terça-feira, agosto 25, 2015

Já me tombo


(…das lágrimas que fui perdendo e os amores da minha vida; - como tu pai, também amei uma por toda a vida sem nunca o confessar; hoje às portas de seguir teus passos, digo ter sentido o afago das suas mãos quando me acariciava o destino através da pele do seu ventre) 


***


Esta era a tua ária na voz de Gigli e esta é a minha, numa versão moderna igualmente dilacerante, que quero tocada na hora que este teu filho diga adeus.
 .

 .
JE CROIS ENTENDRE ENCORE
.
Je crois entendre encore,
Caché sous les palmiers,
Sa voix tendre et sonore
Comme un chant de ramier!
O nuit enchanteresse!
Divin ravissement!
O souvenir charmant!
Folle ivresse! doux rêve!
Aux clartés des étoiles,
Je crois encore la voir,
Entr’ouvrir ses longs voiles
Aux vents tièdes du soir!
O nuit enchanteresse!
Divin ravissement!
O souvenir charmant!
Folle ivresse! doux rêve!
Charmant souvenir!
*
POR SÓ, JÁ SE TOMBA...
*
*
Acorrentei-me mais de quarenta anos
digladiando escusados enganos,
inúmeros crimes que ficaram por punir
e mulheres que mal sabiam mentir

Sei de dois filhos, ímpar tesouro de resto,
sangue do sangue que não contesto;
_ enlaçada a saudade única companheira
s’entardece quando a noite já se abeira

Aceite as equivocações, chegada ‘altura
ver-se-á pelo diáfano, qual branca pomba
carente de ti o corpo que por só já se tomba…

e suportando o silêncio por cobertura,
corrijo mil promessas sem sentido
esfumadas ante a morte, (eu) já vencido.


Cito Loio
Agosto 2015








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