quinta-feira, janeiro 03, 2013

´Mil e cem milhões...só!



SÓ 1.100 MILHÕES…!


O ano corria satisfatoriamente para uns, às mil maravilhas para poucos, e desgraçadamente para a maioria da população que participava nos Jogos Extra Fronteiras. Portugal, país mergulhado na indecisão, lá ia pedindo aos seus filhos que fizessem das tripas coração e apoiassem a selecção e os clubes de futebol nas competições europeias, única coisa que verdadeiramente dava alegria e prestígio à “naçon” e impunha “respêto” internacional – tudo o resto consistia em jogadas de ping-pong do mais fraco nível que se possa imaginar, bastando para tal perceber as jogadas do tipo BPN, a confusão que ia na mente das pessoas com a privatização da TAP, a venda escandalosa de tudo que dava lucro ao Estado, e por artes mágicas passava a dar prejuízo, e de imediato num big negócio, mal adquirido pelos chineses que por sua vez eram amigos de longa data dalguns influentes mandões da província lusitana.

Toda a realidade do país parecia circular ao largo do grupo reunido no grande salão, sem vistas para o rio para que não se constipassem, mobilado com requinte certamente pago com o dinheirinho dos pequenos contribuintes, ou com avultadas somas da economia paralela, que por sua vez sacava avultadas somas à banca fazendo com que esta viesse pedir apoio ao Estado, sabe-se lá porquê, numa espécie de tômbola gigante onde o pagante circense ficava a ver navios, sofrendo na pele as decisões aprovadas em conselho de ministros, aplaudidas numa AR e que, só para inglês ver teriam o veto presidencial; tudo tropa ‘fandanga’ legitimamente eleita mas de duvidosa seriedade.

Mas eram poucos os que naquela tarde solarenga e fria se entretinham à volta da mesa oval a tender para rectangular, lançando dados, comprando e vendendo possessões, e como manda a sapatilha governativa a ultimar acordos.

«Tu ficas com a EDP e com as Águas, o primo com o Vento e a ANA e eu assumo a responsabilidade do aumento de Impostos dado que tenho o poder omnipotente de baixar Salários dos porteiros das escolas públicas, dos polícias sinaleiros, professores reformados e deficientes das forças armadas, ao mesmo tempo que subirei a taxa de juros dos grandes depósitos bancários isentando as mais-valias!»

Ninguém dentro da sala compreendia esta última medida, mas também não era essa a sua missão. Desde que certos privilégios ficassem incólumes e o dinheirinho voasse a salvo para os Off Shores que se lixasse a escumalha que trabalhava no sector empresarial do estado, no privado e na função pública em geral. Era maneira do chefe do grupo dar alegrias aos Mercados.

«E como fica a educação e a saúde? – Isso é treta, o povo não precisa de Educação precisa de Cinturão, e quanto a saúde uns Óbitos extra suavizam o custo das reformas - só que assim não se vendem medicamentos e lá se vai o meu negócio na farmacêutica – claro que fumar mata mas nós não podemos fechar as fábricas, mas aproveitemos para incentivar e comparticipar a venda de medicamentos que ajudem a deixar de fumar.»

As gargalhadas de prazer que se escutavam até na cozinha, eram prato forte indicador que a reunião corria às mil maravilhas.

Fora, na rádio, passava um programa sobre a intervenção da ONU acerca da exigência feita a Portugal para que este “estragasse as colónias” promovendo a auto-determinação ao qual Adriano Moreira elucidava que o governo, neste caso Salazar pois o “botas” é que mandava e nesse tempo os ministros não andavam a ‘cantar’ para as Tv’s, respondia que os territórios em causa eram Províncias Ultramarinas daí que a escumalha que vivia à custa do dinheiro vindo, sabia-se donde, fosse pregar para outra freguesia, aliás “exactamente como se faz actualmente em relação à Troika europeia”. Sem o dizer e, (como diria Jô Soares já dizendo), ficava subentendido que a guerra estalada em1961fora patrocinada pelos países que nos davam palmadinhas nas costas, que no fundo as riquezas daqueles territórios eram demasiadamente importantes para que se preocupassem com o ‘nêgo’ facto nada preocupante 52 anos depois.

Os ‘cavalheiros’ reunidos na saleta não se preocupavam com a ciência da governação, mas sim com a gestão dos seus próprios interesses como se o país fosse uma propriedade latifundiária, onde tirando capatazes e administradores o resto dos 10 milhões eram reses.

E mais risinhos ouviam-se entre sons musicais dum grupo feminino que se confundia com os ABBA mas de menor qualidade porque faltava “o tal barítono”.

Desesperada com as horas e o tempo de duração do forrobodó, necessitando de sair, a “dona de casa” não esteve com meias medidas e abrindo a porta da sala, em voz austera, largou o aviso à navegação:

-  Pedrito, Vitinho, e Miguelito o lanche está pronto e os meninos façam o favor de arrumar o Monopólio, lavar as mãozinhas e todos para a mesa – não quero ver nenhuma peça fora da caixa.

Emanadas as ordens Dona Ângela virou as costas e saiu toda lampeira sabendo que as ordens seriam cumpridas, ou não fosse quem comprara o jogo e o velho e fiel mordomo Aníbal tomaria conta da ganapada. Nesse preciso momento escutava e via na TV a chanceler alemã de punho no ar tipo “heil adolf” – «quero uma Europa» – fiquei estarrecido com a lady pensando, independente da etimologia da palavra, culturalmente fora referido um continente com várias nações e que não tinha dona, muito menos uma dengosa armada em macho. Ainda o espanto não dissera adeus a locutora anuncia que o governo ia injectar 1.100 milhões no Banif!

Longe no fundo da rica propriedade o homem da cavalariça terminava o seu último poema, só conseguindo pensar se teria sido mesmo Caim que matara Abel!!!

FINE

ERA MUDO

 Comiam suculento cabrito assado
regado, constava no tempo, c’ tinto
na taberna de vasseleu absinto
homem mui sério e sempre calado.

Vendia rabanadas, com amendoim
para enfeitar as mousses de chocolate
- Dizia Proteu ninguém o maltrate
só ele sabe da história d’ Abel e Caim

Jurava q Abel batera a bota de repente
não de enfarte ou males de cirrose
provocados por uma tal água ardente

De passagem bíblica, até comove,
mas não a certos filhos da mãe
Cains, que nunca perdem a pose


    

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