quarta-feira, setembro 24, 2014

NEM HINO NEM BANDEIRA






(Poema a Schi e a todos os que lutaram por um país novo sem poderem cantar o hino e içar a bandeira na própria terra)




SEM BANDEIRA AO MASTRO


Nas vibrações da ventania, quando calha,
escuto ténues gemidos em plena batalha
um olhar molhado de rosto suplicante,
findo o sonho num aceno de amante.
- Ruído o muro na fronteira sem ser país
perdi da terra, perdida ela, nome e raiz.
- À deriva sem carta de timoneiro, em luta
cantei enlutados pregões q’ ninguém escuta
evocando de Jesus Cristo a ressurreição,
sabido que da tumba rasa revolto o chão
não s’ergueria apaziguando meu sofrimento
quem por mim dera a ‘vida em juramento

Ó lamentos meus com registo imaginário
esfumem-se na poeira do tempo q’ temerário
rodei secreto por campos de angústia
aceitando por novo ter-me faltado astúcia
numa guerra que só por suposta era minha
ao desconhecer as traições que continha.
- Sob o céu estrelado ainda vejo fenecer o astro
sem acordes hoje d'hino ou bandeira ao mastro




Cito Loio
(1973, recuperado em Setembro 2014)


terça-feira, setembro 23, 2014

Homenagem a Amália



AMÁLIA, há muitas!

