segunda-feira, março 28, 2016

41 anos...Everything's Alright


Debruçava-se Março sobre um Abril que começava com o dia das mentiras, um jovem acabado de sair do Exército do Português dava pela mão de Nuno Viegas Vaz (Director do Departamento de Carga) entrada na TAAG, (Transportes Aéreos de Angola) para exercer (!) o cargo de Oficial de Carga Internacional.

Desconhecia nesse tempo o que lhe reservaria o futuro próximo e a dimensão de uma Ponte Aérea estabelecida e crescente a cada dia e por vários meses.

Desde então guarda na memória a cor das lágrimas de tantos homens e mulheres que a ele se dirigiam implorando que embarcasse os parcos haveres que sobravam do trabalho e luta por terras inóspitas de uma Angola que se inundaria de miséria dor morte e sofrimento. Imagino quantos gritos reteve quando em voz embargada, perante a súplica dizia "embarco sim", sabendo de antemão a impossibilidade de se concretizar tão gigantesca tarefa, mesmo apoiado por Simão Buco, negro simples e honesto, carregador silencioso que nunca hesitou em cumprir o que lhe era pedido, do qual guarda talvez a maior de todas as frases que alguma vez ouviu ou leu, quando inquirindo-o se não tinha medo que os filhos pudessem ser mortos por balas perdidas ou mera vingança respondeu: "Chefe as balas matam mas não matam a fome..."

Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro-Ministro, senhores Deputados, hoje pergunto-vos se 41 anos de revolta calada não poderão ser contabilizados para efeitos de reforma. Será que meses afio a trabalhar sob o zunir das balas caindo num telhado de zinco não é profissão (similar à vossa) de alto risco e desgaste rápido!

Claro que não se pretende valor igual aos que V.Exs. auferirão de reforma, mas sabia-lhe bem o vosso público agradecimento.


Inácio, 
Março 1975 a 2016




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