quinta-feira, julho 13, 2006

o Talento


O Talento e a sua detecção
Posso quase sempre perceber a ideia de talento, ligada à imagem motora que os jovens apresentam quando colocados perante a resolução de tarefas com alguma, mas pouca complexidade.
A forma como os jovens se relacionam com os problemas, a desenvoltura motora, a habilidade primária decorrente da primeira abordagem, a relação imediata com os objectos disponíveis levam-nos por vezes a definir um determinado estágio do desenvolvimento, como sendo a exteriorização de um talento.
Nesta perspectiva, balizei os “meus/nossos” critérios de observação na análise visual, segundo uma determinada construção arquitectónica, que tem por base, um conceito técnico e tradicional.
Poucas vezes, a observação é acompanhada pela recolha de dados, essencialmente, os do universo cognitivo

Devemos equacionar se verificámos o que se define nos quatros pontos abaixo mencionados, quando nos propomos à tarefa de detectar talentos
1- Número, e tipo, de observações razoáveis
2- Espaço de tempo em que decorre a observação e acompanhamento
3- A idade dos observados
4- Idade/maturidade/experiência dos observadores

Se tivemos em conta a realidade face ao meio em que no futuro as repostas deverão ter lugar, em duas frases definimos e resumimos detecção de talento:
Quantificação dos actos de observação
Qualidade de critérios de observação
Dentro desta perspectiva formulo estas seguintes questões:
-
Com que idade se deve dar início à detecção dos talentos.
-Durante quanto tempo devemos manter os jovens sob observação
-Em que situação se deve colocar o jovem, para aproximar a resposta ao pedido?

Vou mais longe…
Terão todos os que se querem observar, o mesmo tempo de prática orientada, as mesmas “armas”, as mesmas condições, as mesmas oportunidades, e poder-se-á afirmar, se dois indivíduos com a mesma idade deverão ser sujeitos ao mesmo tipo de grelha de observação?
A dificuldade na seriedade de uma detecção de talentos, está também subordinada ao próprio crescimento do ser humano, incluindo factores sexuais e consequentes perturbações, que cá pela nossa modalidade, parece ser tabu ou sacrilégio abordar este tema.

É difícil e até perigoso situar a detecção em simples observações ou análises predeterminadas, não levando em linha de conta a própria cultura e hábitos já estabelecidos.
Não só é perigoso, como falível, e, para além de poder conduzir ao fracasso, pode vir-se a cometer injustiças para com outros jovens, aos quais não iremos dar oportunidade de naturalmente,
ultrapassarem os diversos estágios do crescimento e desenvolverem o direito de liberdade de escolha.

Quando Começar e Razões
Não somos nós que decidimos quando estão os outros prontos
Devemos começar aos seis, dez ou doze anos a detecção? Quando devemos iniciar a exclusão daqueles que se considere inaptos, menos dotados, ou mesmo indesejados no universo das pessoas que queremos ver evoluir.
Temos ou não esse direito?
Pensar que não, que a decisão de nos acharmos “Deus” não nos cabe a nós, é um acto de inteligência e sensatez.
Os jovens têm uma vida longa se não forem criadas barreiras inadequadas à sua dimensão; na fase adulta terão muito tempo para criarem complexos e traumas desnecessários.
Como evitar que se percam os melhores, e como agradar aos menos dotados? Provavelmente criando-se um sistema contínuo de observação consciente, ir recolhendo dados, comparando cada jovem consigo mesmo, e competindo com outros, sempre e quando necessário. Este poderá ser um caminho.

