quarta-feira, fevereiro 24, 2016

(Ou o outro lado da lua)


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CHAGA DE PALAVREADO

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Gostava de subir até ao sol por uma grua
brincar diariamente vinte e quatro horas
empurrar os baloiços do meu jardim
mergulhar nas lagoas para escutar as rãs,
e correndo do parque Heróis de Chaves
apanhar um autocarro para a Vila Alice;
_ no caminho zombar c’ a Maria da Fonte,
interpelar ‘negra de panos «porque choras
vê que ‘tempo também passa por mim»,
acordar espreguiçado chegada ‘manhãs,
banir da existência todos os entraves
e nunca ser obrigado ‘dizer que chatice!

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Pudesse, fazia o globo girar ao contrário
dextros escreverem como esquerdinos
homens obrigados a respeitar as crianças
mães poderem embalar ‘próprios filhos
as amas a tomarem conta dos idosos,
e governos, liderados por zelosas abelhas.
- Partilhado o mel com cada infantário
dava por ilegítimo quaisquer fanatismos,
postos véus, longas ou alisadas tranças,
a vida subscrever poupança de sarilhos
os rios desaguarem por mares cautelosos,
preterirem ‘casas paredes portas e telhas.

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Por onde m’encontrariam, trono reservado,
ondas dum mar que afastado a cada maré,
sem as naus que um dia cruzaram oceanos
levando avós a viagens por terras inóspitas?
- Que país supriria ‘terra que me viu chorar
desde menino sem traições ‘protagonistas,
senhorios do desígnio que m’estava negado
em repúdio ao que sempre considerei ralé
utilizadora d’armas, capaz de dobrar canos,
referendadas ’vontades mesmo q’ insólitas…

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Ulterior, no circo feras c’ unhas de verniz
traçavam frenéticas ‘pernão enviando SMS,
‘grátis’ pra todas as redes e num só cartão!
- Que mais podia querer! Um pouco de paz
além da materialização dum sonho infantil,
ursos ‘pedalarem bicicletas sobre o palco!
- À vista, larga encenação, aplausos à actriz,
e repudiada arena por estar pejada de fezes
num assomo de valentia abracei-m’à ilusão
que no cemitério cresciam tabuletas Aqui Jaz
e nas matas seriam ‘cadáveres mais de mil.
- Já isolado preparei-me para mais um salto.

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Perfeita a natureza retirou-me a juventude,
e sem ticket, admitido no ventre da toleima 
simulei rasgar os lençóis da puberdade,
para menor já fardado, autorizado ‘morrer
evitar combates com as bombas da risota
contando balas sobre um telhado de zinco.
- Conservando do passado tudo ‘que pude
largada já a protecção paterna, à queima
expus-me frente aos canhões da maldade
desconhecendo que o futuro viria a correr.
- Enfim soube que mantivera ‘planeta a rota
mas só subsistir ‘verdade porque não minto.


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Cito Loio
3/2/2016 a 13/2/2016

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