segunda-feira, março 27, 2017

Talvez não tarde o dia



O QUE VOS LEGAREI


Sei que um dia escreverei invioláveis versos
alargado poema, desconhecido princípio e fim
que emocionará quem nunca ouviu falar de mim
achando-me em cada frase homem controverso
para inabalável e na mais profunda dignidade
legar ao mundo toda 'indestrutível verdade.

Cantarei neles dores duma nação ultrajada
assaltado 'povo por quem perdido o respeito,
condecorou com medalhas o próprio peito
desprezando os bravos sem direito a nada
jogando-lhes insultos na forma de chacota
rindo até dos que defenderam a própria Europa.

E permitirei que se louve por este punho
e se verta nas folhas duma velha sebenta
os que nascidos nos anos cinquenta
em actos tomados de forma mui louvável
defenderam terra que era sua por nascimento,
e outros que o fizeram por Juramento.

Deslizada a pena vereis no que me tornei
e ante memórias que jamais se apagarão
traço ora o letras que se agigantarão
nome do qual por sangue nunca me esquecerei
que dum Adolfo herdei a vontade férrea
de homem peito aberto à feroz miséria.

Constituído estes verso num raro poema
saberá a humanidade extinguidas 'guerras
só os valorosos atingem o cume das serras
vendo do alto quem deles nunca mostrou pena.
- Tardando o dia que este navio atraque 
celebre-se a vida sem os sinos a rebate.

Contudo, anunciada a hora do meu final
e por terminar esteja esta última epopeia,
que dela apanhe novo trovador boleia
e glorifique identificado nome de Portugal
por perdida na distância todo 'encantamento
da terra que me viu crescer em sofrimento . 

E de tal padecimento não chegaram avisos
ou sinais de bondade, causando dolo
antes vozes crispadas elevadas em coro
exigiram pena capital em gestos precisos
mui antes de desembarque a porto seguro,
intuito de evitar saber-se a verdade no futuro.

Hoje às vezes cansado trémulo o corpo
sustento ainda inusitada vontade de vencer
mantida mesma forma de estar e de ser,
derrotados 'fantasmas num hercúleo esforço
pois só 'tempo ao engenho dá descanso
se terminada for esta obra num só canto.

Finita a angústia por engalanada praça
do génio o seu espírito imolar-se-á
entre aplausos novo brado emocionar-se-á
ao cantar a força desta antiga raça,
e num olhar de pureza com voz serena
dirá - enfim pôde dar paz à sua pena...

"Pousada a caneta que um outro se levantou
já em tempo de desterro aceite 'castigo
seguirei destinação do que antes fora escrito
continuando-se a obra que me valorou
constituindo esta última construção poética
farol que iluminará "minhalma" até ora céptica"



Cito Loio
21 a 23 de Março de 2017


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