À mulher mais extraordnária que conheci....
O FANTÁSTICO DESEJO
(de Albertina Nascimento Raposo
Oliveira)
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Foi
u' desejo singelo este q vos conto;
_
tremendo ouvi-o num longínquo dia
a
u' dama d' oitocentos e troca o passo,
mãe
de filhos, avó de muitos mais
e
patroa venerada - Paz à sua alma.
Corria
seu neto sempre pronto
a
provocar-lhe falta d'ar, e até azia
carpindo
lágrimas forçadas prum abraço
à
"mãe", quando calhava aos demais
a
quem tirava do sério, rompia a calma.
Batia
na varanda o sol das três,
rondando
pela vivenda o mau agoiro
sentiu-se
mal _ lendo a Bíblia(!),
causando
pânico no caçula
a
chegada aparatosa do médico,
e
agarrado à mãe, pela primeira vez
sentiu
do seu berço de oiro
real
sentido (patente) duma família;
_
aquecido o olhar esquecida a gula
soube
pra morte não haver remédio.
Ficara-se
tudo pr’um verdadeiro susto
princípio
duma indigestão por leitura
marcada
já presença do verão;
_
e o menino gritou à mãe soluçando
«não
lhe dei ordem para morrer!»
-Elevando
ligeira u' já cansado busto
respondeu
a sábia com ternura;
_
«tomar-me-á um dia este chão
só não sei como nem quando
só não sei como nem quando
e
tu, some-te q'estou fartinha de t'ver!»
Dissera-lhe
não querer morrer idosa
por
insuportável ser enterrar filhos
que
dor enorme tivera c' dois netos.
-Décadas
passaram, cumprida 'vontade
não
vendo finar-se outros q' amava.
Arrefeceu
de casa em leito, silenciosa,
na
terra q lhe agraciara mui cadilhos
tratando
de avencas e dos fetos;
_
e passeou pelas avenidas 'verdade
espelho
aqui presente, este q a adorava.
Cito
Loio
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