Prepara-me um banho...!
Também a mim me chamaram muita coisa Zeca, por isso, comemorando o dia do teu nascimento, torno público este poema, em que as piranhas usaram cravos, meu querido, meu amigo |
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SUBITAMENTE
(PREPARA-ME UM BANHO)
Uma rajada atingiu-lhe o pensamento
Perfurou ‘alma, através do peito
Permitindo que se escapasse um grito
De dor, mudo, o dela, já maternal;
Silêncio fizera-se, sepulcral momento,
De joelhos prestaram respeito
Ao escutarem num sussurro, Citooo!
_ Abre a campa em fresco capinzal!
Do bolso não caía um lenço alado
Nem a mãe ofertara qualquer cigarreira
Mas esvaía pelo sangue de guerrilheira
Já parte do que lhe dera seu amado
No céu pássaros de fogo cobriram a lua
Deixaram que se ouvisse o cântico negro
Numa reza poética murmúrio em segredo
Promessa, que ali a enterraria nua
Explodiu-lhe o universo pulmonar
Peitorais comprimidos, arquear do esterno
Tremeram os pilares do seu sustento
Nos olhos brotaram oceanos de rebeldia;
O dicionário abriu-se na página do odiar
Para exterminar o que não fosse eterno
Que vida alguma daria de novo alento
Ao perder, a vida, aquela que mais queria
Ajustou contas com um deus malvado
Destruiu parte da sua obra nefasta
Aberto, disparou a tudo e quanta basta
Que o rancor seria nunca, apaziguado
Baixou cerimonioso o silêncio absoluto
Vendo-o caminhar sob copas frondosas
Repelir angustiado lágrimas teimosas
Para mascarar o seu mais recente luto
Subida ao céu outra mãe encontrava
Que de braços estendidos a recebia
Com amor, afagando-lhe farta cabeleira
Acariciando a face, como ela, menina;
Enlaçadas, linda, sentiu quanto’o adorava
Merecedora do amor tido a cada dia
Que não sendo’ segunda não seria primeira
Mas com certeza a sua lâmpada ‘aladina’
Ao momento na terra escutou-se, horrível
Soluços dum menino a fazer-se homem
Marcada diferença, por ele não se tomem
Por muito ser um’outra história crível
Que visíveis marcas conservaria na pele
Carimbo de um passaporte, carne viva
Rasgos profundos, navegação à deriva
Por instinto, pelo que uma mágoa impele
As noites, essas parecer iam sempre dia
Do rosto memorizara o fino traço
Pintalgada a revolta dispararia silêncios
Desde a ponte, entre Vénus e Saturno;
_ Ergueu-se a cada tombo como podia
Servindo-se com talheres de fino aço
Inventou paraísos escreveu compêndios
Sem nunca trocar de posto ou turno
Rejeitou-o Portugal, pátria de Camões
Borrou a desprezo letras do seu romance
Afugentaram-lhe a sorte a cada lance
Até perder no íntimo as restantes ilusões
Legará aos seus, talvez um baú de letras
Símbolos e caracteres, muita interrogação
Sobre um filho da dor, esposo duma paixão
Embarcadiço no caixão, repleto de tretas
Antes e por cá, numa vida ainda terrena
Sofrerá de amores pela última vez
Permitindo ao coração ser arrematado
Sem licitação, oferta em hasta pública;
E uma musa, quase virgem, amena
De cores diferentes, e distinta tez
Dirá, vem – como num tempo passado,
Preparei-te’um banho – de forma súbita.
Cito Loio
1973 a 2011
(PREPARA-ME UM BANHO)
Uma rajada atingiu-lhe o pensamento
Perfurou ‘alma, através do peito
Permitindo que se escapasse um grito
De dor, mudo, o dela, já maternal;
Silêncio fizera-se, sepulcral momento,
De joelhos prestaram respeito
Ao escutarem num sussurro, Citooo!
_ Abre a campa em fresco capinzal!
Do bolso não caía um lenço alado
Nem a mãe ofertara qualquer cigarreira
Mas esvaía pelo sangue de guerrilheira
Já parte do que lhe dera seu amado
No céu pássaros de fogo cobriram a lua
Deixaram que se ouvisse o cântico negro
Numa reza poética murmúrio em segredo
Promessa, que ali a enterraria nua
Explodiu-lhe o universo pulmonar
Peitorais comprimidos, arquear do esterno
Tremeram os pilares do seu sustento
Nos olhos brotaram oceanos de rebeldia;
O dicionário abriu-se na página do odiar
Para exterminar o que não fosse eterno
Que vida alguma daria de novo alento
Ao perder, a vida, aquela que mais queria
Ajustou contas com um deus malvado
Destruiu parte da sua obra nefasta
Aberto, disparou a tudo e quanta basta
Que o rancor seria nunca, apaziguado
Baixou cerimonioso o silêncio absoluto
Vendo-o caminhar sob copas frondosas
Repelir angustiado lágrimas teimosas
Para mascarar o seu mais recente luto
Subida ao céu outra mãe encontrava
Que de braços estendidos a recebia
Com amor, afagando-lhe farta cabeleira
Acariciando a face, como ela, menina;
Enlaçadas, linda, sentiu quanto’o adorava
Merecedora do amor tido a cada dia
Que não sendo’ segunda não seria primeira
Mas com certeza a sua lâmpada ‘aladina’
Ao momento na terra escutou-se, horrível
Soluços dum menino a fazer-se homem
Marcada diferença, por ele não se tomem
Por muito ser um’outra história crível
Que visíveis marcas conservaria na pele
Carimbo de um passaporte, carne viva
Rasgos profundos, navegação à deriva
Por instinto, pelo que uma mágoa impele
As noites, essas parecer iam sempre dia
Do rosto memorizara o fino traço
Pintalgada a revolta dispararia silêncios
Desde a ponte, entre Vénus e Saturno;
_ Ergueu-se a cada tombo como podia
Servindo-se com talheres de fino aço
Inventou paraísos escreveu compêndios
Sem nunca trocar de posto ou turno
Rejeitou-o Portugal, pátria de Camões
Borrou a desprezo letras do seu romance
Afugentaram-lhe a sorte a cada lance
Até perder no íntimo as restantes ilusões
Legará aos seus, talvez um baú de letras
Símbolos e caracteres, muita interrogação
Sobre um filho da dor, esposo duma paixão
Embarcadiço no caixão, repleto de tretas
Antes e por cá, numa vida ainda terrena
Sofrerá de amores pela última vez
Permitindo ao coração ser arrematado
Sem licitação, oferta em hasta pública;
E uma musa, quase virgem, amena
De cores diferentes, e distinta tez
Dirá, vem – como num tempo passado,
Preparei-te’um banho – de forma súbita.
Cito Loio
1973 a 2011
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