terça-feira, setembro 23, 2014

Homenagem a Amália



AMÁLIA, há muitas!

O início da primavera de 1976 não diferia doutras já passadas, só que no ano transacto Nácio não estava em Lisboa nem em Portugal, mas isso eram águas idas. Verdadeiramente queria pôr uma coberta nos anos anteriores e andar para a frente, precisava de resolver a sua vida, encontrar emprego pois o dinheiro que dispunha estava a acabar e não podia recorrer ao pai ainda em terras do velho ultramar, num país que se fizera de novo se bem com muita coisa velha.
Na semana anterior, ficara com o Mercedes 200 D a diesel pertença do pai da namorada e por preguiça saíra do hotel onde estava instalado levando-o, antes de ir ter com a namorada e parara-o em cima do cruzamento a pouco mais de 500 metros do local de partida para tomar café e mesmo tendo deixado a chave na ignição não se livrou de repentinamente e olhando pela montra da pastelaria ver uma carrinha a bloquear as rodas e começarem os preparativos para o reboque. Não lhe serviu de nada pagar o café e sair a correr para informar que estacionara há 3 minutos, e lá teve de ir levantar o carro ao local que lhe indicaram e desembolsar o que lhe fazia falta para outras coisas.
Estando ainda fresco na cabeça o episódio e mais leve a carteira, naquele dia e por razões similares deixou o carro no parque do hotel, pois combinara com a namorada que só estava despachada por volta das 17h encontrarem-se no hall do hotel o que lhe dava tempo para café e regressar ao hotel fazendo o percurso a pé, poupando no combustível e na chatice. Não gostava do café do bar do hotel e por isso optara por tomá-lo sempre fora e estranhamente naquele início de tarde, talvez por birra talvez porque ainda andava encabulado com o que lhe acontecera na semana anterior, decidiu não ir à pastelaria do costume (Pastelaria da Esquina). Antes de chegar à esquina onde se situava a referida loja, do passeio do lado contrário existia um café muito pequenino onde nunca entrar mesmo passando em frente da porta todas as vezes que ia ao outro. Já decidira a mudança quando saíra do hotel sem definir o local e por conseguinte aquele espaço até podia servir desde que servissem café e pressupostamente os cafés servem para servir café, mas adiante, dado interessar isso sim a escolha que o personagem fizera, e este decidira tomar café no tal café de reduzida dimensão.
Parou à entrada da porta do (Bar Pequeno) ficando com a impressão de estar cheio, o que não seria difícil dado só ter 4 mesas, 2 para 3 pessoas e 2 com apenas duas cadeiras, e tudo porque o espaço dentro era de tal modo diminuto que obrigou o proprietário a prescindir de 6 cadeiras. Hesitou breves segundos acabando por entrar, e já na sala confirmou o que suspeitava; estava a abarrotar ou seja, 9 pessoas sem contar com a empregada que possuía ar de dona, e que o era de facto.
No canto do lado esquerdo duas mesas de 2 lugares cada e completas, ficando um pequeno espaço entre estas e o balcão o que permitia no máximo 2 pessoas tomarem algo ao balcão e mesmo assim incomodando um pouco quem estava sentado. Do lado direito a primeira mesa estava cheia e a mais afastada em relação a si deixava ver duas senhoras e uma cadeira vazia.
Estático percorreu o espaço com o olhar dando a entender a quem lá estava que vinha disposto a ser atendido mas que não lhe agradava ficar de pé, se bem que só tomaria café e o porquê prendia-se não só com o tempo livre que dispunha mas também aproveitar para alinhavar alguns escritos e fazer contas à vida, colocar no papel possibilidades de emprego ou na pior das hipóteses retornar a Luanda apesar que não tinha autorização do pai e do seu antigo chefe para o fazer, dado que o perigo para ele ainda estava latente e dificilmente passaria, e sabia bem o porquê.
Encolhendo quase imperceptivelmente os ombros fez tensões de se retira, e já meio de costas a dona do bar chamou-o indicando que olhasse para a mesa onde estava as duas mulheres e a cadeira vaga, e ao fazê-lo percebeu que a pessoa que estava de frente para a entrada lhe fazia sinal indicando-lhe a cadeira vazia. Ambas eram mulheres entradas em comparação com ele, uma mais loura que a outra a outra mais nova que a primeira, ambas rodando a casa dos 55 anos para cima dando-se a ares de manas mas não podia assegurar tal.
