sábado, abril 29, 2017

COM MOLHO DE PIRIPIRI

COM MOLHO DE PIRIPIRI


Acobertada do frio executa passos de dança apresentando o rosto um trejeito estranho. Alinhavo palavras, genuíno apontamento, registo em notas dum passado presente revendo-o nas sombras dispersas pelo soalho. Um passo atrás, ao lado, um outro e avança, em rodopio, e vendo que não me acanho arremessa-me soprado beijo. – Paro o tempo, rebobino os anos em que estivera ausente, jogo a caneta contra o chão; _ e não falho!

Esgotado, resisto, teimo e não adormeço baixa a temperatura, vejo o silêncio que impera no corredor vazio, discreta hospedaria. Fora uma voz ilustra um tango argentino ao compasso de rateres de um Alfa Romeu. Inerte jaz na mesa-de-cabeceira um endereço.

Pago a conta, evito rubricas nome e apelido; _ pelo número 12 os ponteiros do relógio avisam já descer a tarde solarenga. - Mudara o mês e rua fora cruza-se a tristeza com o tráfego, buzina estridente uma travagem repentina.

Corrida uma década não desaprovo o acontecido, e envolto num perfume, sinto que me pisam. Uma mulher elegante fala-me em inglês; _ Hello Nacho! Quase atingido por um látego julguei-me ante alucinações ou uma troça divina.

No passeio em frente o letreiro duma pensão. Tremeluzindo o astro-rei que já se punha desdobrou os lençóis com cores do arco-íris, e a noite fez-se aparecida a pedido da lua.

Passou a Primavera, fez-se anunciar o Verão. Da janela, apreciando carros em cunha saboreio um fino camarões com molho de piris, e sorrio pois esta história bem pode ser a tua.


Inácio
28/4/2017

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