Funeral dum mineiro...!
FUNERAL DUM MINEIRO
Não sabiam as horas, entardecia
Extraindo ouro, respiravam fuligem
Mina acima depois até lá baixo
Por entre túneis escorados
Que os próprios tinham aberto
Semanas, meses a fio encardidos
Vivendo de credo na boca
Que nas avenidas subterrâneas
Apenas se descortinava uma faixa;
A da morte por falta de sustento
Não tardaria a escurecer
Num lugar que era sempre noite
Ouvindo’ rumorejar do veio d’água
Morador na sala ao lado
Duma mansão húmida sem janelas
- A trinta metros de profundidade
- Arrumavam grampos e lanternas
- Todas ferramentas modernas;
- Fazia-se tempo de volver’à cidade
Um olhar experimentado, cauteloso
Fotografada a abóbada escura
Viu que estranha mancha, reflexa
Lançava pertinente grito d’alerta;
O perigo fizera-se convidado!
Inundação! Deixa’escapar Custódio
Um velho mineiro e sábio
Ao ver rasgar-se o ventre térreo
Parindo um rio revolto e zangado
Por’entre duas falsas margens
Sem tempo, tudo se perderia
Incluindo vários e bons utensílios
Que pró corpo! Morada única
Dada aos homens à nascença
Para dela se desfazerem à partida
- A trinta metros ficara Sequeira
- Sempre o primeiro a chegar;
- Sem dúvida o último a abalar
- Apanágio de uma vida inteira!
Viu o tecto majestoso esbarrondar
Antes do encerramento definitivo
Daquela mina, eterna companheira
Das muitas horas tantas d’amargura,
Servindo-lhe agora de campa
E sorriu, de joelhos apenas se benzeu
Ao tempo que via o rosto gravado
De um dos patrões, o menos injusto
A quem desculparia por relevo
Nunca lhe ter dado sequer, bons dias!
Estrondo final, o rio tomou dimensão!
Resgatou’ q’era sua propriedade
Ao soterrar Custódio Assunção Sequeira
Enquanto largava’à superfície lágrimas
Chorando a morte de um mineiro
- Trinta metros acima, copos de cristal
- Reunia o concelho de administração
- Da empresa, em rota de extinção
- Celebrando prévio lucro excepcional
Cito Loio
27 a 30 de Agosto 2011