sábado, outubro 27, 2012

Último poema que te escrevo

Dedicado a “Lei” Manuel do Nascimento Oliveira, regressado de Angola corria o ano de 1982, um retornado que não foi incluído nas estatísticas de 75.

A 27 de Outubro de 1953 Manuel era um homem feliz; estava marcado para o dia seguinte o nascimento do seu 1º filho.
A 1 de Novembro morria a sua mulher, mãe do seu único filho, vitimada perla incúria racista de uma maternidade branca.

O que o amor unira, os homens separavam. 4 décadas depois, a natureza voltava a unir. 

Nascidos em terras diferentes, foram a enterrar em terras distintas. Ela em São Paulo da Assunção de Luanda, ele em Leça da Palmeira/Matosinhos, uma terra que não chegou a conhecer.


DESTINO DUM RETORNADO


Ficou sim, agarrado ao sonho e andando
Guardou em África por entre sombras
Lembranças curtas da sua amada,
Doce silhueta leve e apetecível
Pedaço da vida, restos de mel açucarado

E viu-se pela guerra enclausurado
Presa de arena mantida pose inconfundível
Como nau de uma extinta armada,
Sob fogo, e por cima de revoltas ondas
Sobreviveu; _ já pouco navegando!

Solitário velho escanzelado e doente
Regressou sem data de registo
Ao velho continente que o vira partir

Sem gemidos, cerrado punho e dente,
Envergou um fato barato de negro tecido
E decidiu morrer. - Fê-lo a sorrir!

Cito Loio

Sem comentários:

 
Web Analytics