Ainda de pé e já junto à mesa reparou melhor na mulher que lhe fizera sinal e percebeu estar muito bem vestida, se bem que singelamente, sem artefactos que denotassem ostentação de riqueza, dona de cabelos ondulados onde o loiro disfarçava alguma brancas, um olhar que mostrava alguma amargura, busto forte, e mãos expressivamente normais. A outra aparentava o mesmo ar apesar que o loiro era menos loiro, dir-se-ia mais castanho, um pouco mais liso falando do cabelo. A voz da primeira fazia lembra os poemas de Camões, soprano meio adocicado levando o jovem a pensar que aquele timbre era perfeito para cantar fado. Já a companheira era o que se podia considerar uma voz banal.
Nácio cumprimentou as mulheres primeiramente com um ligeiro aceno de cabeça e depois com o trivial boa tarde sem se sentar por não saber se o tinham chamado para que partilhasse a mesa com elas ou para lhe fazerem uma daquelas já cansativas perguntas que se prendiam com a tez morena com o seu aspecto de português de 5ª categoria, já que não tinha ar de cigano, e só a ignorância o poderia confundir.
- Sente-se por favor
Aceitou o convite. Não viria mal ao mundo conversar com duas estranhas, nada perderia nem ganharia a lotaria, até seria interessante falar com desconhecidas num café algures numa cidade que ainda há 2 anos atrás era capital dum Império e que se enchera de retornados por obra e graça de políticos nacionais e internacionais. A mais loira tinha ar de quem era chefe da banda, pelo menos pelo à vontade com que tomara a decisão do convite, não se fazendo rogada e perguntando o nome ao mesmo tempo que diz o seu sem que este se percebesse com nitidez e o da companheira dito quase em surdina
- Chamo-me Nácio
- Não és português ou vieste de fora?
- Sou cheguei há pouco sou retornado como vocês dizem
- Dava para perceber queres tomar alguma coisa…
- Vim só tomar café e é a primeira vez que entro aqui por norma vou ali mais à frente
A mesma mulher perguntou-lhe o que o fizera mudar de poiso e lá contou a história do carro provocando-lhes um sorriso, dando origem a que a outra comentasse que o sucedido fora inadmissível.
O tempo corria, a conversa podia considerar-se aceitável tendo em conta a diferença de mais de ¼ de século entre eles, mas o que era de mais cansava e também não sentia ter muito para partilhar com duas perfeitas desconhecidas ainda por cima temas que em nada lhe diziam respeito, e deu entender que teria de se ausentar recebendo anuência para tal.
Despediu-se da mesma forma como as cumprimentara À chegada e dirigiu-se ao balcão para pagar a despesa, que era de 3 cafés, pois elas nada mais tinham consumido, sendo informado que estava tudo pago. Virou-se para a mesa e ofereceu um sorriso aberto, sem saber o que pensariam dele. Provavelmente nunca mais as encontraria, possivelmente não voltaria àquele café ou elas mudariam de sítio, que para o caso pouco importava.
Ao chegar ao hotel o relógio da recepção marcava 16:20. Sentou-se na sala de estar, e reviu mentalmente o que ocorrera, pensando que no fundo tinham sido simpáticas, não lhe tinham feito perguntas despropositadas, e também não o chatearam com dramas do tipo o homem deixara-as, era um desavergonhado, e outras coisas de menor importância.
Três semanas depois começaria a trabalhar para as bandas do Barreiro, num estaleiro em Alhos Vedros deixando de ter possibilidade de tomar café nas proximidades do hotel até porque tinha de apanhar o metro das 6 da manhã depois o barco só regressando por volta das 21 horas certamente extenuado.
O tempo passou, e um belo dia, sem saber bem porquê, estando em Queluz, talvez porque o bar era muito pequeno recordou-se das duas mulheres com quem tinha tomado café a convite duma delas para se sentar na mesa e ia caindo da cadeira baixo, quando um nome estranho lhe bateu na cabeça; a mulher quando se apresentara dissera um nome que na altura lhe parecera indecifrável até porque não era nome muito comum na sua terra de origem e Amálias por Portugal havia muitas, mas só uma tinha a voz de quem o fazia lembrar Camões.

