terça-feira, fevereiro 16, 2016

Carta de despedida

Carta de despedida


A ti, meu pai que partiste nesse 16 de Fevereiro de 1994, 4ª feira de cinzas.
Sei que 22 anos é muito tempo, talvez uma eternidade, todavia insuficiente para pagar os erros que cometi a seu tempo. Nunca te pedi desculpa por saber que certamente não as encontrarias nos meus desvarios, não fosse a minha vida também constituída por incontáveis revoltas ante rasteiras e traições que ficaram por julgar.

Como tu também fiz luto, se bem que sempre vestindo uma pele amorenada. Se viúvo por mais de 4 décadas foi empresa épica, ser órfão toda a vida foi o tributo que paguei por ser filho silencioso, respeitando a dor que coabitava no teu peito, razão bastante por nunca te ter perguntado ou falado na Maria do Carmo.

Que me perdoes mas nasci assim, cresci com o diabo pintado na corpo, e tão vivo que ainda hoje o sinto à flor da pele, mas nunca me esqueci o significado da pasta que trouxeste de Angola em 1982 contendo os meus poemas entre as duas malas que te restaram de património após uma vida a trabalhar para este Portugal na longínqua Angola.

A razão dessa decisão só mais tarde a percebi, pois antes de mim descobririas que nascera com o engenho e arte de saber sofrer, que nas trevas daquela África profunda, desafiando o Adamastor, daria ao meu nome mais outro apelido.

Este é o meu ultimo tributo a um homem que foi grande, e de tão grande se fez enorme no silencio da própria morte. 


Para ti o teu cantor de eleição





CEDO DESACAUTELADA


À causa de meus erros tiveste má fortuna
 vendo-me incapaz, quando envelheceste
sabendo que por mim sequer viveste,
evitar-te a dor, toda a dor inoportuna.

Presente, em repouso nesta  memória,
que falta me fazem teus silêncios
ao caminhar solitário entre incêndios
sabendo-me impedido de obter glória.

Pudesse dar-te-ia de sorte o que resta,
restituindo-te aquela que foi enlutado amor
e que de mim se viu cedo desacautelada.

Vindo o tempo que me vá, faça-se festa,
pagando minha alma, justo pecador,
à falta de a fazer, só por ti, presenteada.


Cito Loio
Adolfo Inácio Loio Castelbranco Oliveira 


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