sexta-feira, setembro 04, 2015

UM BURRO A MONTE




UM BURRO A MONTE


Queria ilustrar este desabafo dorido, rasgar de peito, conter esta voz com que calo os erros e a má fortuna desta alma gentil apoquentada pela paixão dum sonho sem mácula onde verto a cada acorde de guitarra chorando o destino traçado à nascença, e só encontrei, que me satisfizesse, esta canção, fabulosa interpretação de Dulce Pontes ao lado do maestro do belo canto Andrea Bocelli
Espero que as palavras que «coloquei» em formato de verso não encharquem a arte «colocada» nas notas e palavras de ‘O Mare e Tu’, pretensão tida apenas por ti tendo engrossado o corpo ao mar salgando-o com o próprio pranto.
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Rasavam o milheiral chilreantes pardais,
apresadas no bico espigas doiradas.
- Um homem recorda velhos Carnavais
desfiles de máscaras, sonoras batucadas,
rolar de bola com amigos no quintal
prendas, festas, verão nas noites de Natal.
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Chega-lhe o astro-rei no refulgir da aurora
amaciando um sábado de fraca missa;
_ descontada lazeira hesita ir-se embora,
fecha ‘persiana torna ‘querença submissa
e abrindo a porta faz-se ao passeio
que sexta-feira chegara o velho carteiro.
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Distanciado ‘tempo da loucura e da espera
sabe que o amor não cabe nos envelopes;
_ nas horas secos rios não se desespera
por abundarem outros e tão duros golpes.
- Recolhendo-se desliga o computador
e pisca da escrivaninha ‘olho a Nosso Senhor.
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Súbito chamada sem número identificado,
alguém querendo não dar-se a conhecer,
e num encolher de ombros, relaxado,
permitindo-se por momentos enternecer
exclama, atirando o telemóvel pró sofá:
- «Venha quem for enquanto estiver por cá!»
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Aligeirando-se a vinda do mês de Setembro
(servidos panachês na esplanada de praia
pires com tremoços) Jerónimo atento
à carta com remetente de Maria de Soslaya,
lê - «Procura quem te dê melhor sorte…
desta, que será amiga tua…até à morte…»
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Entendendo no rosto expressão de desnorte,
Cenitas Pândego fixa Jerónimo Rosáceo
e diz - «Pelo menos não te desejou a morte
…já tem quinta e outro príncipe no palácio»
-«Verdade amigo, não sei que te conte
mas ‘burro, esse, ainda pisa por cá, a monte»
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Mais uma rodada de finos com muita espuma
e gargalhadas, um bota abaixo vai macho,
marcava o relógio do balcão, ¼ para a uma…
altura propícia para desandar, ir ao tacho.
- Jerónimo sentira não estar só na infelicidade
repartida ‘desdita com alguém da sua idade.
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A história repetia-se, mudara a personagem
diferentes homens, díspares os destinos
todos pela lei da natureza cá de passagem
santos, gente comum, criminosos e cretinos.
- Naquele 7º dia que tardariam a esquecer
Pândego e Rosáceo continuaram a beber…
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Quem me ler que personagem foi da história?
- Certo não termina aqui este deslindado enredo
que outras fábulas as contarei e de memória
procurando, enquanto bater ’coração, sossego,
faltando versos para concluir este poema,
que farei, mesmo que alguém me roube o tema.
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Cito Loio
 (De Agosto de 1975 a 2015 o ano da minha Paixão)

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