FIM
Inácio
(memorias)
(21/9/2014)


Rendimento de Inserção

LONGE AS CARREIRAS DE TIRO



Rola a Marlines desde o Marshopping
segura; embarcada viajante a pobreza
carrega sonhos marcados a custo zero,
entre embrulhos feitos com esmero
e um bodo para servir de ceia à mesa;
_ à noite no noticiário, futebol e dopping


Nova viagem e o puto quer u’ telemóvel
último modelo; paga evitando conflito
o padrasto q’aufere rendimento d'inserção.
- Pode mais o amor à mãe que a razão
sobrando pró fim do mês calado e aflito
venda ao desbarato do seu último imóvel.


Face à ordem dum tribunal impiedoso
já não restando bens para penhora
decide por honra o homem ir-se embora.


Só, assumido chefe de família, desgostoso,
roda carregado ‘tambor da velha pistola.
- Pum! - Surdo, brinca o enteado na escola




Cito Loio
3/9/2014
(poema escrito na viajem Marshoping e o Boavista FC)


segunda-feira, setembro 22, 2014

Não sabem o que fazem...

João Sousa não ganha em Metz mas as considerações sobre esta matéria deixo-as para os jornalistas  da especialidade.

Agora o que me deixou surpreso foram os pedidos de desculpa da ministra da Justiça e do ministro da Educação.
Garanto ter ficado sensibilizado pelo facto e sobretudo pela humildade com que o fizeram levando-me. mesmo não sendo crente, elevar as mãos aos céus e pedir:

Senhor desculpai-os, eles não sabem o que fazem..

*Se a moda pega viro mesmo crente

sexta-feira, setembro 19, 2014

Visa Gold para o Ténis

Nem só de Ténis vive a modalidade.

Preferia não comentar a derrota de Portugal frente à Rússia na Davis Cup tendo em conta que indo para o terreno de jogo uns perdem outros ganham e outros empatam mas não em modalidades como o Ténis

Contudo e após ler alguns comentários acabei por não ficar indiferente ao sucedido sobretudo perante (diz o jornal) um rapaz de 16 anos integrar a selecção russa, e que treinou com o Nadal e outras coisas.
Evidente que o nosso país tem um grande jogador (abaixo dos 40 atp) mas está em Espanha há mais de 8/9 anos já lhe perdi a conta, outros que andaram por fora também outros ainda que andam e segundo constou muitos poderão adquirir através da Federação um Visto Gold para os Estados Unidos.

Retomando o caso russo Talento foi o que de imediato me ocorreu; daí questionei-me sobre o que tem sido feito nestes últimos 10 anos no ténis em Portugal e concluí que esta derrota se deveu única exclusivamente ao facto dos russos terem ganho no campo.

Claro que o programa de detecção de Talentos da FPT é do melhor que conheço na vertente da exclusão de jovens para a prática competitiva acrescido que a formação de técnicos não deixa qualquer dúvidas à sua académica concepção mesmo que no campo prático os resultado sejam esclarecedores e por último a institucionalização dos centros de alto rendimento são inequivocamente um sucesso.

Assim, e dado que a FPT se tem pautado por um exemplar exercício de gestão técnica/financeira/desportiva,devemos afirmar que perdemos porque os outros são melhores em todas as áreas e contra factos não haver argumentos.

Resta então ao país, a começar pelo Secretário do Desporto e Governo, questionar o que a Federação fez e faz, e qual o resultado prático dos «exercícios» ao longo dos últimos mandatos; talvez não fosse necessário aumentar impostos aos reformados.


Adolfo Castelbranco Oliveira

domingo, setembro 14, 2014

POR AUSÊNCIA...

MORTE POR AUSÊNCIA

Morreu-me uma amiga, por ausência
e longe, soltei gritos de afogo
por tantos enganos que por ela cometi
_ que pecados deixei por conta
enclausurado na ilusão que me oferecia
a cada sorriso a cada emudecimento
sem pânico, guardada a esperança!
- Morreu-ma, e por demência
baralho, dou de novo, e abro o jogo
sentindo solto tudo o que perdi;
_ sem que partisse para a afronta,
registo em verso tudo que se esvaía
antes que a loucura tome conhecimento
e me devolva fantasma de infância.

