domingo, fevereiro 12, 2017

MOCHILAS ALIGEIRADAS

MOCHILAS ALIGEIRADAS

Estalou renovada polémica sobre o que constitui penoso fardo para as crianças portuguesas transportarem as mochilas carregadas com livros de estudo e provavelmente outros que aqui não importa referenciar. Antes de entrar no assunto em si, deixem que vos conte uma pequena história passada em 1967, meio século pasme-se, mas que é inteiramente suportada por verdade.

Certa manhã uma professora do ensino oficial faltou por doença, pelo menos é essa a minha convicção, e a turma acabou por ter uma borla ao último tempo da manhã ou seja o horário das 11,40 às 12,30. Por ainda ser cedo para ir para casa, uns, outros por terem de esperar quem os fosse buscar um grupo de alunos, onde se incluía um jovem moreno a fazer 14 anos, resolveram sentar-se no passeio em frente ao portão principal do Liceu Nacional Salvador Correia, (não lhe puseram o nome de Sá e Benevides sabe-se lá porque motivo e para o caso tampouco interessa) de costas para a rampa onde nas férias escolares se faziam corridas de rolamentos, passeio que se situava do outro lado da rua Brito Godins, e para ser ainda mais preciso a cidade denominava-se naquele tempo dito colonial S. Paulo da Assunção de Luanda, correndo por essa altura um calor agradável a tanger os 30 º, num mês de Janeiro. Palavra puxa sacanagem, coxas da Zézinha eram tão boas como as da Rosarinho, o Eusébio apesar de moçambicano era um gajo fixe, o Salazar um velhadas que não visitava os pessoal da pesada e das picadas, a tropa macaca quando vinha do mato só queria dar umas berlaitadas nas sopeiras, o pessoal entabulou conversação do mais alto gabarito académico ao ponto de se terem esquecido das horas e nem terem dado conta que tocara para a saída do período da manhã. Súbito o ponteiro do relógio da torre marcava 12,50, hora para cada um fazer-se à vida. E tal foi a pressa que nem 30 segundos gastaram para desfazer o grupo e desabridamente marcharem cada um para seu sítio o mesmo que dizer para almoçarem que a fome apertava o estômago não se enchia com conversas sobre metropolitanas infelizes por serem virgens ou com o aço das balas tresmalhadas numa verso que ninguém ligava patavina e que consagrava as “malhas que o império tecia jazendo morto e arrefecido o menino de sua mãe tão fenecido como o filho da prostituta do bairro Operário.
O que tem esta história de interessante? Nada, a não ser que um deles, banhava a noite o jardim da vivenda quando se dá conta que não tinha os livros que levara para as aulas desse dia, lembrando-se que os deixara depositados no asfalto junto ao lancil do passeio onde estivera em amena cavaqueira. Ir buscá-los nem era bom pensar até porque seria quase impossível justificar familiarmente a razão de necessitar sair aquela hora da noite e sabendo de antemão que o pai não ia em conversa para boi dormir nem em poemas de puto revolucionário e por resolveu esperar que o novo dia amanhecesse, não chovesse durante a noite e fosse o que a sorte ou o azar ditasse. Espanto ou em tanto os livros estavam exactamente no mesmo sítio, intactos, e o nosso jovem concluiu que ninguém estava interessado em carregar aquela gaita. Afinal a cultura era importante mas tinha Conta Medida e sobretudo Peso.

Rememorada a história e esse meu amigo safado, compreendo hoje e de certa forma preocupações adicionais de pais e experts em matéria de saúde infantil até porque ainda me recordo daquele tempo de estudante em que a maior parte do que aprendi dos livros só serviu para reconhecer que muito do que continham era uma maçada e que mais tarde viria a ser alterada, umas vezes por constituir um disparate, outras porque, ultrapassadas no tempo, verificara-se serem literalmente erradas, não se colocando todavia em causa a formação dos professores nem os terem mandado repetir os estudos e os exames efectuados ao longo da sua formação académica, aliás o que hoje em dia acontece, ou seja, um sujeito tira um curso a escrever Perspectiva e depois, pasme-se, diz que não é assim que se deve escrever e vai daí elimina um conjunto de letras e símbolos indefesos da nossa forma de colocar no Papel ou Material Informático topo de gama o que pensamos ou dizemos.

Retomando todavia o tema das mochilas a verdade é que de facto aquelas devem estar pesadíssimas a ver pelos boys que as carregam e levam as calças ao fundo do rabo tal o peso sobre as costas, e as niñas sorridentes, arrastam-nas pelo chão empedrado ou fazer sobressair o peitinho afim de compensar a perda de equilíbrio provocado pelo peso adicional à retaguarda, sendo contudo bom, recordar que as ditas mochilas já estiveram mais pesadas, isto antes de os intelectuais da literatura editorial/gráfica terem retirado um conjunto de pesadas consoantes e alterarem a ortografia duma língua que não lhes pertence beneficiando do beneplácito dos nossos governantes. Porém, como sou a favor  da saúde pública e eterno defensor das crianças, valores fundamentais para o futuro do país e da humanidade, e para ajudar os governantes a resolverem a problemática criada sobre o peso excessivo das mochilas deixo aqui uma sugestão.

Após retiradas as consoantes surdas, os p e c das palavras acabe-se também as verdadeiramente mudas, ou seja, as que colocadas no início das palavras não alteram a fonética; assim passe-se a escrever e só a exemplo, Oje, Ospital, Orta, Otel, Ospício, Irto, Ifen, Aver, Abitar etc, constituindo estas apenas alguns exemplos, e como não podia deixar de ser o H da palavra homem também pode ser retirado pois por cá já vai havendo cada vez menos da espécie sobretudo com H maiúsculo. Somando a estas e num acto de inteligência soberana, os CH passam a ser substituídos pelo X; Fexar, Axar, Paxorra, Caxo, Moxila, Xatice, Xávena etc,etc,etc… e não esquecendo por importante o Xupista, e o Xulo sou a concluir convicto que depois de tirar tudo o que está a mais nas palavras, e aliviado o peso da consciência dos promotores do famigerado AO, as MOXILAS ficarão de tal forma leves que os pais vão ter de colocar pedras nas mesmas para que os “piquenos” não se esqueçam que as transportam às costas. 


Nota final.
Meus caros políticos, não é necessário tirar-se cursos de Governação para se aprender que existem coisas na vida que por tão simples que são não nos ocorrem. Aliviem lá o peso das ditas cujas e já agora libertem de algum peso a mochila dos impostos.

Inácio

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