quinta-feira, junho 15, 2017

Há contos e contos

Feriado, às vezes gosto outras não e há as vezes que nem é peixe nem carne. Mas estes dias oferecem-me a possibilidade de inventar histórias em forma de prosa poética tudo à causa duma certa relutância em fazer um poema, quase sempre passado à frente porque muito gente entende que os poetas são patetas. Provavelmente não leram Finis Patriae (1891) escrito por um gajo que ninguém fala e que escreveu <É negra a terra, é negra a noite, é negro o luar. Na escuridão, ouvi! há sombras a falar: > e que abusivamente atrevi-me a colocar os versos em prosa abordando a última estrofe de... 


Falam Choupanas de Camponeses:

Morreu a vinha, não dá uvas... É morto o velho camponês... Pedras levadas pelas chuvas... Tecto a cair... Órfãs e viúvas, Luto e nudez!

Para os meus amigos e para ti Guerra Junqueiro

Calou-se o Camponês


15 de Junho, por um minuto de silêncio absoluto suspendem-se presidenciais afectos, interrompem-se todas as manifestações e até os aviões abortam a descolagem. No terreno contíguo vestido de luto arrastava-se vagaroso um camponês por entre fetos recordando velhas canções - Uma vaca mugindo olhava a paisagem.
Comemorava-se mais um dia de feriado religioso com direito a banhos de praia, e na aldeia as viúvas vestiam as mais caras saias, mas na quinta do senhor Valério Raposo morrera de madrugada o boi que cobria a bovina de estimação de Zé Maria. 
Desabara o mundo, já nada restava, e sem herdeiros a vida perdera qualquer sentido, ao ponto que dois meses depois um negociante de ocasião, arrematava a vaca leiteira pelo valor dum penico.
Meava já naquele ano o mês de Agosto e enterrava-se um camponês vítima de desgosto.


Cito Loio
Inácio


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