terça-feira, abril 15, 2014

RIOS SEM ONDAS

Preferia não o ter escrito, sorrir de braço dado com a liberdade, galopar nas asas da democracia... preferia preferir a preterir....viver num país soberano, onde se sorteasse sorrisos em vez de carros de luxo, ter défice de 10% a pagar o que não devemos, eleger políticos que respeitassem quem os elege, não votar para o parlamento europeu, e acima de tudo não houvesse sopa dos pobres, misericórdias, tribunais, prisões, loatarias, totolotos, funerais em disputa, 

Preferia ter Casas para Sem-abrigos em vez de Panteões para mortos...
 
Preferia que os Rios não tivessem ondas...








UM RIO SEM ONDAS


Nas ondas do rio Tejo
vejo imagens se Sarajevo;
_ ouço e vejo desgovernados
cavalos de ralas crinas,
rota bandeira das quinas,
gritos de pais desgraçados

Nas ondas do rio Guadiana
vejo rota ‘vontade soberana,
crianças q esmolam pão
a políticos sem vergonha
artilhados de graça e ronha
desonrando a profissão.

Nas ondas do rio Mondego
vejo arrogâncias dum labrego,
homem velho ultrajado,
entre ondulações da populaça
à miséria achando graça
ao dançar a toque de cajado.

Nas ondas do rio Sado
vejo uma revolução a saldo,
traições a Vila Morena,
o mesmo chão arado
a sangue e suor fertilizado
baladas q já não metem pena

Nas ondas do rio Minho
vejo trilhado caminho
para terras de Compostela,
filhos q partiram, outros não,
mães ‘lavar pratos c’ aflição
à trémula luz da vela

Nas ondas do rio Douro
vejo ‘placar c’ manso touro
que não está embolado
nem exibe na ponta do corno
sangue q cobria o corpo
do último homem toureado.

Nas ondas do Cuanza ao Bengo
ah!_ nada vejo mesmo lendo
notícias da minha mãe;
_ mas vejo d’espelho a tristeza
de um poeta que à mesa
pinta a dor como ninguém…

E no íntimo do seu único rio
sente ‘poeta advir o frio
molhado pela maré da velhice
em q silenciado por ausente
finta a vida por descontente
legando escrito tudo o q disse

Cito Loio

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