sexta-feira, setembro 30, 2016

Cálice de respeito

Disse e cumpro.
Aos poetas andaluzes ergo este cálice de respeito.


HONRA SEM CREDENCIAIS


Não sou daqui, lugarejo algum ou paralelo
sequer neles encontrei berço d’infância
terra que me desse mais que mero sustento,
apenas brilhos cintilantes no céu estrelado
d’iguais astros guardiães de meus segredos.
- Sim, tudo sei, e também sei que jamais serei
substituto duma estátua de ferro a arder
chão arável frente a u’ cemitério alentejano
canto ‘Galiza, Kalinka ou fado emigrante.

Sem repetição afirmo: - Nunca me quiseram
condenado por ferezas que desconheço
constituído arguido de um delito por provar,
prisioneiro sem cela guardas ou grades,
por oriundo, concluo, dum país por inventar 
onde à honradez se dispensa abonação.


Cito Loio
(poemas sem data nem valor)
9 a 12 de Agosto 2016


quinta-feira, setembro 15, 2016

Um dia...

Um dia deste ilustro este canto

terça-feira, setembro 13, 2016

ANJO DA GUARDA



ANJO DA GUARDA


Nasceu sombrio e tristonho o Domingo, carregando o horizonte de fria neblina como se tratasse de uma montra de Verão que às vezes se faz Inverno, quase pré Outono das folhas que caem em projectos efectuados na Primavera. Na ruela exterior cães ganem às fêmeas enquanto uma mulher esbelta e fina que parece vinda das travessas do Inferno onde à vil miséria só algumas escapam; no braço uma tatuagem com o nome da filha, (2008 Vera).

Distante, mas não tanto que não se visse, um carro de luxo chiando os largos pneus arranca pela estrada da boa vida, pois as prostitutas por serem sérias profissionais tinham cumprido seu nobre ofício, podendo um ano mais o chulo ir gozar as vacances para Nice e ser tratado pelas madames como emissário de Deus. De relance, apresentava-se vazia o resto da avenida que a madrugada ainda dava sinais, e levantar cedo seria um longo sacrifício. 

Hesitante, à entrada ou à saída de um prédio, Libório arruma a improvisada cama. Tornara-se um dos muitos sem abrigo que escolhera o passeio como varanda e um gato cinzento como fiel companheiro, e já farto de uma existência cheia de tédio sonhara que lhe caberia um dia em sorte a fama, terminando por realizar o seu sonho mais antigo na companhia de uma famosa banda enchendo finalmente o baú com muito e honrado dinheiro.

Ainda ensonado, que pouco fora o sossego naquela noite, o pedinte atravessa a rua fora da passadeira confiando no seu único anjo da guarda; porém, na véspera, realizara-se no céu um funeral donde resultara o empobrecimento das hostes de Nosso Senhor.

Baixavam turvas, águas do rio Mondego, que a seca teimara a época inteira. No purgatório àquele pobre, saiba-se, ninguém o aguardaria, por distraído Satanás, e só para maledicência, piamente desprezado pelo Criador.


INÁCIO
11/09/2016

domingo, setembro 04, 2016

AFINAL VOLTAVAM DE PANÇA RECHEADA

Porque me traíram sem aviso prévio hoje reclamo de mim a ingenuidade de ter entregue as armas em vez de disparar contra quem me pagava magro salário enquanto a outros fornecia senhas para combustível, repasto na "messe de "capitães" e prostitutas nos hotéis situados nos paraísos duma democracia que se veria "più tardi" corrupta...
...e o que mais causa receio nesta foto é o soldado deitado no chão empunhando uma arma enquanto civis dialogam com os "soldadinhos de chumbo".



VI NASCER FLORES
(AFINAL VOLTAVAM DE PANÇA RECHEADA)


Sem germinar floriram em rocha fria e dura
cravos despontados nos canos das espingardas,
originando desalojados c' lágrimas já em fuga
escutando a imbecilidade bramar às armas,
conhecendo q'apontarem a u' Homem indefeso
tanques dirigidos por militares garbosos,
mandatáros de quem saíra de certa guerra ileso
passeando folgado longe de turras perigosos.
- E eu, vi garotos opados de gravatas vermelhas
fugitivos levando prudente 'mêdo na bagagem,
arrombadas portas e janelas telhados sem telhas
e até viajantes que não pagavam a passagem!
_ muito mais tenho guardado para mencionar
assim o tempo que passa me dê prazo e lugar.

Chegasse todavia uma vaga de perfume africano
inundada de mesclados odores de nha gente
reparando tempos em que me viram insano
rasgaria 'versos:_ sobre o que nos apoquente,
que por terras de loiros alguns d'água oxigenada
só saciei desejos à base de rápidos orgasmos
pensando um dia, pelo toque mágico duma fada,
ressuscitaria a amada aceite os pleonasmos, 
e um dia lançarei todos 'meus erros ao inferno,
frases apalavrando o que não quero admitir 
pois neste país 'Outonos precederam o Inverno
que 'nha febre era doença que teria de omitir,
e justo à proa dum navio que se fará ao largo
mentalmente aliviar-se-á este pesado fardo.

