terça-feira, agosto 09, 2011

Faz tanto tempo que me divorciei...d'Ele

FAZ TEMPO

Dei fé dum passarito chamar-me
Piupiu, vindo do alto dum galho
A sarna com penas parecia gozar-me
Talvez me visse, um espantalho!

_ Olha lhá ó méo gandá paléma
Ne tens uma mulhé pala amá
Se fosse tu, dava à péna
Antes q’elha te mande velejá

Que país este, logo pensei
Sem coragem para responder
Um pássaro falante _ inventei!
Di-lo-ia s’alguém viesse a saber

E ao vê-lo de perna traçada
Charuto cubano – ar de certo peso
Exclamei – a terra está mudada,
Ninguém escapa ou sai ileso!

_ Põe-te ao fésco ó molenaço
Q’a noite pecéde o dia
Ne penses sê o único a teladaço
Ou o canto da cotovia!
Livate d’apalecê de sulpêsa
Almado em gande engatatão
Só te lentalás à sua mesa
Levando numa bandeja’o colação

Estava para morrer c’o passaroco
Saído duma fábula italiana
Quase'a ficar de todo meio louco
Face ao paleio do melro sacana;

_ Cala-te ou corto-te a crista
Que sabes tu das leis do amor!
Julgas-te um soberbo corista
Mas não passas de fraco cantor

Em vez de piar soltou uma risada
Piscou o olho fazendo adeus
Escapando-se-lhe a última piada;
_ Faz tempo, deixei de ser teu Deus!


Cito Loio
8 de Agosto 2011

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