sexta-feira, setembro 02, 2016

PANO DE FUNDO

Coloquei este foto em pano de fundo porque a memória não morre, serem os sonhos asas da fantasia,  e a arte uma mera teimosia quando falta engenho ao poeta por trajar a cores a desventura...e confesso, também a mim ter faltado o talento de colocar nos acordes da ternura notas construídas com lisura, o colorido paradisíaco da paixão numa vontade que perdura, extinguindo-se em lume brando...

***



PANO DE FUNDO


Construí cidades tendo por pano de fundo
sorrisos de pessoas que não confundo,
demonstração de afectos sem maldade,
iguais a mim, idosos, tangida 'meia idade
pintando quadros com alvas pombas,
corando o rosto c' imperceptíveis sombras.

Alguns, pescadores de barcaças sem velas
solícitos pregadores de coisas belas
carpinteiros com cursos tirados na vida
especializados na busca de comida
embaladores de filhos sem licenciatura
aguardando o adeus chegada a altura.

Crescido, numa rua ainda na memória
assumida heroína quase eufórica
vi-a sorridente entre confusa multidão
trazendo ao dependuro 'mala de mão,
e no andar o convite que faltava
para poder dizer, eis o que esperava!

E abandonei por ela deveres escolares,
mulheres ostentando ricos colares,
indígenas coroadas c' lindas missangas
conquistadas nas inovadas reviangas,
e torneando largos q'escondiam 'paixão
desprezei-as ao querer ir além do coração.

 
Fazendo-se noite ao rompimento do dia
limpo o rosto por mergulhado na fantasia
dei fé dispensar-se ao céu as queixas,
nas cidades não existirem gueixas,
serem as quimeras loucuras de poetas
e nhas costas apetecíveis alvos para setas


Cito Loio
(Poemas sem data nem valor)

...e abendo que a meta do envelhecimento é a morte, aos meus deixarei este poema sublinhado por esta canção,



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