nunca se viu, e num lance da mais pura sorte engatou uma verdadeira gata que perdera o norte. Na pensão, entre gemidos e ejaculações Nico Sortudo prova soberbas sensações sem dar conta por muito divertido não ter usado aconselhável preservativo.

Não havia sido ainda descoberta cura para a sida, e nem sempre um tipo se cruza com a Bela Adormecida. Dois anos depois ajoelhada ante uma campa singela, chorava uma mãe, costureira, acendida mais uma vela.


Inácio



sábado, junho 10, 2017

Obrigado Luís Vaz




Hoje, é um dia especial. Obrigado  Luís Vaz pelo tanto que nos deste, e se lá no assento etéreo me leres corrige a minha ousadia de escrever por ti este soneto.








COM QUE FORÇA


Com que força pararei meu desagrado
por deste domicílio ter tido só vis traições,
e obrigado num grito simulando agrado
apaguei versos após múltiplas correcções.

Construído um albergue de acolhimento
elogiei então em prosas amores intemporais
rememorando à letra o mesmo batimento
sentido ante disparos traiçoeiros, fatais.

Reconhecido ser esgotado o último recurso
sem munições, restaram ecos de metralha,
em que compreendi ter a vida o seu curso,

E ora vergado pela idade, questiono:
- Com que força vencerei a última batalha
se ignoro vir um dia do futuro ser dono!



Cito Loio
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O Prémio Camões que a mim imponho;_ como ele jamais traí minha alma, que de tão gentil que era acabou partindo empurrada por golpes sujos desferidos por quem nunca usou a sua força para defender a única  Pátria que tinha.

(Adolfo Castelbranco d'Oliveira)


segunda-feira, junho 05, 2017

Obrigado Dulce Pontes

Dia Mundial do Meio Ambiente
...e que nunca me falte o MAR por sepultura.


E imaginei-me noutro lugar
onde agitando a loucura
chutava a bola junto ao mar
dando o que tinha de fartura

 (Memória do Inácio)
Obrigado Cito Loio


domingo, junho 04, 2017

Para quem perceber...

quinta-feira, junho 01, 2017

Dia Mundial (dalgumas) Criança


Sem palavras 

quarta-feira, maio 31, 2017

Vêm Aí Os Russos

Ao ler a notícia sobre este ataque lembrei-me do filme ( Vêm Aí os Russos) The Russians Are Coming de 1966, que tive o privilégio de ver em Luanda.




Navios da Marinha de Guerra russa no Mediterrâneo dispararam quatro mísseis de cruzeiro contra posições do Estado Islâmico na Síria, disse hoje o Ministério da Defesa da Rússia.
A declaração oficial de Moscovo indica que uma fragata e um submarino lançaram os mísseis contra posições do Estado Islâmico na zona de Palmira.
De acordo com Moscovo os disparos atingiram armamento pesado e combatentes que o Estado Islâmico tinha deslocado para Palmira e que se encontravam em Raqqa, um dos redutos do grupo armado em território sírio.
O ministério russo acrescenta que informou os Estados Unidos, a Turquia e Israel antes do ataque


sábado, maio 27, 2017

Deixem-nos em Paz

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Quando vejo a escória desta Europa que manda nos países sem serem eleitos, eles que nada ofereceram ao mundo a não ser a destruição dos valores humanos substituídos pelos défices excessivos, abriram as portas à emigração para que os seus cidadãos não sujassem as mãos a limpar o esterco que fazem e agora negoceiam com os bombistas as sua própria existência, apetece-me encarnar o papel de Anthony Quinn para dizer, aprendam a dançar e "deixem a Grécia em paz". 



sexta-feira, maio 26, 2017

...PRÓ PARAÍSO

Neste mês que termina, Maio, em que o Papa veio a Fátima perdoar as canalhices praticadas no mundo lusitano ofereço a sua eminência este pequeno conto sem correcções dado faltar pachorra para andar nos dicionários e correctores  da Google.
Todavia gostaria, se acaso o ler, que entenda tratar-se apenas de loucuras de um homem que há 5 décadas deixou de acreditar em milagres. 


