O meu canto livre...!
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Pergunto-me se alguma vez verei
reconhecido, pouco que seja, o talento que em mim existe, se acaso terei de
atravessar o Atlântico a nado para salvar os rascunhos onde escrevo as minhas
tristezas. Talvez meus anos sejam encurtados, e com isso, consagrado a título
póstumo como Poeta: nesse tempo já não terei mais voz para chorar a minha dor
expressa neste triste fado, nem actuar onde as lágrimas jamais terão
aplausos!
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QUE
GRANDE É O DESCONFORTO
(homenagem a Camões)
Não se entra num palco sem escrita,
falando duma dor q’ não é finita!
_ Teatro há com falas e alguma surdez
sons de palavras tantas, hinos de mudez
que até para dançar, por vezes bailar,
se dita! Antes de se coreografar
Para fazer poemas, também nos damos
corremos, gesticulamos, choramos
ao colocarmos a alma no palco da vida
muito mais larga, mais desdita
a qualquer que seja rua ou auto-estrada
que desemboque no fim dum nada
Escrever é, montar um cenário obscuro
ver sujo tudo q’ antes já fora puro;
_ Actuar onde as lágrimas não têm aplausos
esquecer os números clausus
saber q’ os fantasmas não pagam bilhete
mas vaiam qualquer forma de falsete!
Compor, é andar no tempo aos solavancos
rolar pelas encostas dos barrancos
assistir do banco da praça ao próprio final;
_ Catarse em sentimentos sem igual!
_ Poeta não é actor interpretando dor
perdida,
ou a ilustrar originais, cópia empobrecida!
É maior, e para ser maior meu desconforto
Camões cantou tais, em qualquer porto...
... (e escrevia assim Luís Vaz)
«Mas, conquanto não pode haver
desgosto
onde esperança falta, lá me
esconde
Amor um mal, que mata e não se
vê.
Que dias há que n'alma me tem
posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei
porquê.»
Cito Loio
(Intemporal)
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