Fenecida amiga que vivas eternamente!
_ eu, choro a falta, choro com verdade
pelas ruas da liberdade a mim fechadas
e ao dares-me fatos de luto, lentamente
vagueio na tristeza da liberdade
com esperas indultas por frustradas

Morreu, longe, e desligada a chamada
comprei a solidão a troco de nada…
…e da aquisição feita ao tormento
tudo arrematado não dá meu sustento!

Cito Loio
26/8/204

quinta-feira, setembro 11, 2014

Também eu...

TAMBÉM SANGRAMOS
(soneto aos poetas)

Saiu à rua todo prazenteiro,
no seu passo felino, elegante
alternando sombras, ligeiro
num pulo aqui, outro adiante

No pulso lenço de seda c’ cheiro
de perfume, dera-lh’a amante.
- Sorrira não fora o primeiro
e se último, não havia garante

Esvoaçado ‘cabelo descolorado
pelos anos pela amargura
de saber-se ora abandonado

rodava da esquerda à direita a mão
evitando ver-se abatida figura
e doloroso sangrar pela comoção

Cito Loio
25/08/2014

terça-feira, setembro 09, 2014

Arranha-me




A ARRANHADELA


Sentiu tremores nas partes provocados por suculentas lambedelas nos testículos ao mesmo tempo que um espirro languinhento alagava a cara da matrona ao compasso duma estereofónica sinfonia em gargalhadas da vagina relegando para secundário plano trinados duma guitarra no fado coimbrão “tem mais encanto na hora da cuspidela”
Joseff Endurecido, não imaginava Patty Conafunda tão exímia na arte do croché de boca cheia e rendas em ponto cu.
A casa de banho, escolhida por questões comerciais para o desenrolar da cena, era apertada de mais para sexo tradicional mas permitia desenvolver chupões em pé e passar o corredor a língua sem reclamações ou refilanços dos debochados.
Súbito o artista, garanhão cheio de tatuagens na bunda à boa maneira das reses dos filmes de índios e cowboys americanos sentiu uma valente arranhadela no rabo estranhando o facto porque a companheira estava de joelhos e segurava com ambas as mãos o pénis mostrando os olhos esbugalhados pela ejaculação precoce que lhe enchera a boca de viscoso líquido razão pela qual aquela agressão não fora de sua autoria, mais surpreso ficando por dar fé não haver pregos nem artefactos pontiagudos no WC.
A porca miséria e a vida dum actor de filmes clandestinos por vezes oferece grandes surpresas e no caso presente, Joseff artista porno reparou, meio escondido atrás do bidé, a presença dum tareco de pelo cinzento e taxa arreganhada e de imediato Joseff dirige-se ao bichano com dedo ameaçador mas ao mesmo tempo complacente dizendo prefirir que lhe tivesse arranhado o rabo a  uma «Amélia» a arranhar-lhe a alma.
Sobra da história a moral que resulta do episódio, e a oferta de um conhecimento ancestral e dum outro de cariz científico.

Dizem os antepassados:

Os gatos têm 7 vidas
Confirma a ciência:

Os bichanos têm unhas


Inácio

6/9/2014

sábado, setembro 06, 2014

Na hora...sem dor

Uma amizade para além do sangue
(Há 55 anos)
 My brother Tomás Pedro Veiga e Cito (me) 
e connosco um fiel companheiro 
.






 WELWITSCHIAS DE VELUDO
(Às mulheres que amei e à minha terra natal)

Não chores Angola na hora da despedida
que meu falecimento não deve tardar
finda que será contada tão larga ausência
desde o tempo que de ti me fui de ida,
sem veres as mágoas na hora de embarcar
num voo que carreguei com consciência

Que vos não sequem as lágrimas por mim
mulheres de memória, desencanto meu,
por vestidas nunca vos querer de luto;
_e se após decretado irreversível o fim
virem que o defunto vosso nada esqueceu
forrem ‘campa c’ Welwitschias de veludo,

excluam do tampo imagem c’ dedicatória
num jazigo que desejo em chão brilhante
tão igual c’ que pautei carácter e dignidade.

Mas aceito forrado caixão c’ a sua história
um punhado de terra, mar, e cintilante
o primeiro livro, e este poema de saudade

Cito Loio

5/9/2014

quarta-feira, setembro 03, 2014

Que triste Perafita!