SEM PASSAGEM PRÓ PARAÍSO


O vento soprava forte mudando por vezes a direcção impedido Luciliana Iria definir a proveniência apesar de estar inclinada a julgá-lo proveniente do leste por senti-lo frio e também pela intensidade mais acentuada quando o sabia vindo desse quadrante apesar que desconhecia o que significava o leste ou quadrante, mas para ela, ainda criança, era indiferente desde que a refrescasse e não atirasse poeira para os olhos sujando também a roupa dado que já tomara banho e a que custo, não estando com apetite ir para a escola mostrando um aspecto sujo mesmo que as colegas soubessem que morava numa quinta; às vezes na brincadeira dizia às amiguinhas – sou rica tenho uma 5ª situada entre a 4ª e a 6ª feira – uma afirmação sobejamente conhecida – trabalho ao Domingo para ajudar os meus pais e descanso os outros 5 dias – mas que a brincar ia gozando com as mais afortunadas algumas que por fortuna do destino ou golpada familiar levavam uma existência de princesas. Ainda na casa dos 11 anos, olhava para os rapazes com espírito de curiosidade já que para todos os efeitos ainda não despertara para lides de prazer como algumas das outras que possuíam telefones modernos com imagens e acesso à Internet, páginas pessoais acesso directo às variadas redes sociais e ao Domingo desfilavam pelas centro comerciais ou outros espaços de diversão alguns até mediatizados não pelo interesse lúdico mas porque existiam nobres causas que a C.S entendia vantajosas para o negócio dos ratings de audiência, sobretudo para certo cosmopolitismo.

O caminho de casa para à escola pública, única que aceitava gente de parcas posses, era de terra até à entrada da rua principal, onde se podia ver estupidamente colocada uma Igreja que se tornava a cada fim-de-semana o abrigo dos sem abrigos, hospital espiritual de tratamento para mentes e corpos de pecados pecaminosos, e ao mesmo tempo uma espécie de pensão barata destinado a coitos ilegais em que os maridos se deleitavam em prazeres carnais com peregrinas do sexo a baixo preço, muito devotas aos desígnios celestiais, percebendo-se que certas aparições só aconteciam depois do dia 25 de cada mês período em que se podia apreciar os fatos engomados comprados em saldo e as carteiras estavam ainda recheadas de euros – ajudai as prostitutas que delas será o reinos dos céus – e assim os machões contribuíam para que elas ou eles comprassem as passagens para o Paraíso.

Naquele alvorecer o relógio colocado da torre da igreja ainda não avisara as 7:30, que dava tempo a Luciliana para apanhar flores e jogá-las ao ar, apreciar os pássaros que voavam descuidados pelo denso arvoredo, e mais importante, sonhar. Pela mente adejavam filmes que nunca vira mas ouvira contar às “amigas” mais chegadas e sem evitar permitia-se abusivamente investir-se da pele das personagens, às vezes Capuchinho Verde, Branca das Papoilas, ou Pipi das Meias de Lã que o Inverno era frio e a lareira não aquecia o espaço da casa como faziam certos electrodomésticos que via expostos na montra da única loja da especialidade da vila, que entretanto já fora proposta e agendada a ascensão a cidade, e sorria quando era atacada por visões interiores que a colocavam na pele duma menina a caminho do altar onde a esperaria o Rei das Harmónicas, um menino que diariamente tomava o mesmo rumo, a partir pressupostamente do adro da igreja, até à escola filho da funcionária do Centro de Saúde que, sem que o marido soubesse, andava de namoro como presidente da junta da freguesia vizinha, tanto mais que a esposa do amante da dita funcionária era amiga do peito, ambas desconhecendo que se encornavam, fazendo jus ao ditado da melhor cama sai o cornudo, sendo que tudo isto escapava à imaginação de Luci, e também de Ferdinando Bocas que ia a cada manhã olhando de soslaio para os caniços da colega enquanto se imaginava a jogar o pião no pátio do Castelo da Decência, algo concebido pelo próprio e onde um dia instalaria o seu reino isentando pagarem ingresso todos aqueles que declaradamente fossem puros, algo que o deixava feliz só de pensar que enriqueceria no intervalo dum pestanejar.

