sábado, abril 17, 2010

Tugálias

Que se lixe o que me chama


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Nunca me importei, nunca senti mágoa pela cor com que me pintaram a pele e a alma, nem me arrependi dos sentimentos que ofereci.

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Deambulei pela infância curtindo as palmadas de primas, arrepiei-me enrolado a elas nas relampejantes noites de trovoada, sentindo o seu coração bater e o seu respiro acariciar-me a rebeldia – e em cada noite, em cada tarde, em cada correria gravei a minha própria revolução.

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Fui em criança o exemplo acabado da revolta sem sentido, o “gitano” cor de chocolate, o bombom nunca derretido. Atirei-me de pára-quedas agarrado a guarda-sóis – rebolei pelas escadas das feridas, bramindo laços de cowboys pistolas, arcos de índios, espadas de El Cid o Campeador, selvagem em cada atitude de rebeldia, nas lutas e nos choros tropeçando caindo mas levantando-me a cada rasteira.

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Saltei para a infância, entre gritos e momentos de agonia de dor e de amores nunca conseguidos. Fui tantas vezes um viveiro de indecisões enchendo o meu inconsciente de temores, de mantos brancos salpicados de estrelas douradas pelos sorrisos de quem amei sem ser amado. E corri pelos mesmos vales de outrora, com o mesmo sentido, sem olhar a direcção em que ficava o precipício continuando a decidir entre o que queriam de mim e o que podia dar; e sempre dei o que pude e nunca o que de mim exigiram.

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De salto em salto, entrando por revoluções interiores, contendo a vontade que me impelia para a louca dança de uma vida vadia, cresci apontando um caminho que nunca soube a que paraíso me levaria.

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Olho para lá da alma contemplo o meu próprio éden esperando que não tenham bombardeado todos os paraísos e que tenham deixado algum para os meninos como eu; não me importo de o partilhar “consigo”, mesmo que me chame cigano...

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E você! esboce um sorriso e diga que também não se importa que lhe chamem cigano!!!

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