E Agora!
Que farei sem ti





QUE TRISTE PERAFITA


Triste Perafita sem canções de amor
risadas dos meninos traquinas
envolvidos em diurnas neblinas
donde não surge Sol ou calor
ao som de maintenant q’ vais je faire;
(What now my love)
_ ó mon amour, a solidão fere...

Mais penosa porém fica a noite escura
fechada em mim e que m’empresta
desembainhada força igual sob tempesta
à dos navegantes, pele curtida e dura.
- Sem fato de Quixote com mazelas,
já só sinto odores de Cinderelas

Cito Loio
31/8/204 


sexta-feira, agosto 29, 2014

Perfídia

Sábado 30 16 h na Praia da Aguda Dunas Bar
Poesia 
(essa que já vou perdendo o engenho)
Magia
(que a vida me ensinou a não confiar)
Música
(que muitas mulheres já me deram até que fiquei surdo)


NÃO FOI POR VONTADE DE DEUS

Sorrisos fingidos não m’alimentam
nem amizade aquece nha cama,
havendo outras que não me tentam
com enganos ou pérfida trama
antes batem asas arejando ’amores
…mudas brisas alívio pr’as dores

Qual musa dos selfies c’ ingenuidade
slogans batidos c’ outros já gastos,
montaste uma teia a linhas de falsidade
avivando, para me aprisionar, rastos,
rindo-te em recolhimento da carência
que perto esteve levar-me à demência

Que vida tua sem mim afastado de ti?
- Caminharás sozinha, braço dado,
ou que lar ‘escolhido pra teu consolo?

Por inabordável, não viste o que sofri,
e já esquecido, atrás muros relegado
faço-me à noite sem te provocar dolo

Cito Loio

quinta-feira, agosto 28, 2014

Quem diria !






terça-feira, agosto 26, 2014

Estranho refém


DE DÉCADA EM DÉCADA FEITO GATO


Em 1974 vestia luto ao envergar a farda do exército português
Chegado 1984 via-me pela vez de luto ao ver-me separado fisicamente do primeiro filho
Em 1994 separavam-me do segundo, enterrava meu pai, era 3º e 4º fatos de negro pano.
2004 e pela vez vi-me de preto em Agosto ao ganhar um processo disciplinar.
Corria também Agosto/2014 e colocava o  fato preto por morte da Ilusão.
Será que em 2024 me vestirão um fato completo de cor preta! terão mesmo os gatos apenas 7 vidas?


ESTRANHO E REFÉM.


Ó gentes deste vosso meu singular país
q’ me roubaste ‘ilusão em nha terra,
saibam desta vossa não ganhei raiz,
e tão pouco vos declarei a guerra.

A causa vossa carpiu-me vadia ‘alma
dormida sob fotos de defunta mãe,
e corridas lágrimas, por segura a calma
unívoco sentir-me estranho, refém.

Repudiando cobranças anos a fio
dei o q’ de melhor sobrado conservei;
_ suprema vontade que vos confio
num carácter q’igual jamais encontrei

Porém vós, quais meretrizes da decência
visaste nesta afável e cruel solidão
um novo Mártir acirrado pela carência
sem física cruz, mas d’igual paixão.

E tal Pilatos, viradas as costas à verdade
assistiram, silente queda ferido ‘puma,
‘meus passos pela sacra via da saudade
mágoas cruéis entre aplausos de tribuna


Cito Loio
(Terminado a 20/8/2014)


terça-feira, agosto 19, 2014

NUSKA, Ontem


UMA LADY CHAMADA NUSKA

 

Amanhecera cedo, o dia de verão anunciava-se quente já àquela hora da manhã. Sobre as 8:10 com o jardim municipal da freguesia de Massamá, Sintra, ainda vazio, Lady Nuska bamboleava-se em direcção ao relvado bem conservado para a época tendo em conta tratar-se dum espaço municipal em tempos de crise. Circundava o local muitos prédios com aspecto agradável, bastantes vivendas pelas cercanias, não desprezando as construções sociais que também elas emprestando ao cenário aceitável, apreciação sobre o ponto da visualização dos edifícios em termos estéticos.

