Homem por antecipação.
Um dia em Angola tornei-me Homem por antecipação.
De armas empunhadas fiz-me à maioridade sem idade para ser reconhecido adulto mas com anos suficientes para morrer de balas trespassado.
Antes, em loucuras sobre um palco dançara (child in time) guerra entre o bem e o mal onde me equivoquei ao coreografar a vitória do Bem, desconhecendo que o Mal (afinal não morreria) e seria pela vida fora o maior inimigo do homem. Um dia porém, sem penas, gritei meu destino pode ser igual ao de meu avô Adolfo, mas será o meu e dele só eu terei cuidados!
Mais tarde, sem Fé vi-me sem Lar, sem Família sem Amigos, perdido numa terra cheia de gente tão ingénua como eu, que acreditou que a Liberdade é poder dizer o que vai na cabeça chocando essa liberdade com a dos outros - estágio a que denominaram de Democracia.
À minha terra de nascimento, 41 anos depois de me ter iniciado na arte de carregar caixotes na Ponte Aérea que embelezou a Descolonização, sem temor digo que voltaria a carregar o mesmo fardo.
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Aos meus irmãos e irmãs de peito ofereço...
SEM ZAGAIAS C’ SETAS
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Atravessei a infância em sapatos de couro
às vezes correndo descalço pela praia,
brancas sapatilhas em jogos de bola ao luar
feitos os teams sem catalogar ‘cor da pele.
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Crescendo, chamaram-me «índio, mouro,
filho de puta vai com gajos da tua laia
cão rafeiro», sem que me ouvissem ladrar,
sustendo ‘ódio que a um homem impele.
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E foram inúmeras ‘vezes, até na novilhada,
me observaram titã, e de olhos irrequietos
ganhar coragem para dizer u’ dia «pai basta…
…não me sento à mesa c’ gente deformada
que preparam guerras sem zagaias com setas
para aniquilar os da minha própria casta!>
(- Memórias que não ouso querer omissão,
nem pedirei do passado sequer remição)
Cito Loio
(Inácio)
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