Algum dia volto aos palcos, e de tal forma me satisfazem os ensaios que já comecei a rodopiar por entre a tumba dos meus antepassados. Mas se no Outono africano caírem as folhas, livre-me de escorregar nas saliências dum memorável palco giratório, e vindo o Inverno que não conhecia, aqueçam as recordações os sonhos por me saber impedido de voltar a beijar a terra que me viu partir.
Porém, sobre um outro mar, nadando nas ondas da sobrevivência, sinto presente dentro útero o ténue bater do coração materno, e olhando atrás veiculo-me ao amor da mulher que me deu a vida para gritar com todas as forças - amo-te - como nunca amei ou amarei outra, tal a força dos laços de sangue, que por eles a ligo aos meus filhos. E por rios do meu encantamento, nadando nas marés baixas da baía que abraçava o meu pensamento, larguei o corpo na corrente duma barra sem entradas celestiais pensando um dia, subido ao mais alto mastro do meu navio, vê-la transformada na luz que nunca iluminou o quarto onde à noite, escondida a ansiedade, abraçava o vazio.
Perca ora tudo que a saúde proporcionou, os quilómetros de estrada que sozinho palmilhei sem nunca me perder ou dela perder o encanto, filho seu sou e serei até à eternidade e bastante para neste 1 de Novembro celebrar o Dia da Maior de Todas as Minhas Santas e porque a vida às vezes assemelha-se a um bolero, que de longe se inicia a audição das notas em solo, para nos ultrapassar à plenitude dos compassos que nem conta damos da importância dum simples gesto em silêncio e finalmente, já pianíssimo, percebemos chegada a hora de lançarmos pelo chão a batuta do maestro que fomos da nossa própria sinfonia, razão pela qual da Mãe Natureza apenas peço de prenda, que os seus pássaros no dia que me vá, guardem em trinados um minuto de silêncio pelo homem honrado que fui.