Alguns bancos colocados debaixo do arvoredo que invadi o jardim (titular-se-ia um quase private garden) convidavam preguiçosamente ao cigarro viciante se bem que Lady Nuska não fumava; aliás, de igual modo não bebia álcool, refrigerantes ou coisas similares contentando-se com água pura fresca e corrente se possível de qualidade, aceitava que fosse engarrafada nos dias de maior calor não dizia não. Após breves instantes de indecisão entre a madeira dos bancos e o macio da relva optou por passear nesta, percorrendo o terreno na extensão da sua ária que tão bem conhecia e dominava.

Nas ruas de acesso ao Largo do Chafariz o tráfego fazia-se sentir engrossando as filas com carros de várias marcas modelos e ano de fabrico, percebendo-se serem dum parque automóvel antiquado, não obstante na zona morar o primeiro-ministro, que ultimamente andava desaparecido de cena, não passeando os cachorros, algo que dava um enorme prazer a Nuska quando via o rapazola fazer de ama-seca dos caninos, mas que o facto dele não aparecer era coisa de somenos importância para ela, desde que alguém fizesse o que teria de ser feito, dado que simpatizando com os bichos não morria de amores pelo bicho maior.

Focalizando as árvores não via nem ouvia pássaros, outro tipo de animais que não lhe causavam encanto sobretudo os passarões sem penas, as pombas cagadeiras, tal como certas donas que sujavam o recinto ao deixarem os cachorros cagar e não apanhavam as fezes. Como era possível tal. «Será que lá em casa também defecam na sala e deixam a merda secar na alcatifa ou varrem para debaixo do tapete?» e deixou fruir mais um pensamento conclusivo. «Há gente que também devia usar trela»

Tinha tempo, todo o tempo do mundo, e verificando um pequeno tufo de relva bem tratada verdejante e limpa resolveu dar uma estirada abanando o corpinho na frescura, enquanto longe, a sua maior amiga, Milúcha, olhava para ela mas não se decidiria, tinha a certeza, de mergulhar na liberdade, talvez porque o reumático dos seus 58 anos a impedissem ou o tipo de roupa não se adequasse ao capim. Lady Nuska bafejou de incompreensão; “aquela gaja não se deita neste paraíso mania que assalta algumas ladies chiquíssimas…que se dane eu gosto e ponto final” e suspirou fundamente. Refastelada deixou vaguear a lembrança por momentos de solidão em que, no recato do lar, deitada na cama aquecia a alma da sua amiga, friorenta e achacada a maleitas.

Anos antes dera conta e avisara, desconfiada de algo grave que Milucha poderia sofrer não sabendo no entanto que “raio de coisa era aquela”; sem credo seu certo. Caída no hospital foi detectado um tumor na tiróide, felizmente operada com êxito e atempadamente; momentos difíceis, angustiantes só de pensar no fim que podia estar reservado para a sua amiga. Não que importasse o seu destino, mesmo que fosse um canil. Importante era a saúde dela, a relação íntima entre ambas, o conforto nas noites de Inverno e a auto-protecção declarada e tacitamente aceite.

«Como a vida é cruel, porque teriam de sofrer os seres vivos, animais e humanos, porque não eram como as pedras rochas a água do rio que corre e falecendo vai a enterrar no imenso mar, porque não ser como o vento que corre livre envolve montanhas, acaricia pêlo e cabelo, seca a roupa no estendal, afasta as poeiras incómodas e os mosquitos parasitas, traz a chuva e leva os vírus, e conforme nasce no mesmo silencio fenece! »Ó Milúcha olha que vida de cão não é assim tão ruim» Fechou os olhos por momentos rainha do seu mundo. Biscoito antes e depois da refeição, um espreitar de quem passa na rua, um olhar atento ao “gato preto” que circulava nos jardins e um assinalar de, ‘aqui há vida’

Tempo de retomar o passeio matinal coisa que não dispensava chovesse pedras ou caíssem raios e coriscos. Que se danasse a procissão, os putos a chafurdar na relva quase enlameada, as poias dos cães, e os dejectos de outros cães. Para ela importava manter a actividade, um pouco de ginástica ao acordar consistindo apenas num breve espreguiçar, e que bem sabia. Estava-se nas tintas para que fosse incorrecto; havia outras coisas piores que eram permitidas e não só, até oferecidas na TV, tais como touradas, políticos a desdizer o que antes prometeram, mas também não estava para aí virada dado que pouco percebia ou mesmo nada de governação.

