segunda-feira, agosto 30, 2010

V. Sabrinas...

VELHAS SABRINAS

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Calçou as rotas e desbotadas Sabrinas

Alongou-se num suave “espreguiçando”

Carregou solene, recuperado gramofone

Girou um disco, dos primórdios do vinil

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Um Jeté sustentado em pernas tremidas

Antes dum Assemblé frágil, e sonhando

Largou no sofá o seu barato headphone

E esqueceu-se de vez que já estava senil

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Fraquejou num súbito reumático caniço

Já adoentada por tantas danças na vida

Estatelou-se, como uma morsa no chão

Largando longo grito que queria abafado

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Não deitou culpas ao soalho, ao enguiço

Nem à falta declarada da força já perdida

Muito menos ao recente e encerado chão

Que sabia estar o Pás de Deux acabado.

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Arrastou-se sofrida até ao triste cadeirão

Nas mãos segura o novo telefone sem fios

Disca todos os números que sabia de cor

Pensando que ligava para o cento e doze

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Sentiu falhar o pacemaker e o seu coração

Misturando alucinações a estranhos risos

Ao escutar de lá a voz de um antigo amor

Que lhe diz olá minha querida doce Rose

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Entre a singular Fonteyne e Maurice Brejat

Evoluíram desde Sol sustenido ao Mi Bemol

Et de la pirouette au tempe un deux et trois

E dum mon amour ao já clássico je t´’aime

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E quando desligaram, já bastante “trop tard»

Parecendo a lua segredar ao escaldante sol

Ele contestou com oui mon’ amour je croix

Sem escutar, c’est ça il est’encore, le même

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Cito

26 de Agosto 2010

(Havemos de lá ir)

sexta-feira, agosto 27, 2010

Senhores despurtados...

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GOVERNICES

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Socratiando saiu do prédio ia apressado

Num tipo de passo atlético, e bem ligeiro

Estavam em causa, as coisas do Estado

Ou não fosse ele dos ministros o primeiro

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Tomou um pequeno-almoço, e saboroso

Sem café, para os seus nervos preservar

Queria estar bem calminho, bem garboso

Quando chegasse a vez, de parlamentar

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E no caminho preparou todos os dossiers

Sabendo o quanto difícil lhe seria a função

Que o aguardava certo opositor santinho

Pouco esperto, do tipo bonequinho cagão

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Entre as folhas e as páginas ia meditando

Nos problemas que lhe dariam outra OPÁ

E que por muita força, e nem se hesitando

Tirava-lhe a vontade de tomar, uma copa

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Tinha chegado já, ao pomposo parlamento

Chatice, que todos teria de cumprimentar

Entre uns sorrisos acolá, e ares de lamento

Até de um secretário licenciado em bajular

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E lá estava uf, o “coelhones”, todo bonecão

Preparado para o tango ou um passo doble

Uqe em socratina opinião era um “macacão”

Arvorando-se como candidato a título nobre

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Eis que toca a pomposa e marcelina sineta

Anunciando sonora que o recreio terminara

Que estavam todos já armados com canetas

E ainda não era chegada a hora de reformar

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Eia que entra “gamasas” em primeiro lugar

Que sabia como mais ninguém daquele ofício

Era distinto, inflexível, jamais se podia negar

Para além de doutorando na gestão do vício

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Com uma boa tarde, senhores, e senhoras

Deu início à sessão, aos profícuos trabalhos

Que já o País se desesperava, e eram horas

De por de lado jogatinas com certos baralhos

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E começa um ministro, com certa exposição

Sobre uma empresa que haviam de proteger

Pede para gastar os impostos a bem da nação

Porque os nossos amigos, não podem perder

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“Caríssimos deputados, tal como seria óbvio

Teremos total apoio dos nossos concidadãos

Aproveitemos o futebol, como se fosse ópio

Para mais uma vez enchermos o rico coirão”

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Palmas, aplausos nas bancadas da oposição

prevendo no disparate grande oportunidade

de sair do galinheiro, tomar o lugar do papão

e dar tachos aos amigalhaços da irmandade

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Não concordamos, diz o jovem “bernadiscos”

Que a empresa é do povo avante camarada

Abaixo a ditadura toca o mesmo vira o disco

Que as massas populares não vão na jogada

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Senhores deputados as varinas são amigas

Não é justo ir até às lotas sem comprar nada

Gastar bilhões nos navios, e “submarinhas”

E agora esconder do povo mais uma golpada

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E entre cochicho aqui, telefonema disfarçado

Lá se foram gastando as horas do Orçamento

Deixando para outro dia “o” assunto adiado

Que discussões ó, davam vida ao parlamento

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Ia intervir o “primeiro” qu’está em tod’a parte

Sabia mais de venda da banha que não dobra

Que um médico já reformado sabe dum enfarte

Não fosse, exímio vendedor de banha da cobra

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Ó senhores deputados, e senhoras deputadas

Nós crescemos bem e acima da média europeia

E com trancas á porta depois da casa roubada

Sem ser preciso “tangar” ao acaso, volta e meia

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Lutámos a favor da destruição do estado social

Perdão meus senhores queria dizer para salvar

Uma conquista da abrilada, num dia sem igual

E vêm vocês, oposição, o zé povão querer lixar

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Estalou a confusão dentro daquela casa de paz

Que o presidente “cavacadas” teve de promulgar

Um diploma que legalizasse, aquele diz que faz

Pois ao povo assim governado, resta-lhe pagar

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Vai da discussão à risota o estado está na tanga

E com os “meninos” a viverem tamanha galhofa

Um dia não tarda vai daí, o zé-povinho se zanga

E pr’a salvar o País só a Padeira de Aljubarrota.



