Matumbo...eu!
Memórias de Matumbo
1 de Abril, dia das mentiras resolvi oferecer-vos algo que poderá ter acontecido, ou talvez seja apenas mais uma história do passado glorioso em que só um matumbo como eu acreditaria ser verdadeira.
SEM GARANTIA
Forçado viu-se incapaz de estancar a revolta assistindo ao funeral dos seus conterrâneos que preterindo fugas por subterrâneos iam heróis de guerra sem garantia de volta. No entanto guardara na memória pedidos de socorro toques sem nada a ver com código Morse, mas da caneta escrevendo à consorte do amigo Sequeira, Pais, e do Zé do Gorro. Da densa mata guardara ainda agreste perfume, incómodos zumbidos da mosca Tsé tsé, arquitectónicos morros da formiga Salalé e no cacimbo Brandy junto brando lume conservando porém algo mais importante; _ negra carapinha num corpo de pele macia sedutor bambolear de ancas com magia e no escuro da cubata um grito arrepiante. Peregrinando, e ultrapassada dor a custo afagava tristezas com copázios de bagaço refrescando o desânimo sem embaraço aluguer de cama com pegas de flácido busto. Contando célebres combates pelas tascas prendia a atenção de atónitos ouvintes pouco mais jovens, mas como ele pedintes que ingeriam igualmente bebidas rascas.
Findo Outono Inverno Primavera era o Verão, tempo de férias no Portugal colonizador que as novas gerações fruto duma antiga dor estavam-se marimbando pró novo patrão e vinham esbeltas cabelos já desfrisados, algumas até com eles cor do benemérito ouro ostentando-se filhas dos donos do tesouro corteses vendilhões de barris classificados. Desfile em desfile numa gigantesca passerelle Wanda Prometeu ficava de todas a destoar que o seu sorriso enchia qualquer lugar e o andar digno duma nobre mademoiselle. Desconhecida tumba de mãe, paradeiro do pai, agradece a educação a uma família chinesa (vestes calçado e o que lhe oferecia a mesa) até que um dia teve esta de regressar ‘Xangai, fazendo-se contudo mulher de predicados expressando-se diligente em bom português, sedenta de conhecer alguns dos porquês de ser Europa atractiva à prática de pecados.
Aprendido inglês francês e até o alemão, fazia-se ainda jovem às pistas mediáticas deitando pró esquecimento cenas dramáticas ao aprender não existir futuro em 2ª mão… Descida em terras de bom acolhimento apreciando o aeroporto, sorriu, via-se feliz; _ não lhe escaparia um lugar de actriz ou não fosse como mulher um monumento. Rendeu-se lusíada terra à nova locutora percorrendo-o numa anunciada digressão tomando nome artístico “Wanda Leão” dizendo entrevistada nome da progenitora.
Escutando o dito na TV Rosalino estremeceu. O aspecto da rapariga era-lhe familiar como era inconfundível tão expressivo olhar, avivando-se-lho nome de Josefa Prometeu, transbordada a mente por rios de incredulidade, e perante gritos de “sangue do meu sangue”, deixou tombar a cabeça já inerte e exangue trespassado por cúpidas setas de saudade. Pode mais a vontade que seu parco recurso atirando-se o homem com destino incerto posta a dúvida se algum dia dela chegaria perto ou se o aceitaria no final do árduo percurso, e rompido um sábado em tarde solarenga quis o destino que acontecesse o encontro sem acautelar se Rosalino estaria já pronto para receber Wanda Prometeu de prenda.
Passeando com um amigo pela cidade do Porto resolvemos, chegados à praça dos Aliados tomar mos um café, e rindo descuidados escutei esta história pela boca de João Corvo. Tempos mais tarde, vestido na pele de Cito, partilho este conto percebendo-se afinal nem só de terror se viveu o tempo colonial, e a prová-lo, isto que aqui vos trago escrito.
As histórias nem sempre se fazem de incógnitas, e esta, por força duma mera casualidade, tinha marcada um final pleno de felicidade por haver quem ostentasse forças faraónicas, e corridos dez anos do café tomado com Corvo celebrava este a chegada de uma neta, de aparência, disseram-me, mestiça pela certa que só para gente vil constituiria estorvo. Tardou mas vim a saber que Segismundo casara com a filha de Josefa Prometeu, ela crente, ele declarado um convicto ateu nascido numa zona que chamavam Bailundo.
De narrações como a presente, assaz irrelevante, e que não posso garantir ser verdadeira, existem diversas ornadas da mesma maneira, mas que a memória só pelo silêncio o garante.
Do Inácio ao Cito Loio
28 a 31de Março 2017
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