Lady Nuska era uma verdadeira ‘dama’ naturalista desde nascença. Não conhecera pai nem mãe, fora recolhida por Milúcha e humanizara-se; a sua relação com as pessoas era digna de constar num almanaque de fraternidade, ou nas licenciaturas em Sociologia.

O caminho percorrido até então estava fora do conceito instintivo parte da sua essência. Na verdade não conhecia outros a não ser uma espécie de barrocas nas imediações, montes desérticos confinando com ruas praças prédios e vivendas lá do sítio. Asfalto, alcatrão, empedrado, bocas-de-incêndio, escadas de pedra, água aprisionada nos canos, bocas em forma de torneiras e torneiras com orelhas, pessoas nos carros, luz que não vinha das estrelas nem do sol, enfim, modernices próprias de quem é naturalmente frágil. Até usavam casacos e abafos no tempo frio. A natureza dotara o homem de inteligência mas privara-o da incomensurável felicidade de ser genuinamente feliz, mas ela era feliz, não dispensando volta e meia de um cu tremido de carro; ‘pelava-se’ por ir de passeio ao jardim maior, lá para as bandas de Queluz, ou apreciar a beleza arquitectónica das serranias de Sintra. Milucha chamava!; faltava completar o giro, comprar quatro pães e a tradicional nata não sem antes esta emborcar um café sem açúcar.

Óbvio o seu dia-a-dia ser rotineiro monótono até, mas o seu bem-estar contemplava precisamente esse modus vivendi desde que intercalado com uma ou outra novidade, algo de surpresa, novas vistas novos cheiros, o mesmo planeta. «Como seria a praia! Nunca tinha ido, nunca usaria fato de banho, mas havia coisas que eram intrínsecas até nos animais. Nuska sabia nadar sem que alguma tivesse necessidade de vir a ter aulas de natação, dado possuir esse instinto de sobrevivência, ou não fosse ela um produto quase perfeito da natureza. “Mantenha a zona limpa, coloque aqui os dejectos do seu cão; mas que raio de coisa era aquele caixote exíguo com um montão de saquinhos cheios de cocó de cão?” Porque razão era só de cão! E de cadela! Questões de ordem filosófica, semântica, masculinidade, ou talvez que certos conceitos tivessem sido colocados a público no tempo anterior à verdadeira emancipação do sexo feminino!

Cont……..


Este romance fora iniciado há cerca de dois anos, desde quase em simultâneo ao momento em que ficara impedido de ver Lady Nuska por razões que ainda hoje não consigo digerir nem entender, mas por falta de contacto com a personagem não segui com o entento. Talvez um dia adquira coragem para dar conclusão ao enredo.

Dizia, numa chamada telefónica na noite de 31de Julho deste ano, 2014, certamente não voltar a ver a protagonista principal. Premonição, chamem o que quiserem, mas algo dentro, um sentimento quase a raiar o absurdo dizia algo estar para acontecer e que seria ruim. Já meses antes Nuska sujeitara-se a uma segunda operação delicada para extracção dum tumor na cabeça, e Milúcha estava em dúvida permitir a operação ou não, e a dúvida residia no facto que na primeira intervenção cirúrgica fora problemático acordá-la depois de sair da banca de operações; verificara-se que afinal era potencialmente cardíaca. Ao telefone alertei-a ser preferível a intervenção e ficar-se sem sofrer nem dar conta sob o efeito da anestesia geral, do que andar a desfazer-se aos poucos garantido um desgosto permanente e dor a quem com ela partilhava casa e tempo e magoar quem à distância tanto gostava dela. A minha posição acabou por chamá-la à razão optando-se pela operação, com sucesso, e Nuska ‘acordou pós intervenção’ dando mais momentos de felicidade e companheirismo à amiga.

Desinteressa para a história se a minha postura é relevante, mas já é importante o que se passou depois do telefonema de fim de Julho. A 12 de Agosto, uma dúzia de dias depois quando o dr. Luís Cardoso Rocha, advogado e grande amigo me comunica telefonicamente que Nuska falecera.

Quem diria, 10 dias depois de ter dito que se calhar nunca mais a veria. Luís referiA-me dois dias depois o facto de Milucha ter dito que eu ainda havia de passear muito com Nuska; evidente que sim, quando nos encontrássemos no etéreo, se me reconhecesse ou eu tivesse direito a um lugar no céu.