Envolta neste pensar mirabolante, Luciana vê-se subitamente surpreendida por um mini relâmpago acompanhado pela entoação lancinante dum trovão na clave do Fá, e mais surpresa se vê porque o raio do dia estava limpo o céu lindo e azulado, as libélulas bailavam ao som dos acordes do vento e as gaivotas andavam pelo oceano, mas antes que o diabo as tecesse e não fossem apenas as malhas do império da bicharada, vai de se abrigar sob um solitário carvalho que escapara à destruição da floresta mediterrânica, servindo ainda para segurar um marco de sinalização indicador do sentido para o largo principal, e também para que os mais miúdos não se enganassem nas vielas do regresso indo atracar ao Bar Zétengana, e o pároco, vendo uma delas sozinha pregasse um sermão pondo-a de castigo a limpar o altar bem como outros apetrechos que a pequenada desconhecia utilidade e sequer seria do conhecimento do Presidente do Estado do Vaticano, espécie de reino da profanaria dado de abraços com o de um outro país que alardeava aos 7 ventos viver em democracia mas só beneficiando quem andasse metido em debates que versavam a legalidade de manter o país nas mãos dos familiares e amigos mais chegados e aos poucos iam vendendo as próprias calçadas de acesso à Santa Casa da Misericórdia, vendo através das árvores de médio porte uma imagem semelhante à que desatentamente olhava de soslaio colocada sobre o altar da igreja quando ocasionalmente por lá sirigaitava, parecendo que lhe fazia com os braços um sinal da cruz ao mesmo tempo que do peito, juraria, saíam raios iguais aos do sol num domingo de primavera, e atrás um desenho alegórico do paraíso forçando-a a ajoelhar-se perante tão deslumbrante painel místico, ao mesmo tempo quase cinéfilo. Enlevada ante tal visão queda-se atónita esperando ouvir uma reprimenda sobre o que não fizera dado que no mundo dos adultos as crianças eram sempre culpadas e ela não tinha idade para passar para o lado dos acusadores, por isso e na ingenuidade de menina impura dirige a palavra à imagem

- Não me castigue que não fiz nada eu juro 

Após 15 segundos de silêncio uma voz virtual dirige-se a Luci afim de a inquirir sobre a fé.

- E tu filha de Deus responde-me o que entendes por Pecado 
- Não sei pois nunca pequei
- Nem quando tiras uma fatia de queijo sem a mãe saber
- Não sabia que isso era pecado
- Sabes o que é a Arca de Noé
- Ouvi dizer que era uma casa muito grande onde um senhor meteu todos os animais para não morrerem no dilúvio
- E tu acreditas nessa história
- Acreditar não acredito mas se o padre fala nessas coisas deve ser verdade
- Acreditas no milagre de Fátima
- Acreditar não acredito mas se a Senhora fala comigo pode ser que seja verdade
- Não achas estranho que nunca tenha aparecido noutras partes do mundo
- Não o padre também aparece muitas vezes em casas diferentes
- Diferentes como
-Umas vezes na casa da falecida Gertrudes outra na da Camila, da Jequina, Patriciana e até já bateu à minha porta
- E não abriste
- Estava sozinha e não tinha a chave da porta

Antes que a imagem virtual voltasse a inquirir Luci novo relâmpago faz-se-lhe anunciar, desta vez sem trovão. Umas pequenas pingas de chuva começaram a cair levando a menina a desatar a correr para se abrigar sob o toldo duma vendedora ambulante inteiramente desconhecida e que jamais fora vista por aquelas bandas e que ao reparar no aspecto desgrenhado a raiar o mirabolante pergunta-lhe se vira algum lobo.
- Não senhora mas vi uma Santa
- Viste o quê
- Uma santa e até falou comigo
- Olha lá deves andar a ler coisas esquisitas
- Juro estava em pé sobre uma nuvem azulada
A mulher olha para o céu e sorri. Para lá do horizonte não se via algo que pudesse indicar alteração de clima, chuva, porque para esta era necessário que houvesse nuvens e virando-se de frente para a recém chegada dirige-se-lhe com um ar de professora primária.
- Já fizeste a 1ª comunhão
- Não senhora
- E o que queres ser quando fores grande
- Freira

Era hora de ir para a escola, enfrentar os colegas, mas algo lhe dizia ser melhor não falar na aparição, já a caminho, voltando a cabeça para trás dá conta que a vendedora o carro e o toldo tinham desaparecido, e sacudiu a cabeça na tentativa de acordar de um qualquer pesadelo. Seria muito difícil calar-se sobre o que se passara restando-lhe o tempo de caminhada para decidir sobre contar ou calar-se para sempre, mas à medida que se aproximava do portão percebia que algo estranho estava para acontecer, e tremeu, fechou momentaneamente os olhos, parecendo-lhe escutar, longínquo, uma voz conhecida quase impelindo-a para partilhar o sucedido, e no seu mutismo viu o tempo passar, crescida fazer-se mulher adulta, casou, teve filhos, vieram os netos até que um dia, deitada na cama duma velha casa de aldeia e já rodeada da família, sorrindo, confessou que um dia o falecido padre se aproveitara dela e que lhe dissera se alguma vez contasse a alguém ia para o inferno.  Dirigindo-se à neta mais nova pediu que ateasse a fogueira.


