Pedaços da minh’alma
Mal acostumado
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| Havia eleições no burgo nacional para o parlamento Europeu, e lá fui votar .
Ia bem disposto, brinquei com as meninas que estavam na mesa de voto. «Este papel reciclado é grosso! Com metade do custo faziam o dobro dos boletins».
Sorriram, concordaram – eram jovens, pré-emancipadas, “crentes”, de uma crença sadia. “Lá chegaria o tempo da desilusão”, pensei.
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Regressei a casa, pensei nela, não liguei nem enviei nenhuma mensagem. - Queria comprar pão… «não sabia o que comeria, mas manteiga não seria certamente».
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Eu estrangulara as dúvidas, renascera, tornara-me definitivamente mais eu, e cantarolei ouvindo mais uma vez um clip que gravara no realplayer no dia cinco de Maio de um ano que não me recordo.
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Me sobran mil sonrisas agradables
Ser simplemente yo, definitivamente
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Peguei novamente no livro de uma escritora amiga, reli o fim o prefácio e escrevi “en el rincón del alma” uma referência ao enxerto da contra-capa
«Há maior gozo do que ter uma relação secreta…?»
«Maior é o meu gozo, o de voltar a amar à luz da inveja dos homens, fazê-lo de uma forma aberta, sem “ter de limpar “basuras en el cielo”»
«Há maior gozo que conquistar a mulher do outro…?»
Assinalei:
«Muito maior é o meu, o gozo de poder amar uma mulher que muitos quiseram e não souberam amar»
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Finalmente adquirira a certeza que só perdemos o que é nosso, e que um homem fica perdido quando se confronta com a força do presente contida num passado tão longínquo e tão perto.
Sabia que nunca mais a perderia, mas que nunca seria minha – pertencia a si mesma, à sua identidade, às suas “lonjuras e loucuras”. Era o espelho de uma força viva, disposta a marcar o seu espaço, eu seria o seu “índio” que voltearia a sua fortaleza montado num cavalo selvagem, sem sela, sem artefactos.
Estava disposto a correr pela pradaria do seu corpo, receber o pousio da sua ex fertilidade, amar sem amarras, sem limites – entregar-me sem receitas, sem preço e sem regatear prazeres - a fazê-lo simplesmente porque a encontrara.
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Lembrei-me de uma história contada por McKinnon em 1981.
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Poderia ter sido muitas coisas na vida, mas importava-me no momento ser apenas eu – estava feliz, quem sabe se de parcas razões, mas sentira que chegara ao “fim do princípio” do princípio de reconhecer os erros passados.
Não sabia se os voltaria a repetir! Também podia a qualquer momento receber a sua visita, para me dizer apenas, sem penas e com a frontalidade que lhe exigiria.
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– “Meu querido, afinal não te amo…”
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