quarta-feira, abril 26, 2017

PARA LÁ DA JANELA, 1975...

Onde estejas Ary, para as minhas, remédio ainda  não achei


  


PARA LÁ DA JANELA
Memórias do Inácio


Sinto-m’ainda penosamente só, magoado,
não por fora apenas, que dói mais por dentro,
pesares tamanhos que há muito enfrento
sem que para eles remédio tenha achado.
- Da vida fica-me a impressão de estar farto.

Reajo então a rasgos dum duro sofrimento,
fortes simulacros no espesso nevoeiro
que recordo ao ouvir notícias dum tiroteio,
ajustado o grito ante atroador rebentamento.
- A perder de vista ficava o velho largo.

Extinto o corpo, um semáforo q’estremece
ilumina fugitivos de armas a tiracolo;
_ difuso percebo um herói jazido no solo
que outro pedestal, por devido, merece.
- Recordo viagens d’avião comboio e barco.

Uma mulher afaga-mos cabelos, e carinhosa
sem que peça, chega-m’um dos meus cigarros,
que há muito deixara de consumir charros;
_ via-se para lá da janel'uma árvore frondosa.
- Ela, muda, não questiona a q'horas parto...

...


Cito Loio

(Iniciado em Setembro de 1975, meia hora e trinta quando um militar das forças armadas portuguesas me apontou uma G3 à cabeça...
...interrompido a 12 de Abril de 2017 sabendo que talvez nunca o chegue a terminar...)

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