quarta-feira, janeiro 20, 2016

GolungoAlto



 

Até qualquer dia...





VINDO DO GOLUNGO ALTO


Inenarráveis foram tantas curvas apertadas
que se obrigou a imaginação a palmilhar,
atalhos por onde após furibundas dentadas
cicatrizava nas trevas chagas, sem arrulhar.

Penetrando madrugada fora, já serenado,
desenhou a caneta de tinta permanente
espectros q’ o deixaram absorto e intrigado
escarnecendo de si perante ‘amor ausente

Inclinado ao caderno, margens infringidas,
pôs os nomes que faltaram às promessas,
de ajuizadas mulheres que sabia já perdidas
(Filomenas Anas Martas Rutes e Vanessas!)

Obtida a madureza, envergando uma farda,
desembestou para o ar, evitando os iguais
que vestiam optativamente roupagem parda
na maioria das vezes – paga por seus pais.

Esquivado ao ultraje regressou às correrias,
carregador das expectativa destroçadas
e bens perdidos a favor doutras confrarias,
ganhos os troféus prescindindo da caça…

Sem estoiros d’amigos hóspedes de caserna
sujeitou-se à repatriação pela democracia,
precisado de residência com cães à perna
longe da sepultara de quem jamais o trairia

Mendigando por travessas aos trambolhões,
ergueu castelos no ar carecidos de alicerces
ao reviver no africano troar a luz dos trovões
duma guerra que só durara treze preces (a)

Esquecido pelos q’antes fugiam dos canhões,
colhido numa zebra branca em negro asfalto
a caminho da sopa dos pobres, surdos pregões,
morria um ex-colono (vindo) do Golungo Alto

Possuía nome c’ apelido que nunca constou
do incomparável livro «Viva a Malta do Liceu»
que ‘presidente Eduardo dos Santos avalizou,
desconhecedor, terem incluído nele o meu

Virá um anoitecer que não se fará o dia tarde,
e tal Bocage, que não serei, desfeito ao vento
à cova escura, colhido por repentino enfarte,
terão as minhas cinzas o mesmo seguimento.



Cito Loio
Terminado a 09/01/2016

(a) 1961 a 1974


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