´Mil e cem milhões...só!
SÓ 1.100 MILHÕES…!
O ano corria
satisfatoriamente para uns, às mil maravilhas para poucos, e desgraçadamente
para a maioria da população que participava nos Jogos Extra Fronteiras. Portugal,
país mergulhado na indecisão, lá ia pedindo aos seus filhos que fizessem das
tripas coração e apoiassem a selecção e os clubes de futebol nas competições
europeias, única coisa que verdadeiramente dava alegria e prestígio à “naçon” e
impunha “respêto” internacional – tudo o resto consistia em jogadas de
ping-pong do mais fraco nível que se possa imaginar, bastando para tal perceber
as jogadas do tipo BPN, a confusão que ia na mente das pessoas com a
privatização da TAP, a venda escandalosa de tudo que dava lucro ao Estado, e
por artes mágicas passava a dar prejuízo, e de imediato num big negócio, mal
adquirido pelos chineses que por sua vez eram amigos de longa data dalguns
influentes mandões da província lusitana.
Toda a
realidade do país parecia circular ao largo do grupo reunido no grande salão,
sem vistas para o rio para que não se constipassem, mobilado com requinte
certamente pago com o dinheirinho dos pequenos contribuintes, ou com avultadas
somas da economia paralela, que por sua vez sacava avultadas somas à banca fazendo
com que esta viesse pedir apoio ao Estado, sabe-se lá porquê, numa espécie de
tômbola gigante onde o pagante circense ficava a ver navios, sofrendo na pele
as decisões aprovadas em conselho de ministros, aplaudidas numa AR e que, só
para inglês ver teriam o veto presidencial; tudo tropa ‘fandanga’ legitimamente
eleita mas de duvidosa seriedade.
Mas eram
poucos os que naquela tarde solarenga e fria se entretinham à volta da mesa
oval a tender para rectangular, lançando dados, comprando e vendendo
possessões, e como manda a sapatilha governativa a ultimar acordos.
«Tu ficas com
a EDP e com as Águas, o primo com o Vento e a ANA e eu assumo a responsabilidade
do aumento de Impostos dado que tenho o poder omnipotente de baixar Salários
dos porteiros das escolas públicas, dos polícias sinaleiros, professores
reformados e deficientes das forças armadas, ao mesmo tempo que subirei a taxa
de juros dos grandes depósitos bancários isentando as mais-valias!»
Ninguém dentro
da sala compreendia esta última medida, mas também não era essa a sua missão. Desde
que certos privilégios ficassem incólumes e o dinheirinho voasse a salvo para
os Off Shores que se lixasse a escumalha que trabalhava no sector empresarial
do estado, no privado e na função pública em geral. Era maneira do chefe do
grupo dar alegrias aos Mercados.
«E como fica a
educação e a saúde? – Isso é treta, o povo não precisa de Educação precisa de
Cinturão, e quanto a saúde uns Óbitos extra suavizam o custo das reformas - só
que assim não se vendem medicamentos e lá se vai o meu negócio na farmacêutica
– claro que fumar mata mas nós não podemos fechar as fábricas, mas aproveitemos
para incentivar e comparticipar a venda de medicamentos que ajudem a deixar de
fumar.»
As gargalhadas
de prazer que se escutavam até na cozinha, eram prato forte indicador que a reunião
corria às mil maravilhas.
Fora, na rádio,
passava um programa sobre a intervenção da ONU acerca da exigência feita a
Portugal para que este “estragasse as colónias” promovendo a auto-determinação
ao qual Adriano Moreira elucidava que o governo, neste caso Salazar pois o
“botas” é que mandava e nesse tempo os ministros não andavam a ‘cantar’ para as
Tv’s, respondia que os territórios em causa eram Províncias Ultramarinas daí
que a escumalha que vivia à custa do dinheiro vindo, sabia-se donde, fosse
pregar para outra freguesia, aliás “exactamente como se faz actualmente em
relação à Troika europeia”. Sem o dizer e, (como diria Jô Soares já dizendo),
ficava subentendido que a guerra estalada em1961fora patrocinada pelos países
que nos davam palmadinhas nas costas, que no fundo as riquezas daqueles
territórios eram demasiadamente importantes para que se preocupassem com o
‘nêgo’ facto nada preocupante 52 anos depois.
Os ‘cavalheiros’
reunidos na saleta não se preocupavam com a ciência da governação, mas sim com
a gestão dos seus próprios interesses como se o país fosse uma propriedade
latifundiária, onde tirando capatazes e administradores o resto dos 10 milhões
eram reses.
E mais
risinhos ouviam-se entre sons musicais dum grupo feminino que se confundia com
os ABBA mas de menor qualidade porque faltava “o tal barítono”.
Desesperada
com as horas e o tempo de duração do forrobodó, necessitando de sair, a “dona
de casa” não esteve com meias medidas e abrindo a porta da sala, em voz
austera, largou o aviso à navegação:
- Pedrito, Vitinho, e Miguelito o lanche está
pronto e os meninos façam o favor de arrumar o Monopólio, lavar as mãozinhas e
todos para a mesa – não quero ver nenhuma peça fora da caixa.
Emanadas as
ordens Dona Ângela virou as costas e saiu toda lampeira sabendo que as ordens
seriam cumpridas, ou não fosse quem comprara o jogo e o velho e fiel mordomo
Aníbal tomaria conta da ganapada. Nesse preciso
momento escutava e via na TV a chanceler alemã de punho no ar tipo “heil adolf”
– «quero uma
Europa» – fiquei estarrecido com a lady pensando, independente da
etimologia da palavra, culturalmente fora referido um continente com várias
nações e que não tinha dona, muito menos uma dengosa armada em macho. Ainda o
espanto não dissera adeus a locutora anuncia que o governo ia injectar 1.100 milhões
no Banif!
Longe no fundo
da rica propriedade o homem da cavalariça terminava o seu último poema, só
conseguindo pensar se teria sido mesmo Caim que matara Abel!!!
FINE
ERA MUDO
Comiam suculento cabrito
assado
regado, constava no tempo, c’
tinto
na taberna de vasseleu
absinto
homem mui sério e sempre
calado.
Vendia rabanadas, com
amendoim
para enfeitar as mousses de
chocolate
- Dizia Proteu ninguém o
maltrate
só ele sabe da história d’
Abel e Caim
Jurava q Abel batera a bota
de repente
não de enfarte ou males de
cirrose
provocados por uma tal água
ardente
De passagem bíblica, até comove,
mas não a certos filhos da
mãe
Cains, que nunca perdem a
pose
Sem comentários:
Enviar um comentário