O início da primavera de 1976 não diferia doutras já passadas, só que no ano transacto Nácio não estava em Lisboa nem em Portugal, mas isso eram águas idas. Verdadeiramente queria pôr uma coberta nos anos anteriores e andar para a frente, precisava de resolver a sua vida, encontrar emprego pois o dinheiro que dispunha estava a acabar e não podia recorrer ao pai ainda em terras do velho ultramar, num país que se fizera de novo se bem com muita coisa velha.
Na semana anterior, ficara com o Mercedes 200 D a diesel pertença do pai da namorada e por preguiça saíra do hotel onde estava instalado levando-o, antes de ir ter com a namorada e parara-o em cima do cruzamento a pouco mais de 500 metros do local de partida para tomar café e mesmo tendo deixado a chave na ignição não se livrou de repentinamente e olhando pela montra da pastelaria ver uma carrinha a bloquear as rodas e começarem os preparativos para o reboque. Não lhe serviu de nada pagar o café e sair a correr para informar que estacionara há 3 minutos, e lá teve de ir levantar o carro ao local que lhe indicaram e desembolsar o que lhe fazia falta para outras coisas.
Estando ainda fresco na cabeça o episódio e mais leve a carteira, naquele dia e por razões similares deixou o carro no parque do hotel, pois combinara com a namorada que só estava despachada por volta das 17h encontrarem-se no hall do hotel o que lhe dava tempo para café e regressar ao hotel fazendo o percurso a pé, poupando no combustível e na chatice. Não gostava do café do bar do hotel e por isso optara por tomá-lo sempre fora e estranhamente naquele início de tarde, talvez por birra talvez porque ainda andava encabulado com o que lhe acontecera na semana anterior, decidiu não ir à pastelaria do costume (Pastelaria da Esquina). Antes de chegar à esquina onde se situava a referida loja, do passeio do lado contrário existia um café muito pequenino onde nunca entrar mesmo passando em frente da porta todas as vezes que ia ao outro. Já decidira a mudança quando saíra do hotel sem definir o local e por conseguinte aquele espaço até podia servir desde que servissem café e pressupostamente os cafés servem para servir café, mas adiante, dado interessar isso sim a escolha que o personagem fizera, e este decidira tomar café no tal café de reduzida dimensão.
Parou à entrada da porta do (Bar Pequeno) ficando com a impressão de estar cheio, o que não seria difícil dado só ter 4 mesas, 2 para 3 pessoas e 2 com apenas duas cadeiras, e tudo porque o espaço dentro era de tal modo diminuto que obrigou o proprietário a prescindir de 6 cadeiras. Hesitou breves segundos acabando por entrar, e já na sala confirmou o que suspeitava; estava a abarrotar ou seja, 9 pessoas sem contar com a empregada que possuía ar de dona, e que o era de facto.
No canto do lado esquerdo duas mesas de 2 lugares cada e completas, ficando um pequeno espaço entre estas e o balcão o que permitia no máximo 2 pessoas tomarem algo ao balcão e mesmo assim incomodando um pouco quem estava sentado. Do lado direito a primeira mesa estava cheia e a mais afastada em relação a si deixava ver duas senhoras e uma cadeira vazia.
Estático percorreu o espaço com o olhar dando a entender a quem lá estava que vinha disposto a ser atendido mas que não lhe agradava ficar de pé, se bem que só tomaria café e o porquê prendia-se não só com o tempo livre que dispunha mas também aproveitar para alinhavar alguns escritos e fazer contas à vida, colocar no papel possibilidades de emprego ou na pior das hipóteses retornar a Luanda apesar que não tinha autorização do pai e do seu antigo chefe para o fazer, dado que o perigo para ele ainda estava latente e dificilmente passaria, e sabia bem o porquê.
Encolhendo quase imperceptivelmente os ombros fez tensões de se retira, e já meio de costas a dona do bar chamou-o indicando que olhasse para a mesa onde estava as duas mulheres e a cadeira vaga, e ao fazê-lo percebeu que a pessoa que estava de frente para a entrada lhe fazia sinal indicando-lhe a cadeira vazia. Ambas eram mulheres entradas em comparação com ele, uma mais loura que a outra a outra mais nova que a primeira, ambas rodando a casa dos 55 anos para cima dando-se a ares de manas mas não podia assegurar tal.
Ainda de pé e já junto à mesa reparou melhor na mulher que lhe fizera sinal e percebeu estar muito bem vestida, se bem que singelamente, sem artefactos que denotassem ostentação de riqueza, dona de cabelos ondulados onde o loiro disfarçava alguma brancas, um olhar que mostrava alguma amargura, busto forte, e mãos expressivamente normais. A outra aparentava o mesmo ar apesar que o loiro era menos loiro, dir-se-ia mais castanho, um pouco mais liso falando do cabelo. A voz da primeira fazia lembra os poemas de Camões, soprano meio adocicado levando o jovem a pensar que aquele timbre era perfeito para cantar fado. Já a companheira era o que se podia considerar uma voz banal.
Nácio cumprimentou as mulheres primeiramente com um ligeiro aceno de cabeça e depois com o trivial boa tarde sem se sentar por não saber se o tinham chamado para que partilhasse a mesa com elas ou para lhe fazerem uma daquelas já cansativas perguntas que se prendiam com a tez morena com o seu aspecto de português de 5ª categoria, já que não tinha ar de cigano, e só a ignorância o poderia confundir.
- Sente-se por favor
Aceitou o convite. Não viria mal ao mundo conversar com duas estranhas, nada perderia nem ganharia a lotaria, até seria interessante falar com desconhecidas num café algures numa cidade que ainda há 2 anos atrás era capital dum Império e que se enchera de retornados por obra e graça de políticos nacionais e internacionais. A mais loira tinha ar de quem era chefe da banda, pelo menos pelo à vontade com que tomara a decisão do convite, não se fazendo rogada e perguntando o nome ao mesmo tempo que diz o seu sem que este se percebesse com nitidez e o da companheira dito quase em surdina
- Chamo-me Nácio
- Não és português ou vieste de fora?
- Sou cheguei há pouco sou retornado como vocês dizem
- Dava para perceber queres tomar alguma coisa…
- Vim só tomar café e é a primeira vez que entro aqui por norma vou ali mais à frente
A mesma mulher perguntou-lhe o que o fizera mudar de poiso e lá contou a história do carro provocando-lhes um sorriso, dando origem a que a outra comentasse que o sucedido fora inadmissível.
O tempo corria, a conversa podia considerar-se aceitável tendo em conta a diferença de mais de ¼ de século entre eles, mas o que era de mais cansava e também não sentia ter muito para partilhar com duas perfeitas desconhecidas ainda por cima temas que em nada lhe diziam respeito, e deu entender que teria de se ausentar recebendo anuência para tal.
Despediu-se da mesma forma como as cumprimentara À chegada e dirigiu-se ao balcão para pagar a despesa, que era de 3 cafés, pois elas nada mais tinham consumido, sendo informado que estava tudo pago. Virou-se para a mesa e ofereceu um sorriso aberto, sem saber o que pensariam dele. Provavelmente nunca mais as encontraria, possivelmente não voltaria àquele café ou elas mudariam de sítio, que para o caso pouco importava.
Ao chegar ao hotel o relógio da recepção marcava 16:20. Sentou-se na sala de estar, e reviu mentalmente o que ocorrera, pensando que no fundo tinham sido simpáticas, não lhe tinham feito perguntas despropositadas, e também não o chatearam com dramas do tipo o homem deixara-as, era um desavergonhado, e outras coisas de menor importância.
Três semanas depois começaria a trabalhar para as bandas do Barreiro, num estaleiro em Alhos Vedros deixando de ter possibilidade de tomar café nas proximidades do hotel até porque tinha de apanhar o metro das 6 da manhã depois o barco só regressando por volta das 21 horas certamente extenuado.
O tempo passou, e um belo dia, sem saber bem porquê, estando em Queluz, talvez porque o bar era muito pequeno recordou-se das duas mulheres com quem tinha tomado café a convite duma delas para se sentar na mesa e ia caindo da cadeira baixo, quando um nome estranho lhe bateu na cabeça; a mulher quando se apresentara dissera um nome que na altura lhe parecera indecifrável até porque não era nome muito comum na sua terra de origem e Amálias por Portugal havia muitas, mas só uma tinha a voz de quem o fazia lembrar Camões.