Inácio

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quinta-feira, maio 25, 2017

MAIO MILAGROSO

 


***

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Esta a ser um mês fantástico, quase no final, mês em que a AR até homenageou um rapaz que cantou na Eurovisão esquecendo-se todavia de homenagear colectivamente os pobres deste país que ainda sem Uso de Força nem Pedradas à Polícia contribuem para que os Deputados e outros vivam que nem Reis dando continuidade à venda do país aos bocados. 

**

Mas hoje,  precisamente neste dia 25 faria anos o meu pai, sim, faria...e não me esqueço pois esta data é muito mais importante que Fátima do Papa, Tetra do Benfica  ou O Amar do Corno. 

*

Resto dum bom Maio e apesar de não gostar particularmente desta musica aí vai em honra ao Zeca, e que se lixe pois continuo a ser o mesmo Inácio.


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segunda-feira, maio 22, 2017

Para mim CHEGA

Há alturas que já enfarta, a afirmação repetida de dizer que a Música não é Fogo-de-artificio ultrapassa inclusive imbecilidade que se podia escutar  da boca de alguém que, acaso tivesse vencido alguma coisa na vida, ignorasse e ofendesse os adversários desconhecendo o facto de sem eles não teria havido concursos, a menos que e no caso do Festival da Eurovisão pusessem Gatos a Miar e a Abanar a Cauda


Desconhecem certas individualidades que a Música são sons, como se pode constatar neste Silence em que Beethoven dispensou as palavras "igualmente sons" mas que colocadas num trecho musical dão origem a uma canção, razão  pela qual se denomina Festiva da Canção e não da Música 







Quanto a   fogo-de-artifício talvez desconheça o dito rapaz que se trata duma manifestação do Homem para comemorar  (só a exemplo) a passagem de ano..em Portugal como na China 




domingo, maio 21, 2017

INVENTEI PAÍSES


não sei se já  terei postado mas,,,, que se lixe 



INVENTEI PAÍSES



Ninguém visitou mais países do que eu
indo por ruas imaginárias, cidades q'inventei,
casas fabricadas com paredes virtuais,
vilas aldeias sem referência na geografia
em contracena com a beleza d'aurora boreal;
_ nelas proibi utilização de betão e asfalte
luzes que não oriundas dos velhos astros
quando bania guerras ódio e a 'enveja'.

Por todas procurei o que por direito era meu;
_ um rosto sereno que nunca afaguei
senti ao levantar a preguiça beijos matinais
ou enxugou-me 'lágrimas, e só eu sabia
donde provinha a dor e por ausente
enchidas de vazio a cada quadra de Natal
gritando - "tudo de mundano me falte"
que por vias lácteas caminhei de rastos
à procura no sonho o descanso que s'almeja.

Visitei países sim, em todas as noites,
excomungando entre bocejos e choros infantis
médicos que sem um pingo de vergonha
deixavam morrer grávidas ser ser de parto
guardada penicilina em consultórios particulares.
- Nesses países não havia réis com coroa
apenas uma rainha de Janeiro a Novembro,
pétalas na cabeça da cor da imaginação
e canteiros regados sem chuva da primavera.

Mas também nos sonhos se levam açoites;
_ afinal as cegonhas não vinham de Paris
as fadas boas eram tipas com muita ronha
fazendo com que delas depressa ficasse farto
e adormecida a família, findo os jantares
saltando virtuais janelas caminhava à toa
pintando 'mágoa no calendário de Dezembro
que a Virgem-mãe não me daria a mão
nem colo por muito que esperasse por ela.

Sim, visitei países inventados por mim
gravando a preto e branco idílicas imagens
para colorir se um dia fosse surpreendido.

E algures, ao toque dum verdadeiro clarim 
celebrar o último dia, e com coragem,
entre todos os que até então andarei perdido.


Cito Loio
Terminado a 27 de Março 2017

 
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