sexta-feira, agosto 16, 2013

JITO...e se for verdade?



JITO 



Era uma vez ...não começa assim este conto por certo dado não se tratar duma história para "boi dormir" mas antes, passagens da vida de um homem sofrido, casos idos faz tempo e numa latitude que muitos desconhecem, outros tentam apagar e outros, como eu, vivo pendurado nas suas liana, envolvendo um amigo de longa data , de sangue, irmão de alma - e se a memória não me engana passada em 74 versanso assim o relato:

Jito Metralhas levantara-se cedo para dar o seu passeio matinal com os cachorros antes de iniciar a sua actividade _ cães rafeiros por certo mas nem por isso deixando de nutrir por eles o maior carinho. Jogavam à bola no fundo do quintal, anunciavam a chegada de familiares e amigos, e raras vezes corriam atrás dos ardinas. Nesse dia só Dog o esperava à entrada do portão principal; era um cachorro "cor castanho-russo do tipo pastor-alemão de baixa estatura e esperto que se fartava".

Depois do passeio, tapas no focinho do bicho, uns "busca o pau", o animal não se dirigiu para a casota como costumava para receber a primeira refeição do dia, antes ficara da parte da frente da vivenda o que também não era de estranhar. Por sua vez Jito subiu ao quarto para se vestir à maneira, e como militar que era, envergar um camuflado botas cinturão quico, ou não tivesse de cumprir ordens superiores_ e havia patrulhamento aos bairros periféricos. Claro que as armas levantava-as no quartel não sendo permitido levá-las para casa talvez porque os capitães camaradas tivessem receio que as vendesse ao inimigo estragando o negócio com concorrência desleal... coisa que não se sabia e ainda bem pois tratar-se-ia de uma vergonha revolucionária.

Não tardou em descer do quarto - apanhou as chaves do carro e foi para a guerra em viatura civil (à boa maneira do Raul Solnado) - deixá-lo-ia no parque exterior do regimento, zona seguríssima em tempo de conflito. Não tardou a chegar ao destino; àquela hora não havia trânsito de monta e também a polícia não existia para caçar condutores com álcool - nem havia balões para soprar que limitavam a ingestão percentual do liquido, quer o beberolas fosse uma minhoca de 60 kg ou um touro com 110!

Fazia-se a primeira saída antes do almoço dado que mesmo em guerra certas refeições eram sagradas. Também se percebia que aquela guerra não tinha pés nem cabeça e quanto ao 'corpo militar do inimigo 'havia porque a metropolitana bondade se desejava manter o pessoal ocupado antes de entrar no mercado laboral'. «Bolas havia de me calhar o bairro Américo Tomaz! Podiam ter-se lembrado de construir um com o nome de Cerejeira!» desabafou.Também não era da sua conta mas nada de distrações que as balas matavam, e o pessoal, chegada a hora queria almoçar. Assobiava, sentado no Jeep, uma canção napolitana " O sole mio" que escutara na véspera depois de chegar a casa sobre as 23 h.

O almoço no quartel era feijão com gordura a imitar tripas à moda do MFA, mas nem por isso se deixava de comer. Gambúla Purificado Semmedo ficara encarregado de tratar de analisar o material para a saída da parte de tarde e avisar Jito logo que tudo estivesse conferido e em perfeito estado que o governo não permitia que a imagem da nação fosse negativamente comentada. Este passeava pela parada escutando a canzoada do lado de fora do muros, o que era habitual pois sabiam que escorreria algo para comerem. Enquanto Gambúla tratava do assunto Jito fumava um AC para descontrair ao mesmo tempo que deitava contas à vida

18:10 última volta antes do regresso à unidade e Jito mandou parar os Jeeps dando instruções para se apearem, e 2 a 2 fazerem uma batida por aquela zona do Catambor, apesar de não ser hora para guerrilheiro diplomado actuar. Escurecia já, 18:25, e estavam prestes a terminar o controlo da rua - havia contudo algo de estranho na atmosfera, naquele silêncio tipo paz poder, cenário bastas vezes visto nos filmes da guerra do Vietnan em que os marines derrotavam sempre os bandidos mas acabando por perder a guerra.

Algo lhe dizia que uns palermas poderiam estragar o ocaso. Escutou-se 'imprevisível' tiroteio sobre as suas cabeças com balas a estatelarem-se nos muros e paredes das casas que os ladeavam e as rajadas não eram de G3 nem sendo preciso dar ordens para o pessoal se abrigar.

Outra vez silêncio; 12 segundos nova rajada, uma bala a ferir o muro por cima da cabeça de Cito disparada de trás a um ângulo de 30º . Rolou virando-se para esse lado e iniciou os disparos escutando entre os tiros um rosnar ameaçador tiros um latido de agonia e uma grito humano anunciando a morte.

Novo silêncio, este mais pesado. Acabara o confronto! Os militares cautelosamente procuraram baixas, de ambos os lados, se as houvesse...e do lugar de onde partira os disparos contra Jito depararam com um guerrilheiro morto e ao lado, distando 3 metros, um cachorro cor castanho-russo do tipo pastor-alemão de baixa estatura e esperto que se fartava.

Passados 24 anos encontrei Jito num rua escura de Porto vendendo sonhos e dando de beber à dor. Estava divorciado, 2 filhos e nunca mais tivera cães seus...Despedimo-nos sem lamentações . Conversando com Cito relatei este encontro e pedi que fizesse um poema a Jito. Passado uma porção de anos, dei com este poema perdido entre a papelada

JITO

Sorvia cerveja adega em boteco
copos cheios sem espuma
sem amendoim ou tremoço
camarão da costa ultramarina
moelas picantes no Pic-Nic
vodka c' laranja no Flamingo

Rodopiara elegante fino boneco
dormindo cada vez só com uma
em touradas ainda moço
gizando a seu passo o destino.
- Esquecendo, ganhou um novo tique:
_ passear pela solidão ao domingo!

Deixara de falar com os cães
pshiupshiu, aos gatos vadios ;
_ aos sem-abrigo u' sorriso aberto.

Derrotada a fome com dois pães
desenhou cursos de novos rios
por eles navegando c' a morte por perto

Cito Loio


Reflecti sobre o poema, pensei nesse amigo , achei que que não devia guardar só para mim esta história, mesmo sem ter a certeza o que levara Jito a deambular pela vida; soube então que nunca mais quisera cães !


FIM

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