FIM
Inácio
(memorias)
(21/9/2014)


Rendimento de Inserção

LONGE AS CARREIRAS DE TIRO



Rola a Marlines desde o Marshopping
segura; embarcada viajante a pobreza
carrega sonhos marcados a custo zero,
entre embrulhos feitos com esmero
e um bodo para servir de ceia à mesa;
_ à noite no noticiário, futebol e dopping


Nova viagem e o puto quer u’ telemóvel
último modelo; paga evitando conflito
o padrasto q’aufere rendimento d'inserção.
- Pode mais o amor à mãe que a razão
sobrando pró fim do mês calado e aflito
venda ao desbarato do seu último imóvel.


Face à ordem dum tribunal impiedoso
já não restando bens para penhora
decide por honra o homem ir-se embora.


Só, assumido chefe de família, desgostoso,
roda carregado ‘tambor da velha pistola.
- Pum! - Surdo, brinca o enteado na escola




Cito Loio
3/9/2014
(poema escrito na viajem Marshoping e o Boavista FC)


segunda-feira, setembro 22, 2014

Não sabem o que fazem...

João Sousa não ganha em Metz mas as considerações sobre esta matéria deixo-as para os jornalistas  da especialidade.

Agora o que me deixou surpreso foram os pedidos de desculpa da ministra da Justiça e do ministro da Educação.
Garanto ter ficado sensibilizado pelo facto e sobretudo pela humildade com que o fizeram levando-me. mesmo não sendo crente, elevar as mãos aos céus e pedir:

Senhor desculpai-os, eles não sabem o que fazem..

*Se a moda pega viro mesmo crente

sexta-feira, setembro 19, 2014

Visa Gold para o Ténis

Nem só de Ténis vive a modalidade.

Preferia não comentar a derrota de Portugal frente à Rússia na Davis Cup tendo em conta que indo para o terreno de jogo uns perdem outros ganham e outros empatam mas não em modalidades como o Ténis

Contudo e após ler alguns comentários acabei por não ficar indiferente ao sucedido sobretudo perante (diz o jornal) um rapaz de 16 anos integrar a selecção russa, e que treinou com o Nadal e outras coisas.
Evidente que o nosso país tem um grande jogador (abaixo dos 40 atp) mas está em Espanha há mais de 8/9 anos já lhe perdi a conta, outros que andaram por fora também outros ainda que andam e segundo constou muitos poderão adquirir através da Federação um Visto Gold para os Estados Unidos.

Retomando o caso russo Talento foi o que de imediato me ocorreu; daí questionei-me sobre o que tem sido feito nestes últimos 10 anos no ténis em Portugal e concluí que esta derrota se deveu única exclusivamente ao facto dos russos terem ganho no campo.

Claro que o programa de detecção de Talentos da FPT é do melhor que conheço na vertente da exclusão de jovens para a prática competitiva acrescido que a formação de técnicos não deixa qualquer dúvidas à sua académica concepção mesmo que no campo prático os resultado sejam esclarecedores e por último a institucionalização dos centros de alto rendimento são inequivocamente um sucesso.

Assim, e dado que a FPT se tem pautado por um exemplar exercício de gestão técnica/financeira/desportiva,devemos afirmar que perdemos porque os outros são melhores em todas as áreas e contra factos não haver argumentos.

Resta então ao país, a começar pelo Secretário do Desporto e Governo, questionar o que a Federação fez e faz, e qual o resultado prático dos «exercícios» ao longo dos últimos mandatos; talvez não fosse necessário aumentar impostos aos reformados.


Adolfo Castelbranco Oliveira

domingo, setembro 14, 2014

POR AUSÊNCIA...

MORTE POR AUSÊNCIA

Morreu-me uma amiga, por ausência
e longe, soltei gritos de afogo
por tantos enganos que por ela cometi
_ que pecados deixei por conta
enclausurado na ilusão que me oferecia
a cada sorriso a cada emudecimento
sem pânico, guardada a esperança!
- Morreu-ma, e por demência
baralho, dou de novo, e abro o jogo
sentindo solto tudo o que perdi;
_ sem que partisse para a afronta,
registo em verso tudo que se esvaía
antes que a loucura tome conhecimento
e me devolva fantasma de infância.

