sexta-feira, março 07, 2014

À mulher mais extraordnária que conheci....


 



O FANTÁSTICO DESEJO
 (de Albertina Nascimento Raposo Oliveira)

  

Foi u' desejo singelo este q vos conto;
_ tremendo ouvi-o num longínquo dia
a u' dama d' oitocentos e troca o passo,
mãe de filhos, avó de muitos mais
e patroa venerada - Paz à sua alma.

Corria seu neto sempre pronto
a provocar-lhe falta d'ar, e até azia
carpindo lágrimas forçadas prum abraço
à "mãe", quando calhava aos demais
a quem tirava do sério, rompia a calma.

Batia na varanda o sol das três,
rondando pela vivenda o mau agoiro
sentiu-se mal _ lendo a Bíblia(!),
causando pânico no caçula
a chegada aparatosa do médico,
e agarrado à mãe, pela primeira vez
sentiu do seu berço de oiro
real sentido (patente) duma família;
_ aquecido o olhar esquecida a gula
soube pra morte não haver remédio.

Ficara-se tudo pr’um verdadeiro susto
princípio duma indigestão por leitura
marcada já presença do verão;
_ e o menino gritou à mãe soluçando
«não lhe dei ordem para morrer!»
-Elevando ligeira u' já cansado busto
respondeu a sábia com ternura;
_ «tomar-me-á um dia este chão
só não sei como nem quando
e tu, some-te q'estou fartinha de t'ver!»

Dissera-lhe não querer morrer idosa
por insuportável ser enterrar filhos
que dor enorme tivera c' dois netos.
-Décadas passaram, cumprida 'vontade
não vendo finar-se outros q' amava.

Arrefeceu de casa em leito, silenciosa,
na terra q lhe agraciara mui cadilhos
tratando de avencas e dos fetos;
_ e passeou pelas avenidas 'verdade
espelho aqui presente, este q a adorava.


Cito Loio

Sem comentários:

 
Web Analytics