- Porém o já vivido da memória não s'afaga
nem c' ferramentas a dor de ver-se confundido
por ter perdido um ente querido se apaga,
sem monstrar penitência por ver-s'arrependido.
- Afinal 'flores sempre nascem nos canos d'aço,
tanques têm lagartas, dúvidas q' aqui desfaço


Cito Loio
01/09/2016
Primeiro escrito de Setembro 
(Poemas sem data nem valor)


***

















sexta-feira, setembro 02, 2016

PANO DE FUNDO

Coloquei este foto em pano de fundo porque a memória não morre, serem os sonhos asas da fantasia,  e a arte uma mera teimosia quando falta engenho ao poeta por trajar a cores a desventura...e confesso, também a mim ter faltado o talento de colocar nos acordes da ternura notas construídas com lisura, o colorido paradisíaco da paixão numa vontade que perdura, extinguindo-se em lume brando...

***



PANO DE FUNDO


Construí cidades tendo por pano de fundo
sorrisos de pessoas que não confundo,
demonstração de afectos sem maldade,
iguais a mim, idosos, tangida 'meia idade
pintando quadros com alvas pombas,
corando o rosto c' imperceptíveis sombras.

Alguns, pescadores de barcaças sem velas
solícitos pregadores de coisas belas
carpinteiros com cursos tirados na vida
especializados na busca de comida
embaladores de filhos sem licenciatura
aguardando o adeus chegada a altura.

Crescido, numa rua ainda na memória
assumida heroína quase eufórica
vi-a sorridente entre confusa multidão
trazendo ao dependuro 'mala de mão,
e no andar o convite que faltava
para poder dizer, eis o que esperava!

E abandonei por ela deveres escolares,
mulheres ostentando ricos colares,
indígenas coroadas c' lindas missangas
conquistadas nas inovadas reviangas,
e torneando largos q'escondiam 'paixão
desprezei-as ao querer ir além do coração.

 
Fazendo-se noite ao rompimento do dia
limpo o rosto por mergulhado na fantasia
dei fé dispensar-se ao céu as queixas,
nas cidades não existirem gueixas,
serem as quimeras loucuras de poetas
e nhas costas apetecíveis alvos para setas


Cito Loio
(Poemas sem data nem valor)

...e abendo que a meta do envelhecimento é a morte, aos meus deixarei este poema sublinhado por esta canção,



quinta-feira, setembro 01, 2016

QUERUBIM

 Um dia sonhei fazer poemas para Zeca
sonhos que nunca realizarei...

.


.

DISFARÇADO DE QUERUBIM


Faço riscos, traços simples que s'anexam
mansamente ao lado de palavras soltas
construindo histórias que não regressam,
(parte do currículo duma vida 'conta-gotas
extensão do que tarda, mas que revejo)
imagens amortalhadas que não comando
imitindo segredos que decidido ora protejo
cobrindo-os com capas de seco pranto.

Porém 'morna brisa que sopra já anuncia
ser cada vez mais curta o distanciamento
entre o findo e o próximo renovado dia
igual ao que me acolherá chegado 'tempo;
_ mas é na noite que dela m'alimento
enlutando de espanto a santa eternidade
e enroupando trapos de imaculado lamento
redijo missivas endereçadas à saudade.

Finda a inquietude de um dia de solidão 
descanso, disfarçado de místico querubim,
numa galhofa, sobre o picadeiro da ilusão,
aceito ovações que não são para mim.

E saltando por entre um imaginário público
uma santa d'altar, exibindo um ar profano
tomada de meneios a tanger o púdico
arrocha-se* à minha sombra por engano.


* abraçar


Cito Loio
(Poemas sem data nem valor)

QUERUBIM

 Um dia sonhei fazer poemas para Zeca
sonho que nunca realizarei...

.


.

DISFARÇADO DE QUERUBIM


Faço riscos, traços simples que s'anexam
mansamente ao lado de palavras soltas
construindo histórias que não regressam,
(parte do currículo duma vida 'conta-gotas
extensão do que tarda, mas que revejo)
imagens amortalhadas que não comando
imitindo segredos que decidido ora protejo
cobrindo-os com capas de seco pranto.

Porém 'morna brisa que sopra já anuncia
ser cada vez mais curta o distanciamento
entre o findo e o próximo renovado dia
igual ao que me acolherá chegado 'tempo;
_ mas é na noite que dela m'alimento
enlutando de espanto a santa eternidade
e enroupando trapos de imaculado lamento
redijo missivas endereçadas à saudade.

Finda a inquietude de um dia de solidão 
descanso, disfarçado de místico querubim,
numa galhofa, sobre o picadeiro da ilusão,
aceito ovações que não são para mim.

E saltando por entre um imaginário público
uma santa d'altar, exibindo um ar profano
tomada de meneios a tanger o púdico
arrocha-se* à minha sombra por engano.




Cito Loio
(Poemas sem data nem valor)

 
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