Morreu Nuska, uma Pastora Belga, uma cadela de verdade, das que têm 4 patas e esta tinha-as de facto. Mas mais do que o desaparecimento dum animal, sentido como sentira a doutros que tivera, Bala, Dog, Pitadas; morrera ‘nha Nuska’, a ponte para épocas duma juventude que teima em avivar-se a cada letra, palavra, partícula, frase, parágrafo, verso, romance, conto ou poema. Vai-se a memória agigantando e com ela renascem fantasmas, dores de parto, gritos de morte, as cores da mata, o negro (cor do seu pêlo) do asfalto das pistas da minha revolta.

Para ela escrevi versos em formato de poema. Hoje fraquejo, esvai-se a o engenho e arte percebendo em definitivo que ao romance «Uma Lady chamada Nuska» jamais colocarei a palavra FIM, mas presto-lhe a última homenagem em nome da nossa cumplicidade, das corridas à vinda do pão, do 1º banho de mar que tomou, das recusas face aos doces que não queria, e sobretudo pelo olhar do seu último adeus à janela do 1º andar duma casa situada algures em Massamá.

Se voltarei a ver Milucha, se alguma vez mais entrarei na sua casa são interrogações que me assaltam, mas de todas as dúvidas que possa contabilizar uma certeza coloco no final.

Nunca mais verei Nuska…

 

TUDO DE MIM SE ARRANCA

(Soneto a Nuska)

 
Quero declamar um poema de verdade
sem palavras ferindo folhas duma sebenta,
rasuras com choros tamanhos de saudade,
q’esta nova juventa não deseja ou aguenta

Testemunho, projecção sem gabo de poesia
seja sustentáculo de lanças c’ pontas de fogo.
- Cravado rasgue a carne, leve a agonia,
Dispensando ofertas de lágrimas sem rogo

Seja poema projecto duma dança com a cadela
sob vénias, consentimento da dona dela,
editado muito para além de soprada a vela

Trajado luto por decisão, uso de veste branca,
recrio o sonho indo além da zona franca
num poema maior que tudo de mim arranca.

 

Cito Loio  (Inácio. Finalizado a 14 de Agosto de 2014)

 

 

terça-feira, agosto 05, 2014

Ai mãe


sábado, julho 26, 2014

Oxalá onde estejas eternamente



Por motivos de saúde  este espaço terá as publicações suspensas







Adolfo Inácio
24/7/214

quinta-feira, julho 24, 2014

Ainda tinha sonhos ...


POEMA A UM SEM AMOR 


Ao Inácio,
 um sem-abrigo impedido de amar por falta de quem o ame 

 

Fiz da minha vida um inferno 
ao partir duma terra sem inverno; 
_ já ausente alimentei a saudade 
escrevendo missivas c' verdade 
e animando a custo tristezas 
restaurei sem o cinzel das incertezas 
sonhos que carecendo de volta 
impediram ver-se o fel da revolta 

Envelhecido demais, descontente 
vi-me chegado ao dia presente 
cruzado com a mulher da minha vida 
imagem ainda consentida; 
_ porém era só ninfa de um sonho 
(pesadelo a que me não oponho) 
e já sem soluços nesta encruzilhada 
concluo ter-me alimentado do nada! 



Cito Loio 

24 Julho 2014 

segunda-feira, julho 21, 2014

Por amor....


O tipo não pensou que mais valia parar antes de terminar bêbado por causa dos amores duma cadela....

terça-feira, julho 15, 2014

SE DEUS MUDAR DE COR

Quando Deus nos provoca....



SE DEUS MUDAR DE COR


Esvai-se-me a vida por entre dedos,
apertadas mãos reprovo medos
salto precipícios enfrento titãs
esculpindo o sul todas as manhãs

A norte ganhei mais que traição,
e negando-me ‘Barcelona ou Milão
por impedido dei meu regresso
cantando ‘nha’ outra terra em verso

Dela, recebo todas as primaveras
por aves de arribação vestindo luto
notícias que ‘calor não mata feras!

Obrigado a conviver com a dor
repouso rugas em lençóis de veludo
e rezo para que Deus mude de cor


Cito Loio

 
Web Analytics