A necessidade de detectar talentos, e, ou, para que os queremos.
Não restam dúvidas que procuramos os jovens que têm mais qualidade para os formarmos, treinarmos, e os conduzirmos ao profissionalismo, ao estrelado, à alta competição, alto rendimento, ao mais alto nível de exigência desportiva.
É isso que o país espera; espera ver medalhas.
Mas também, para nos congratularmos e beneficiarmos dos frutos e
benesses do trabalho e do que advêm do sucesso alcançado.
Se não houver dúvidas sobre isto, dever-se-á então reflectir o que é o profissionalismo, a alta competição, e em que idade se dá por norma a entrada nesse universo, que é
a grande montra onde se espelham os verdadeiros talentos.
Seguramente entre os 18 e os 20 anos, para um período de mais ou menos dez a doze anos como profissional
Contudo não se pode esquecer, que esta profissão vale pela prestação de cada um, num circuito profissional constituído por torneios;

O Torneio e o Talento para Competir
Será o TORNEIO, o meio em que futuros profissionais terão de demonstrar as suas competências, enfim o seu talento.
Importará então que o talento seja procurado na vastidão dos elementos que queremos ver optimizados, e em que, seguramente a “competição” é o elemento mais determinante, ou seja, sob o inovador conceito de:
Detectar o talento para a competição
Por isso o que está em causa é essa capacidade, coadjuvada com todo o trabalho desenvolvido para que, alguém consiga exteriorizar e rentabilizar ao máximo todas, mas todas, as suas potencialidades.
Assim não repugnará a certeza da afirmação que,
um talento é, alguém que teve ao longo da sua existência, a oportunidade de demonstrar todas as suas virtudes e defeitos, e no fundo, que todos pudessem ver e reconhecer o seu “talento”.

O “talento” para as execuções técnicas, capacidades físicas, etc. poderá não ser bastante para se considerar alguém com talento na arte e inteligência de julgar as “situações”, tomar as “atitudes” convenientes e por fim, demonstrar que se é capaz de
assumir o compromisso da “decisão”
Alguém que tem tudo, e que ainda encontra espaço para estes três conceitos, será, se a sorte estiver do seu lado, um talento.

É por isso uma tarefa árdua e inglória às vezes, andar à procura de talentos, sem se ter, em primeiro lugar a ferramenta necessária para que essa dádiva se declare.
Durante muitos anos os modelos implantados em Portugal, e ue parece subsistirem, não permitiram com segurança, ajudar que cada jovem descobrisse e demonstrasse o que há dentro de si.
Para que isso aconteça, é fundamental um quadro de oportunidades, de “competição”, ajustado à realidade dos tempos modernos, mas acima de tudo,
flexível, recuperador, temporal, e, naturalmente selectivo.

As divisões etárias regulamentadas, por si, demonstram que a rigidez não facilita o desenvolvimento; o 1º Escalão, o da formação básica inicial, que contempla toda a infância é por definição limitativo, quer na observação quer na exigência.
O 2º e 3º escalões infantis (13/14 anos) até cadetes (15/16 anos) são escalões de transição, complexos e coincidentes com a puberdade e a adolescência de acordo com os critérios tradicionais, e, essa transição alcança quase sempre o escalão júnior (17/18 anos) abrangendo o espaço temporal para a definição da personalidade e do projecto de vida que se deseja abraçar.
Dar-se tempo, entre os 4/6 anos e os 16/18 anos que os talentos se declarem é uma medida inteligente e certamente eficaz.
Pelo caminho ir-se-ão em cada um, encontrar talentos diversos, para diversas exigências; talvez na observação de cada pormenor, ou seja, nos actos talentosos, devamos procurar as respostas para o nosso objectivo final, que é fazer evoluir e existir o talento para o jogo de ténis, que mais não é que um:
Um confronto de atitudes e decisões.

Se acaso encontrarmos dois indivíduos em confronto, com qualidades e oportunidades similares, sairá vencedor aquele que, tendo mais sorte, conseguir:
Ter melhor atitude durante o mais tempo possível
Escolher a decisão certa no momento certo
Resulta ser então uma tarefa inglória detectar talentos de forma superficial, sem objectivos e no caso português, até ao momento, sem meios.

Quero acreditar que se pode ainda dotar o país de meios para que, de observação em observação, se vislumbre, ENTRE CONFRONTOS DIRECTOS, sinais da existência ténue de um talento.

Adolfo Oliveira
Telavive, 2002

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