Fenecida amiga que vivas eternamente!
_ eu, choro a falta, choro com verdade
pelas ruas da liberdade a mim fechadas
e ao dares-me fatos de luto, lentamente
vagueio na tristeza da liberdade
com esperas indultas por frustradas

Morreu, longe, e desligada a chamada
comprei a solidão a troco de nada…
…e da aquisição feita ao tormento
tudo arrematado não dá meu sustento!

Cito Loio
26/8/204

quinta-feira, setembro 11, 2014

Também eu...

TAMBÉM SANGRAMOS
(soneto aos poetas)

Saiu à rua todo prazenteiro,
no seu passo felino, elegante
alternando sombras, ligeiro
num pulo aqui, outro adiante

No pulso lenço de seda c’ cheiro
de perfume, dera-lh’a amante.
- Sorrira não fora o primeiro
e se último, não havia garante

Esvoaçado ‘cabelo descolorado
pelos anos pela amargura
de saber-se ora abandonado

rodava da esquerda à direita a mão
evitando ver-se abatida figura
e doloroso sangrar pela comoção

Cito Loio
25/08/2014

terça-feira, setembro 09, 2014

Arranha-me




A ARRANHADELA


Sentiu tremores nas partes provocados por suculentas lambedelas nos testículos ao mesmo tempo que um espirro languinhento alagava a cara da matrona ao compasso duma estereofónica sinfonia em gargalhadas da vagina relegando para secundário plano trinados duma guitarra no fado coimbrão “tem mais encanto na hora da cuspidela”
Joseff Endurecido, não imaginava Patty Conafunda tão exímia na arte do croché de boca cheia e rendas em ponto cu.
A casa de banho, escolhida por questões comerciais para o desenrolar da cena, era apertada de mais para sexo tradicional mas permitia desenvolver chupões em pé e passar o corredor a língua sem reclamações ou refilanços dos debochados.
Súbito o artista, garanhão cheio de tatuagens na bunda à boa maneira das reses dos filmes de índios e cowboys americanos sentiu uma valente arranhadela no rabo estranhando o facto porque a companheira estava de joelhos e segurava com ambas as mãos o pénis mostrando os olhos esbugalhados pela ejaculação precoce que lhe enchera a boca de viscoso líquido razão pela qual aquela agressão não fora de sua autoria, mais surpreso ficando por dar fé não haver pregos nem artefactos pontiagudos no WC.
A porca miséria e a vida dum actor de filmes clandestinos por vezes oferece grandes surpresas e no caso presente, Joseff artista porno reparou, meio escondido atrás do bidé, a presença dum tareco de pelo cinzento e taxa arreganhada e de imediato Joseff dirige-se ao bichano com dedo ameaçador mas ao mesmo tempo complacente dizendo prefirir que lhe tivesse arranhado o rabo a  uma «Amélia» a arranhar-lhe a alma.
Sobra da história a moral que resulta do episódio, e a oferta de um conhecimento ancestral e dum outro de cariz científico.

Dizem os antepassados:

Os gatos têm 7 vidas
Confirma a ciência:

Os bichanos têm unhas


Inácio

6/9/2014

sábado, setembro 06, 2014

Na hora...sem dor

Uma amizade para além do sangue
(Há 55 anos)
 My brother Tomás Pedro Veiga e Cito (me) 
e connosco um fiel companheiro 
.






 WELWITSCHIAS DE VELUDO
(Às mulheres que amei e à minha terra natal)

Não chores Angola na hora da despedida
que meu falecimento não deve tardar
finda que será contada tão larga ausência
desde o tempo que de ti me fui de ida,
sem veres as mágoas na hora de embarcar
num voo que carreguei com consciência

Que vos não sequem as lágrimas por mim
mulheres de memória, desencanto meu,
por vestidas nunca vos querer de luto;
_e se após decretado irreversível o fim
virem que o defunto vosso nada esqueceu
forrem ‘campa c’ Welwitschias de veludo,

excluam do tampo imagem c’ dedicatória
num jazigo que desejo em chão brilhante
tão igual c’ que pautei carácter e dignidade.

Mas aceito forrado caixão c’ a sua história
um punhado de terra, mar, e cintilante
o primeiro livro, e este poema de saudade

Cito Loio

5/9/2014

quarta-feira, setembro 03, 2014

Que triste Perafita!

E Agora!
Que farei sem ti





QUE TRISTE PERAFITA


Triste Perafita sem canções de amor
risadas dos meninos traquinas
envolvidos em diurnas neblinas
donde não surge Sol ou calor
ao som de maintenant q’ vais je faire;
(What now my love)
_ ó mon amour, a solidão fere...

Mais penosa porém fica a noite escura
fechada em mim e que m’empresta
desembainhada força igual sob tempesta
à dos navegantes, pele curtida e dura.
- Sem fato de Quixote com mazelas,
já só sinto odores de Cinderelas

Cito Loio
31/8/204 


 
Web Analytics