Cito

Iniciado em Lisboa, terminado no Porto

Agosto 2010


quinta-feira, agosto 26, 2010

Cito Loio,,,

Quando tinha idade para rir, vi muito traste cavando a minha sepultura a céu aberto. Aos que em 25 de Abril de 1974 ululavam de punho ao alto exigindo o nosso enterro na mitra da liberdade, ofereço-lhes o meu fino sabor a sal

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1

quarta-feira, agosto 25, 2010

Solo mia,,,

A felicidade está muitas vezes num sorriso, um café em esplanada tropical, no adormecer ao lado de quem amamos, a sublimação de fazer amor no quarto sabendo o filho já adormecido, ou apenas em sabermos que somos amados.

Cito,



Se fosse hoje até era...


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SENHORA DEITORA

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Ia num passo elegante, e atravessando a rua

Apressada que fora chamada para pousar nua

Que raio Diabo fizera-a toda ela bem gostosa

E a cosmética que ajudava a ser, muito jeitosa

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E Tudo sem excepção parou à sua passagem

Que aquele pedaço, não era só a vã miragem

Que a cabrona do bombom ai era cá um avião

Provocando, nos homens, apertos no colhão

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E também sabia que disso fazia o seu negócio

Que idade não comprava nem o tempo de ócio

Nos descontos, para uma miserável reforma

Não dariam para férias e nem podia ser sorna

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Assim vestido justo e com insinuante racha

Lá estavam os velhos a imaginar a pachacha

E não se importando se a paga feita por cotas

Ou não viesse carimbado pois só queria notas

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Quando de costas a Este, chegou ao passeio

Um velho babado sonhando com seu traseiro

Estatelou-se de bruços, para vós, de queixos

Tendo avançada idade para andar nos eixos

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Mas até eu, um santinho mais que conhecido

Fiquei a olhar o monumento todo embevecido

Confesso, arriscando porem as malas à porta

Que aquele mulherão era uma verdadeira orca

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Claro se sabia não ser uma habitante do Pólo

Mas convidava a deitar-me no seu fofo colo

E como um bom macho moreno tão do latino

Dei-me a pensar que ali havia dedo do destino

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E nenhuma dúvida poderia sequer confundir

Que de ousada tela muitos tiveram que ganir

Pois em dúvida, a matrona era belo exemplar

Dum espécime vivida e que valia a pena amar

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Passados anos, e do tempo de tantas mocadas

Imagino como seria usar-se tão fêmea montada

Que não possuía arreios, ferraduras nem sela

A passear-se sumptuosa, pelo colonato da Cela

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Trinta e sete ou mais, lá voaram com o tempo

Vagueando altivos, ficaram no esquecimento

Para permitir ver sua cara perfeita a gingar-se

Puta fina em ares de quem sabia comportar-se

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Não comparando tempos idos com modernices

Nem justificando um mau gosto com merdices

Digo-vos amigos, meu senhor e minha senhora

Hoje aquela mulher, passaria bem por doutora

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Cito,

Carpan, Valbom

24 de Agosto 2010


terça-feira, agosto 24, 2010

Antigamente era assim...


In Massamá..

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“SOB O CÉU DE MASSAMÁ”

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ENTARDECER EM MASSAMÁ

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Estava decidido que pronto chegava

Mas se eu me atrasasse ela esperava

E num entardecer, já em pleno verão

Viu-me e nem perguntou pelas flores

Apenas disse bem do fundo do coração

Olá, e já cá estás! E que tal de amores!

Dei-lhe um beijo nos lábios pintados

Respondi-lhe, “venho só e para te ver

Que saudades apertam, destes lados

Dispenso qualquer hábito de não te ter

Olha que não te trouxe flores” Desculpei

Respondeu “para quê, és a que sonhei”

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LUA DE MASSAMÁ

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Num jardim de talha verdejante, a Massamá

Parei, aguardando que visses, estava por lá.

E ela viu, pelo negro, solta, de olhar brilhante

Correu a mim, feita fera amestrada saltitante.

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Depois surpresa, reparaste na minha silhueta

O bloco de notas, o sorriso, “crocas”, a caneta

E viste que sob um céu azul ainda estrelado

Chegara o peregrino que não era aguardado.

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Não correste espavorecida para meus braços

Não fizemos tão pouco lindas cenas, abraços

Optando por um inclinar, um sim um consentir

Colhido numa flor do chão num campo a florir.

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Mãos dadas, saímos pelas ruas, pelo passeio

Cantando peripécias de um dia ainda a meio

Ornamentando os cafés com ar de felicidade

Parando ali cadela aqui e olhares de verdade

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Sem beijos ou carícias quem sabe escusadas

Jurámos no silêncio cúmplice, vão de escadas

Aprisionando o respeito num laço feito na trela

Deixando solta quase que a sorrir a tua cadela

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Ela pulando, tu bamboleando, e eu a suspirar

Largámos vastos véus com felicidade pelo ar

Tu misturando a vontade num desejo de fazer

Eu a espreguiçar no elevador vontade de te ter

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Sentados, brandos, abandonámo-nos à fadiga

Estreámos um filme imaginário à moda antiga

Recuperámos anos de paixões desperdiçadas

E adormecemos o sofrimento de mãos dadas.

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Cito,

21 de Agosto 2010

 
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